Por Taysa Nunes.
Ok, não é todo mundo que se empolga com o sexto mês do ano, mas sou daquelas pessoas que realmente ficam encantadas com toda a movimentação que junho proporciona, porque é quando posso colocar minha carteirinha de nordestina/potiguar em prática mais ainda. Ruas enfeitadas cheias de bandeirinhas, balões e uma infinidade de adereços que fazem referência ao São João. Ah… E as comidas típicas, então? Posso listar uma variedade que não caberia neste texto, você sabe, caro colega de Estado. E quando falo em comida, não poderia deixar de citar um dos personagens principais deste mês: o milho verde. Quer alimento mais versátil (bem, sim, temos muitos, mas vamos deixar que ele seja o nosso protagonista desta vez)? É pamonha, canjica, mungunzá, bolo, mingau, cremes… É só usar a imaginação que alguma receita mirabolante vai sair.
Em meio às minhas andanças diárias na reportagem, no primeiro dia de junho, paro na Cobal (feira livre tradicional em Mossoró) junto do meu colega cinegrafista para fazer mais uma pauta do dia: venda de milho verde. A manhã é movimentada no local, afinal de contas é quando tudo está muito fresquinho. Paro um instante para ordenar as ideias que surgem na minha cabeça e dou de cara com uma banca cheia de espigas. Um senhor sorri ao nos ver e pede para que nos aproximemos. Seu Marcão do Milho Verde, como é conhecido, trabalha na Cobal há trinta anos – com a venda de milhos há dez. Conversa vai, conversa vem, ele me explica que compra a mercadoria do Ceará, de vários municípios, e quando chegamos a junho, as vendas se intensificam. “Vendo durante todo o ano, sempre até o meio-dia, mas o mês de junho é quando consigo ganhar mais. É como se eu ‘tirasse’ pelo ano inteiro”, ele conta.
Entre mais diálogos, os clientes chegam. Enchem as sacolas com o milho exposto na banquinha azul. Clientes fiéis, hein? Como seu Francisco. Milho é famoso do Norte ao Sul do país, mas por aqui, na nossa terrinha nordestina, temos um carinho especial por ele – uma iguaria sempre presente em nossas mesas. “Não compro pela tradição do mês, compro porque gosto mesmo”, diz seu Francisco. “Sempre ‘tô’ comprando”, completa.
O cinegrafista e eu andamos mais um pouco e percebemos que a Cobal está repleta por barracas que pipocam de milho por todo canto. Eduarda Freire corta a palha com habilidade e eu me questiono, com meus botões, como ela não se machuca. É a prática constante. A jovem de cabelo preso num rabo de cavalo, para enfrentar o calor e o mormaço da manhã, também explica que vende milho o ano todo. “Junho é o melhor mês do ano. É quando a gente vende mais”, diz. Um cliente chega, seu Ivanico Batista, e pergunto o que ele vai preparar com o milho que compra. “Minha esposa vai fazer canjica”. Claro que eu também faria se soubesse (nunca tentei, em breve talvez).
Seu Marcão vende a unidade por R$0,70; a mão de milho (como chamamos por aqui) por R$35. O cento custa R$70. Ele diz que é um alimento que não fica caro com o passar dos anos. “Todos os dias de junho são bons, mas os melhores são os das fogueiras”, ele faz menção às vésperas de Santo Antônio, São João e São Pedro. Estamos quase no final da nossa primeira pauta e seu Marcão separa duas sacolinhas com milho. Antes pergunta se gostamos. Acho graça – adoramos. “Pra vocês. Vão com Deus”, ele sorri.
E eu fico agradecida por demais pela surpresa – principalmente porque amo milho e depois por causa da gentiliza desse senhor que foi tão acolhedor com a gente. Sim, seu Marcão, vamos com Deus e com os milhos que o senhor nos presenteou. É um dos primeiros dias de junho dos muitos que estão por vir.
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