21 anos de carreira, o jovem loiro e franzino – que parecia uma bruxa – viveu a vida intensamente. Francisco das Chagas Marinho curtiu a glória e morreu na melancolia.
Em 8 de fevereiro de 1952, nascia em Natal/RN, Francisco das Chagas Marinho. Era o caçula entre nove irmãos de uma família humilde que vivia em Macaíba/RN. Passou boa parte da infância e adolescência aprendendo a se equilibrar no campo de lama perto da casa. Dizem os colegas que fazia todos os adversários caírem no chão.

Marinho contou em uma longa entrevista para o Museu do Futebol que era gandula do Riachuelo - um time da Base Naval de Natal. “O time da Marinha jogando, eu ia pegar a bola... O campo tinha uma descida, que a bola caía na maré, no rio Potengi.E daí eu pegava a boia, pegava... almoçava na Base Naval. Então passava o dia dentro do campo”.

Confira a seguir a história Marinho contada através de uma linha do tempo:

1967

  • Um talento natural
  • Foi o talento natural em partidas amadoras que fez brilhar os olhos dos dois descobridores do talento potiguar: o sargento Silveira e o irmão, tenente Castro, ambos da Marinha do Brasil. Eles fizeram Marinho entrar no time juvenil do Riachuelo aos 14 anos.

    Um dia surgiu uma oportunidade: o time precisava de um lateral-esquerdo. Marinho aceitou o desafio mesmo sendo destro. Foi um sucesso imediato.

1969

  • O "Motoradio"
  • O vigor físico e o talento fizeram ele sair do juvenil para o time profissional do Riachuelo com apenas 16 anos. Na época, ele não tinha nem contrato com a equipe. Marinho pode dizer que subiu na carreira por se destacar em momentos decisivos.

    O jogador se destacou muito atuando na lateral-esquerda numa partida contra o ABC de Natal. E foi justamente a boa impressão contra o grande time da capital que fez Marinho assinar o primeiro contrato.
  • "D-E-S-T-R-U-I-U tudo! Chiquinho, lateral-esquerdo craque, craque, craque do Riachuelo, receba as nossas congratulações! É seu o troféu Motoradio de melhor jogador em campo, por unanimidade de votos!", berrava Roberto Machado na cabine da rádio Nordeste AM, em Natal, no fim do empate de 1 a 1 entre o pequeno clube da periferia da capital potiguar e o ABC Futebol Clube.
    Marinho no time do ABC.
    Marinho no time do ABC.
    Foto: Reprodução da internet.
  • O "Motoradio" foi um rito de passagem para o moleque de 17 anos, peladeiro dos campos da Salgadeira e Sete Bocas, periferia à beira do mangue em Natal. Presenteado à mãe quando chegou em casa, o rádio foi o primeiro dos 47 com que foi agraciado Marinho Chagas ao longo de sua carreira.
  • O primeiro contrato previa como pagamento em discos de vinil. "O meu primeiro contrato foi vinte discos. Para você ter uma ideia como é que era. De Roberto Carlos, The Fevers, de Renato e seus Blue Claps, Folha... Gostava muito. Beatles... Então, queria aqueles discos, escolhia os discos".
  • "Fui trocado por... vinte pares de chuteira, eu e Hilo, em uma partida do ABC com Riachuelo, e parece que dez ternos de camisa, para ajudar. Porque a Base Naval, naquela época, não patrocinava muito o futebol", mais uma incrível história contada ao Museu do Futebol.

1970

  • Marinho e a sorte
  • A sorte também ajudou Marinho. Numa determinada partida o ABC não podia contar nem com titular, nem com o reserva direto da posição. Daí foi necessário escalar o garoto de cabelo loiro. O desempenho foi tão bom que o menino não saiu mais do time.

    No primeiro ano como titular do ABC, Marinho brilhou em mais um momento decisivo. Na partida ABC e Palmeiras, o lateral de 17 anos impressionou tanto que fez o então técnico palmeirense Osvaldo Brandão ir à casa de Marinho e pedir aos pais autorização para leva-lo pra São Paulo. Mas o pedido foi negado.

