Depois de algumas semanas com os ponteiros bastante preenchidos, uma pausa para deixar o pensamento perambular pelo teclado. Há umas três semanas, participando de um evento acadêmico, um dileto mestre citou uma fala de um dos grandes nomes da literatura francesa. Victor Hugo. Em seu discurso ele falava sobre os sonhos. “Não há nada como os sonhos para criar o futuro”. Concordo. Mas a coluna de hoje não é sobre sonhos.
O aclamado autor, lá no século 19, já trazia reflexões que são indispensáveis para a contemporaneidade. Entre elas, os recados da natureza. Diante do que acontece no Sul do País, é inevitável não lembrar de um trecho dos Cadernos de Victor Hugo em que ele diz que “é triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve”. A coluna também não é sobre os desastres ambientais.
Pois bem, aquela fala na Universidade me fez revisitar uma obra emblemática do escritor francês. Os Miseráveis (Les Misérables). Livro que virou filme, musicais, peças teatrais, pela robustez de seu roteiro e pelas incontáveis mensagens que nos traz no campo da política, justiça social, redenção e amor. Esta última é minha escolha. O amor.
Destaco uma frase do autor para ilustrar o amor paternal de Jean Valjean por Cosette e a devoção de Marius por Cosette, personagens da obra.
“A suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é, ou melhor, apesar daquilo que você é”.
Fiquei com essa frase na cabeça desde então e no domingo à noite ela justificou esse tempo todo em que esteve sendo lembrada.
Esse preâmbulo tão amplo (reconheço) aporta no final de semana que passou, em que milhares de pessoas celebraram o Dia das Mães. Uma data comercial, é fato, mas que reúne também um sentido profundo e importante que é o amor das mães. Jamais vou conseguir traduzir a representação desse amor e dos incontáveis exemplos espalhados por aí. Trago aqui o meu recorte.
Depois de passar o sábado e o domingo com minha mãe (de quem moro distante há quase 30 anos) publiquei uma foto nas redes sociais em sua homenagem. Uma foto sem filtros, feita com o celular, depois daquele almoço caprichado. Minha mãe sorria com a alma por poder reunir os três filhos e celebrar a data da maneira que ela mais gosta. Alpendre cheio, mesa farta, gargalhadas, implicâncias. Um banquete de amor.
Já à noite, depois que cheguei em casa, vi a resposta de minha mãe à fotografia. “Eu amo ser sua mãe”. Naquele instante a frase de Victor Hugo ascendeu em minha mente e acendeu o meu coração. Pude sentir cada palavra escrita pelo gênio da literatura. Era a arte falando ao coração. Repito a frase:
“A suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é, ou melhor, apesar daquilo que você é”.
As mães sabem bem entregar esse amor. Sorte dos filhos que podem receber esse sentimento. É algo genuinamente celestial. Uma felicidade suprema. Ser amado sem reservas. Pelo que você é. E apesar do que você é. Tenho inúmeras afinidades com minha mãe (sou o filho preferido). Também temos as nossas diferenças. E isso não pesa na balança do amor.
Parabéns a todas as mães que cumprem essa missão tão nobre, tão linda, tão poderosa, tão desafiadora. Quase sobrenatural. Vocês são merecedoras de todas as homenagens.
Dedico a coluna dessa semana (mesmo com atraso) à minha mãe, dona Francy.