Tenho andado mais observador que o habitual. Como já relatei outrora neste espaço de divagações, aprendo a cada dia sobre a importância (e o valor) do silêncio. Há uma outra agravante: acho que pelo fato de estar trabalhando um pouco mais esses dias, falei menos – por falta de tempo também. Mas gosto disso.
Como em todos os dias úteis, chego cedo à Redação do Grupo TCM. Antes de qualquer coisa, aquele cafezinho pra ver o dia nascer no Parque das Antenas. Três gotinhas de adoçante e três minutos pra espiar o sol se espreguiçando e colorindo o céu. Nesse momento de contemplação me veio à mente uma lembrança de poucos dias atrás.
Sentado, aguardando na porta de entrada do hospital, observava um cidadão muito elegante ao lado de um desses 4×4 bem modernos. Ele segurava uma pequena valise (daquelas grifadas). Guardava pouca coisa ali dentro, eu suponho.
Antes de entrar no carro ele foi interpelado por uma mulher que acompanhava uma senhorinha. Com muitos papeis numa das mãos ela parecia fazer perguntas ao distinto sujeito, que não esboçava uma reação de acolhimento. Enquanto ela falava com a testa franzida, ele abria a porta do carro, guardava seus pertences e dava pouca (ou nenhuma atenção) à aflita interlocutora. A cena relatada durou menos de dois minutos.
As duas estavam de pé, imóveis, enquanto o homem entrava no carro, ligava o motor e olhava o celular ao dar marcha à ré.
– E aí, minha filha? Ele disse o que?
– Mamãe, não sei por quê eles parecem fazer questão da gente ficar aflita e não entender nada. Venha, vamos entrar de novo.
Seguiram com passos lentos subindo a rampa de acesso à unidade hospitalar.
É um tanto desalentador ver situações como essa. Saber que se repetem diariamente em diferentes locais, com diferentes pessoas, de diferentes profissões. Se você parar para observar, vai perceber quanto falta gentileza nesse mundão.
Me entristece a soberba do ser humano. A arrogância. A ilusão de que conhecer algo o faz mais importante. Somos todos feitos do mesmo barro. Conhecimento serve para ajudar. Para aproximar. Para ser compartilhado. Quando seus títulos, diplomas e saberes lhe afastam desse pensamento, você não entendeu nada.