1971

    Marinho com a camisa do Náutico de Recife/PE.
    Marinho com a camisa do Náutico de Recife/PE.
    Foto: Reprodução da internet.
  • Uma nova proposta
  • Neste ano surgiu uma nova proposta: o Náutico, de Recife. Desta vez, Marinho evitou ser barrado pelos pais, e simplesmente diz que falsificou a assinatura para fechar com o time pernambucano. Na estreia, fez um gol olímpico. No time passou cerca de um ano: 98 partidas e 12 gols. Depois deixa o Nordeste.

1972

  • Saída do Nordeste e chegada ao Botafogo do RJ
  • A rotina de crescer em partidas importantes continua. E após partida contra o Botafogo, ele encanta jornalistas cariocas e dirigentes. E após conversa com o cantor Agnaldo Timóteo – ele decide deixar o Nordeste e ir jogar no time do Botafogo.
    Marinho dentro do seu carro.
    Marinho dentro do seu carro.
    Foto: Reprodução da internet.
  • Ele vai para o time carioca com 20 anos e conquista os corações dos torcedores e da imprensa. Ele substituiu o grande ídolo do time: Nilton Santos. Na estreia do Brasileirão – Marinho encarou o Santos de Pelé, em quem deu um chapéu durante o confronto. Foi o destaque do jogo – marcando um gol de falta.
    Marinho Chagas domina a bola contra o São Cristóvão
                            pelo carioca 1973.
    Marinho Chagas domina a bola contra o São Cristóvão pelo carioca 1973.
    Foto: Reprodução da internet.
  • No primeiro encontro dos dois, "o doido" pôs o estádio abaixo com um chapéu que fez o rei perder o rumo. "No fim da partida ele veio até mim, apertou minha mão e disse: 'Vê se me respeita, não vem com essa história de chapéu de novo, não, hein!'. Mandei ele tomar no ** e saí rindo."
    Marinho Chagas a 'a bruxa loira', quando jogava pelo
                            botafogo do RJ.
    Marinho Chagas a 'a bruxa loira', quando jogava pelo botafogo do RJ.
    Foto: Reprodução da internet.
  • Virou 'a bruxa loira'
  • O cabelo na altura dos ombros, o corpo franzino, e as coisas mágicas que fazia em campo fizeram a imprensa logo buscar um apelido. E Marinho foi batizado como a bruxa por ninguém menos do que o jornalista "João Saldanha" – que viria a ser treinador da seleção brasileira.

1974

  • O melhor do mundo na posição
  • Estar entre os melhores do mundo foi um "sonho real" para Marinho Chagas, único natalense a defender a seleção brasileira em uma Copa do Mundo da Fifa. Ele teve 27 jogos oficiais pela seleção, incluindo o início de todas as partidas do time no Mundial de 1974, na então Alemanha Ocidental, quando vestiu a camisa 6.

    À época, o time ficou em quarto lugar, após perder para a Polônia. A Alemanha Ocidental conquistou o título e a Holanda foi vice.
    Marinho Chagas jogando a copa do mundo de 1974 pela
                            seleção brasileira.
    Marinho Chagas jogando a copa do mundo de 1974 pela seleção brasileira.
    Foto: Masahide Tomikoshi / TOMIKOSHI PHOTOGRAPHY.
  • Em entrevista à TV Fifa declarou: "É uma emoção muito grande participar de uma Copa do Mundo. Sentir os olhos do mundo em cima de você. E, claro, há também a empolgação para ver quem serão os novos campeões do mundo. E toda a mídia que está cobrindo o evento também. Em 1974, foi o que aconteceu comigo. Eu era parte do time e uma coisa como essas te deixa orgulhoso. Disputar uma copa do mundo já é uma razão para ter orgulho. Ser um dos melhores do mundo é um sonho realizado. Um sonho real. Eu sonho até hoje".

1977

    Marinho Chagas jogando com a camisa do Fluminense do
                            RJ.
    Marinho Chagas jogando com a camisa do Fluminense do RJ.
    Foto: Reprodução da internet.
  • No tricolor carioca
  • Marinho estava jogando tão bem que em 1977 foi contratado pelo timaço do Fluminense. O time teve que ceder três jogadores para ter o craque potiguar: entre eles Paulo Cesar Caju. E foi no time que ele venceu o torneio internacional Tereza Herrera. Marinho fez o único gol da final – numa cobrança de pênalti com paradinha (dizem que a primeira da história).
  • Nas Laranjeiras, Marinho pôs a paciência do cartola Francisco Horta no limite. Foi dele a ideia de levar pandeiros, chocalhos e tam-tans para a concentração. Virou hábito. Não bastasse o barulho, na disputa do torneio Teresa Herrera, na Europa, em 1977, ia ao limite do bom senso nas cobranças de pênalti em que ensaiava o que hoje se chama "paradinha".

