Na estante da sala de casa tenho uma coletânea de livros do poeta Manoel de Barros. O poeta pós-modernista é um dos grandes nomes da literatura brasileira. Me identifico demais com a obra de Manoel porque ele enxerga a poesia de uma maneira muito singular e que me comove em cada linha. Traduz de maneira sensível a vasta dimensão da natureza e toda a beleza que cerca a relação de nós humanos – seres tão pequenos, com a magnífica criação.
A poesia da natureza me encanta e me transporta para os mais bonitos lugares dentro de mim. Mesmo em meio ao caos, consigo perceber os versos que o mundo me entrega. Não tanto quanto nosso poeta. Nem tanto quanto eu gostaria. Certa vez, Manoel escreveu: “quando meus olhos estão sujos da civilização, cresce por dentro deles um desejo de árvores e aves” (Livro de pré-coisas). É desse desejo que falo.
Hoje cedo vinha para o trabalho e fui transportado para o universo de Manoel de Barros. Testemunhei o nascer de mais um dia e fui abraçado pela poesia do amanhecer. Contemplei toda a paleta de cores que surgia no horizonte e os primeiros raios de sol encontrando brechas em meio aos edifícios. Muita gente não liga para essas amenidades do dia a dia. Até entendo. Cada um permite ser tocado da maneira que mais lhe agrada.
Aí eu volto ao meu personagem de hoje no livro Memórias Inventadas. No poema “Sobre importâncias”, Barros escreveu: “que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”. E, para mim, há dias que já nascem encantados. Parecem trazer junto ao alvorecer uma trilha sonora. Uma polifonia de coisas boas, bons pensamentos, boas lembranças. Nos transportam para um momento particular de silêncio e som. É como descansar no colo do amor.
Naturalmente que nem todos os dias nos permitimos ser tocados pela sutileza da poesia. Afinal a vida é prosa em muitos momentos. Mas que sejamos gentis e polidos para perceber a poesia do universo. Para compreender a importância das coisas e todo o seu encantamento.
Boa semana!