Olá, caras leitoras, caros leitores!
Há alguns dias estávamos às voltas com uma mudança. Esvazia gaveta, enche caixa, limpa armário, muda tudo de lugar. É boa essa sensação de desordem. A desordem que precede a organização – registre-se. Precisamos desses momentos em algumas etapas da vida.
Minha analogia vem das minhas gavetas e armários. Quinze anos de TCM e nunca tinha feito uma mudança tão significativa. Juntei um tantão de papéis velhos, pastas, bugigangas que não me serviam mais. Esse preâmbulo todo é para contar que encontrei nessa arrumação um bloquinho de anotações. Estes, nunca vão pro lixo.
Gosto de ter sempre um bloquinho à mão quando faço minhas leituras. Seja para registrar frases, pensamentos dos autores ou curiosidades dos personagens. Nesse, em específico, há anotações acerca da obra “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”, de Clarice Lispector. Não vou aqui falar sobre o livro (embora recomende), mas sobre a frase grifada no meu bloquinho que me chamou a atenção e me fez voltar ao tempo dessa provocante leitura.
“Sou dos que crêem no que é inacreditável. Aprendi a conviver com o que não se entende”. A frase é do personagem Ulisses. Mas como já disse, meu texto de hoje não é sobre o livro de Lispector, mas sobre a reflexão acerca dessa frase.
Compreendo que nem todas as coisas carecem de uma explicação. De um entendimento. Essa perspectiva, apesar de satisfazer a necessidade de muita gente, torna (a meu ver) tudo simples demais. Cartesiano demais.
O que tem explicação está posto. É finito. E nós, sujeitos subjetivos, somos maiores que qualquer explicação. O que não cabe em nossa compreensão, o que não encontra definição, o que transcende a palavra é o que nos move muitas vezes. É o que nos faz sentir vivos e vibrantes.
Crer no inacreditável nos faz sonhar. Faz-nos dar o passo antes de encontrar o chão pra pisar. E se não houver chão? Voe. Levite. Imagine. Creia. A imaginação não cabe na tinta da caneta, nem permite fincar-se no papel. Esses rascunhos são pequenas tentativas de dizer algo que há muito tempo transbordou da minha mente e respingou no teclado do computador. Suponho que meus interlocutores já se sentiram assim em algum momento.
Foi bom reencontrar meu bloquinho. Melhor ainda reencontrar-me com meu eu de uma década atrás e ter a certeza de que os sonhos nos mantém vivos e pulsantes. É bom sentir que não me perdi no caminho e que sigo acreditando no inacreditável. Pense sobre isso.