    "Mas eu não parava. Eu girava na frente do goleiro, 360º. Quando eu chutava pra valer ele já estava no chão." Do banco, Horta ameaçava prendê-lo no hotel se repetisse a malandragem. Ele a repetiu por três vezes durante a viagem. Marcou em todas elas.
    Marinho dando entrevista, pós jogo, no Maracanã.
    Marinho dando entrevista, pós jogo, no Maracanã.
    Foto: Masahide Tomikoshi / TOMIKOSHI PHOTOGRAPHY.
  • Namorador sem limites
  • Marinho também era chamado de "O Rei do Rio", pelas festas, mulheres e carrões na época áurea vivida no alvinegro carioca.

    Ainda pelo Fluminense, em 1977, quando o tricolor excursionava pela Europa. Marinho Chagas foi parar num palácio em Nice, na França, onde protagonizou uma dança sensual com a Princesa Grace Kelly. Apesar de não ter namorado com a princesa de Mônaco, a lista de mulheres de sucesso que já namoraram com Marinho é extensa. Quando perguntado se já tinha namorado as chacretes: "quase todas", e modelo? "muitas".
    Francisco das Chagas Marinho in Brazil vs Scotland
                            2-0 at Estádio do Maracanã in Rio de Janeiro, Brazil
                            on 23 June 1977.
    Francisco das Chagas Marinho in Brazil vs Scotland 2-0 at Estádio do Maracanã in Rio de Janeiro, Brazil on 23 June 1977.
    Foto: Masahide Tomikoshi.

1978

    Marinho no filme: O Homem de Seis Milhões de
                            Cruzeiros Contra as Panteras.
    Marinho no filme: O Homem de Seis Milhões de Cruzeiros Contra as Panteras.
    Foto: Reprodução da internet.
  • Nas telonas
  • Em 1978, Marinho participou do filme "O Homem de Seis Milhões de Cruzeiros Contra as Panteras", comédia em que ele é sequestrado às vésperas de um jogo da Seleção Brasileira, para ser trocado por um computador. Libertado, chega ao Maracanã no intervalo da partida, joga o segundo tempo e marca o gol da vitória.

    Inspirado no seriado estadunidense "O homem de seis milhões de dólares", o longa conta a história de Coelho, um homem que, após participar de um experimento de um cientista maluco, se torna um homem biônico que usa seus novos poderes e ferramentas para combater os facínoras da cidade. No entanto, uma quadrilha tentará roubar o computador que controla o sistema de Coelho para destruí-lo.
    Pôster do filme: O Homem de Seis Milhões de
                            Cruzeiros Contra as Panteras.
    Pôster do filme: O Homem de Seis Milhões de Cruzeiros Contra as Panteras.
    Foto: Reprodução da internet.
  • O filme estreou no dia 6 de fevereiro de 1978 nos cinemas. Tinha 1 hora e 50 minutos e se tratava de uma comédia e aventura. A direção e roteiro foi de Luiz Antônio Pia. O elenco contava com nomes como Costinha, Nídia de Paula, Artur Marinho, e claro, Marinho Chagas.
  • "Após um acidente, Coelho é socorrido por um cientista louco que o transforma num homem biônico defensor da lei. Lobo, Pardal, Leoa, Gata e Tigresa, temíveis assaltantes, querem se apossar do computador que comanda Coelho a fim de se livrarem de sua interferência e, para tal, sequestrarem o jogador de futebol Marinho, nas vésperas de um jogo da Seleção Brasileira contra a Tchecoslováquia, visando trocá-lo pelo computador. Com o jogo em andamento, Coelho recorre a seus super-poderes e, ajudado por quatro meninos – Tsiu, Tico, Coleiro e Canarinho – consegue libertar o jogador e prender os bandidos. Os heróis chegam ao Maracanã no intervalo e Marinho participa do segundo tempo, marcando o gol da vitória brasileira. Nas arquibancadas, Coelho e seus amiguinhos aplaudem a vitória da seleção".

