Já devo ter comentado aqui que minha rotina começa cedo no Grupo TCM. Às 5h da manhã já estou por aqui. Comigo, pouco menos de uma dezena de colegas também iniciam o dia de trabalho antes mesmo de o sol se espreguiçar no Pátio das Antenas. Noutro dia, um desses companheiros chamou minha atenção.
No meu rito diário de observação, caminhava com o copo de café ainda fumegante e fitava atento o amigo José Santos, jardineiro da TCM. De joelhos ele removia as pedrinhas que adornavam o solo ao redor de exuberantes Rosas do Deserto. Comenta-se entre os que admiram essa espécie que são as maiores já vistas no Rio Grande do Norte.
Pois bem, prostrado sob as raízes, José retirava pedrinha por pedrinha cuidadosamente e colhia no chão as rosas que já cumpriram sua missão. Fiquei contemplando a dedicação e cuidado com que ele desempenhava sua função. Todas as pequenas pedras eram ordenadamente arrumadas ao lado de cada pé. Fiquei curioso. O café já havia esfriado quando perguntei por quê ele fazia aquilo.
– Tiro as pedras para elas respirarem um pouco. Mais tarde coloco de novo. Tem que ter atenção. Não pode botar muita água e nem pode deixar a grama crescer ao redor da raiz.
O tempo correu depressa e o relógio já me chamava para o estúdio. Segui pensando sobre aquela tarefa artesanal que quase ninguém testemunhava e o quanto ela representa para que o rosa das flores capture o olhar de todos que adentram ao complexo TCM.
Lembrei de um pensamento de um escritor japonês (gosto da cultura oriental, noutra oportunidade escrevo sobre isso), chamado Okakura Kazuko. Ele disse certa vez numa reunião com discípulos que “aqueles que são incapazes de compreender o que há de grande nas pequenas coisas, terminarão sem enxergar o que há de pequeno nas grandes coisas, e serão confundidos pelo resto da vida”.
Quanto tempo perdemos sem perceber a grandeza das pequenas coisas. E como essas pequenas coisas são tão fundamentais para que a grandeza e as maravilhas se manifestem. Que possamos parar por alguns minutos em cada dia e admirar os pequenos rituais, os sublimes momentos que estão espalhados na rotina de cada um de nós.