1979

    I Love América.
    I Love América.
    Foto: Reprodução da internet.
  • "I love América"
  • "Aí chega Pelé no Fluminense, de Rolls Royce, junto com o árabe. Aí já levaram em dinheiro meu pagamento. Me levaram para o Cosmos, para negociar com o Cosmos, já fui pago já. [] Aí fui lá, dei entrevista, todo mundo ri. Estava até com Mazinho, Mazinho traduzindo. Os americanos faziam umas perguntas... eu dizia I Love you, I Love América", outro trecho da entrevista ao Museu do Futebol.
  • Lá Marinho morou um ano num hotel um dos mais badalados de um dos endereços mais caros do mundo: Sheraton Hotel, em Manhattan, perto da Broadway. Atualmente a diária custa R$ 1.139.

    Na estreia nos Estados Unidos, o super time do Cosmos perdia por 2 a 0. E Marinho consegue a proeza de marcar um "hat-trick" – faz 3 gols e vira a partida.
  • "E aí acabou o jogo, aí eu venho no Cadillac do Pelé, na limusine do Pelé... O Edinho, filho dele, um jogo sim, um não, eu tinha que dar a bola para ele. Ele: "Tio Marinho, eu quero a bola, viu, quero a bola". Bem pequenininho. Aí eu tinha que dar a bola para ele. Aí o Negão dizia: "Rapaz, você tem que dar. Ele é seu fã". Ia fazer o quê?"
    Francisco Marinho Chagas at Giants Stadion, New
                            York, US, 19 Aug 1979.
    Francisco Marinho Chagas at Giants Stadion, New York, US, 19 Aug 1979.
    Foto: Masahide Tomikoshi / TOMIKOSHI PHOTOGRAPHY.
    Camisa de Marinho do Cosmos.
    Camisa de Marinho do Cosmos.
    Foto: Reprodução da internet.
  • O time do Cosmos era de dar inveja a qualquer PSG, Real Madrid ou Bayern de hoje. O time tinha à disposição: o holandês Johan Neeskens, o atacante italiano Giorgio Chinaglia, o capitão do tri, Carlos Alberto Torres, e o zagueiro alemão Franz Beckenbauer. Anos antes, da chegada do potiguar, o time contava com o Rei Pelé, que jogou pelo New York Cosmos entre 1975 a 1977.
    Giorgio Chinaglia, Carlos Alberto e Marinho. Craques
                            do Cosmos.
    Giorgio Chinaglia, Carlos Alberto e Marinho. Craques do Cosmos.
    Foto: Reprodução Internet.
  • A desgraça no Cosmos
  • O técnico do Cosmos, Eddie Firmani, chamou Marinho de "Glamour Boy" após ele marcar três gols em um jogo do campeonato diante de 72.342 torcedores no Giants Stadium. Duas rodadas depois, Marinho jogou com os reservas do time na remota cidade de Piscataway, diante de menos de 200 torcedores.
  • A Marinho caiu em desgraça com o treinador, enquanto o time se preparava para um jogo. Firmani pegou Marinho violando as regras de isolamento. Jogadores do time, disseram a uma reportagem do The New York Times que Marinho foi flagrado em uma "indiscrição social envolvendo mulheres em seu quarto".

    Marinho foi alfinetado pelo maior astro do time. "O mais simples é o mais difícil de se fazer", disse Franz Beckenbauer, que completou: "Terry [que substituiu Marinho] joga a bola bem e cedo... e ele não chuta."

1977 a 1979

    Marinho e a música.
    Marinho e a música.
    Foto: Reprodução da internet.
  • Marinho e a música
  • A popularidade lhe rendeu até a gravação de um disco, com direito a clipe no Fantástico – na época isso era um diferencial enorme. Com o compacto "Eu sou assim", lançado em 1977 pela gravadora Copacabana, Marinho repetiu o sucesso que tinha no gramado e com as mulheres, mas um trecho da música-título revela um pouco da personalidade do atormentado jogador: "Estou vivendo a vida como ela é/ Soltando a tristeza que nunca deu pé/Eu não dou bola para quem fala mal de mim/Eu sou, eu sou assim".
  • Música: Eu Sou Assim - Marinho Chagas


    Gravou duas músicas chamadas "Eu Sou Assim" e "Vingança", compacto de vinil que vendeu 100 mil cópias – e ganhou a classificação de 'disco de ouro'. Com direito a clipe no Fantástico.
    Marinho tocando violão com os companheiros da
                            seleção brasileira.
    Marinho tocando violão com os companheiros da seleção brasileira.
    Foto: Reprodução da internet.
  • Em 1979, jornais e revistas cravaram: "Loira Marinho quer ser cantor pop". Foi assim que muitas revistas esportivas anunciaram que Marinho queria deixar o futebol. Depois de bater recordes e fazer uma incursão no cinema, o craque brasileiro queria largar o futebol. Marinho, na época jogava com Franz Beckenbauer no New York Cosmos, teria até recebido uma oferta de Elton John na época. Ele deveria acompanhar o compositor britânico em sua turnê pelos Estados Unidos, mas os compromissos como atleta impediram.
  • 3 vezes Bola de Prata
  • Pelo grande rendimento em campo, Marinho Chagas virou destaque do time e ídolo. Venceu o troféu bola de prata – eleição da seleção do brasileiro por três vezes. Em 1972 (Botafogo), 1973 (Botafogo) e 1981 (pelo São Paulo).
    Reprodução poster da Revista Placar.
    Reprodução poster da Revista Placar.
    Foto: Reprodução da internet.

1987

    Marinho e repórteres alemães.
    Marinho e repórteres alemães.
    Foto: Reprodução da internet.
  • Na Alemanha, pendura as chuteiras
  • O brasileiro Marinho é o galã da Copa do Mundo de 1974. Em seguida, ele deveria mudar para o FC Schalke 04 - mas tudo dá errado. 13 anos depois, ele finalmente acaba na Alemanha. Em um clube que hoje ninguém mais conhece.
  • A história do FC Schalke 04 é bizarra. O time queria contratar o jogador logo após a Copa do Mundo. E resolveu fazer um amistoso no qual Marinho já reforçava o time contra o Bayern de Munique – o time de Marinho venceu por 2 a 0. Durante o jogo, os 70.300 torcedores do Schalke tiveram que depositar votos na urna: Marinho deveria ser contratado?

    Após o jogo, as urnas sumiram. Existem duas teorias: uma que as urnas foram confundidas com lixos e foram pro aterro, ou um grupo que não queria a contratação do atleta potiguar roubou as urnas. Bom o fato é que o presidente teve que anunciar que a contratação tinha falhado.
    Marinho e Berti Vogts.
    Marinho e Berti Vogts.
    Foto: Reprodução da internet.
  • O motivo oficial foi que o conselho do time vetou a contratação que deveria custar mais de um milhão de marcos alemães. O presidente deu uma declaração que ficou eternizada no futebol do país: "Desta vez fiquei preso na lua."
  • Para o próprio Marinho, a decisão provavelmente não foi das piores, como explicou um amigo alemão, que na época traduzia e respondia 200 cartas de torcedores por mês da Europa para o brasileiro: "O Francisco deveria ficar no Brasil porque na Europa ele iria eu poderia não durou quatro meses por causa da saudade de casa."

    Marinho teve como último clube o BC Harlekin Augsburg (Alemanha) – que jogava a terceira divisão. Ele foi contratado por causa da fama – o time tinha acabado de ser formado e recebeu muito dinheiro do empresário Peter Eiba, apaixonado pelo futebol – mas que fez fortuna mesmo com uma empresa de fliperama. O projeto durou muito pouco.

    Veja reportagem: aqui .

1990

  • Treinamentos na Universidade do Texas nos EUA
  • Treinando na Universidade do Texas, o impacto de Marinho nos jogadores – foi de espanto para alguns e de um completo desconhecido. "Posso dizer que a primeira vez que o vi foi quando fui treinar com os meus companheiros e vimos um louro de cabelo comprido tratando a bola tão bem, e tivemos de perguntar quem era. Ele ficou muito surpreso por que não sabíamos quem ele era, pelo menos alguns de nós não sabíamos. Minha primeira Copa do Mundo, que lembro de assistir foi a Copa do Mundo de 1978 na Argentina, e naquela época, especialmente na Copa do Mundo de 1974 não tínhamos acesso a partidas ao vivo como hoje. No entanto, ouvimos e lemos muito sobre Pelé, Beckenbaur e Cruyff, mas não conhecíamos Francisco Marinho. Então, com seu inglês e espanhol quebrados, ele foi dizendo quem ele era e foi aí que percebemos que estávamos na presença de uma lenda", o relato é de um ex-aluno de Marinho, Leo.

1991

  • Marinho como treinador do El Paso Patriots dos EUA
  • Em 1991, Marinho foi contratado como treinador principal do 'El Paso Patriots', um time americano da cidade de El Paso, no estado do Texas. Era um time amador competindo na Southwest Independent Soccer League. Nesse ano o time, ficou em segundo na divisão sul, e chegou a semifinal da competição.

Anos 2000

    Marinho em 1999.
    Marinho em 1999.
    Foto: Frankie Marcondes.
  • A saúde declinou rapidamente, muito por causa do álcool – que substituiu a parceria feita antes com a bola. Marinho acabou sendo pai de 13 filhos, cinco dos quais em países onde jogou (Alemanha e EUA) e com quem pouco manteve contato.

2011

  • O resgate
  • A escolha do Brasil como país para a Copa do Mundo de 2014, e depois a confirmação de Natal como uma das sedes fez a vida de Marinho mudar. A atenção rendeu novas oportunidades financeiras e o reconhecimento como jogador. Marinho Chagas foi contratado pela Band Natal para apresentar quadro na programação local. "A PALAVRA DA BRUXA" que estrou em março de 2011. Era o embaixador da Copa em Natal, e recebeu até estátua para homenagear a carreira.
    Marinho com algumas representações políticas do RN,
                            ao lado de uma estátua em sua homenagem.
    Marinho com algumas representações políticas do RN, ao lado de uma estátua em sua homenagem.
    Foto: Elisa Elsie / Divulgação.

2014

  • A despedida
  • Apesar de toda a festa e expectativa de Marinho para a Copa do Mundo no Brasil, ele não pode aproveitar. O ex-jogador passou mal na tarde de 1º de junho enquanto participava de um evento para colecionadores do álbum de figurinhas da Copa do Mundo, em João Pessoa/PB. Enquanto conversava com algumas pessoas, Marinho começou a vomitar sangue. Levado para a Unidade de Pronto-Atendimento Oceania da capital paraibana, Marinho foi diagnosticado com hemorragia digestiva alta.
  • Como os médicos tiveram dificuldade em conter a hemorragia, Marinho foi transferido para o Hospital de Emergência e Trauma. Foi colocado um balão no estômago para tentar estancar a hemorragia, mas o quadro clínico permaneceu muito grave. Por volta de 3h, o ex-lateral acabou não resistindo e morreu.
    Caixão coberto por camisas dos ex-clubes.
    Caixão coberto por camisas dos ex-clubes.
    Foto: Jocaff Souza.

Eterna admiração


"Cara é a vida da gente jornalista ela é muito louca principalmente quando você trabalha bastante. No meu caso durante década setenta eu sempre fui apaixonado por futebol e achava Marinho Chagas à frente do seu tempo em relação à posição que ele jogava. Na década de setenta os laterais ainda não subiam tanto né? E me encantava ver o Marinho jogando. E quis o destino que eu fosse morar em Natal, trabalhar na Band de Natal, e conheci o Marinho. Aí eu fiquei muito muito próximo ao Marinho. A gente saia pra conversar, jantar... Ele me contava histórias dele, com Frank Sinatra ou quando jogou no Cosmos. As histórias da seleção brasileira a coisa de ser um símbolo sexual também por causa daqueles cabelos loiros oxigenados... O Marinho era uma pessoa muito doce, se tivesse uma palavra pra descrever ele era: uma pessoa doce. É essa a lembrança que fica, a desse grande amigo que eu tive na minha vida. É isso que que eu vou lembrar sempre do Marinho: simples, divertido, maluquinho, mas acima de tudo, Marinho Chagas era uma pessoa doce." , jornalista esportivo Luciano Junior.