Recentemente, fui convidada para falar sobre o luto vivenciado por familiares e amigos de pessoas desaparecidas e esse é um tema que sempre desperta sentimento de dor, tristeza, saudade. Ao sofrer uma perda significativa, seja por morte, por separação, pelo desemprego, pela mudança de cidade, naturalmente temos uma resposta esperada: o luto. Portanto, ele é essencial para que se possa reconstruir e reorganizar a vida mesmo diante do rompimento do vínculo.
Para situações de perdas repentinas, o processo de enlutamento pode ser ainda mais complexo do que aquele provocado por morte, pois existe o elemento surpresa, a pessoa some sem deixar sinais ou indício algum.
O principal aspecto a ser observado é no tocante à elaboração desse luto pelas pessoas próximas, que ficam buscando os porquês e um entendimento racional do que aconteceu com o intuito de aliviar a dor.
Não ter respostas e alimentar a esperança de que o ente pode reaparecer a qualquer momento nutre o sentimento de negação, que é uma das fases do luto.
Além disso, os que ficam podem desenvolver o sentimento de culpa, de que poderiam ter sido negligentes com a pessoa desaparecida, se questionam constantemente que poderiam ter feito algo para evitar o fato. Quando o sumiço acontece logo após um conflito ou desentendimento familiar esse sentimento é ainda mais forte.
Não saber o paradeiro, se a pessoa ainda está viva ou não é angustiante e leva a um sofrimento mental muito grande para quem vivencia essa experiência, podendo causar inclusive prejuízos e alterações no funcionamento emocional e cognitivo.
No desaparecimento, a perda é uma incógnita. Os familiares da pessoa desaparecida deixam até de viver as suas vidas baseadas na possibilidade do “se”: “E se ‘fulano’ aparecer?’, “E se ela estiver com fome, com frio?” Viver preso no “se” é ficar no limbo da incerteza, da dúvida e isso pode ser paralisante.
Muitos enlutados tem dificuldade em restituir a perda, seja pela falta de apoio para amenizar o sofrimento ou falta de encorajamento para buscar ajuda, o que é imprescindível, nesses casos, para ressignificar a dor e reorganizar a sua vida.
Portanto, é preciso observar os sinais, o que é muito difícil para quem está vivendo um sofrimento mental ocasionado pela perda repentina. Porém, parentes e amigos próximos podem fazer esse exercício e orientar a pessoa a buscar ajuda profissional.
É importante frisar que a vivência do luto é singular e única, a sua duração varia e não há um roteiro a ser seguido. O fato é que o luto provoca um processo de mudança em quem o vive. Apesar de ser muito difícil e, por vezes, amargo, ele é necessário para que se possa seguir em frente.
Leilane Andrade
Psicóloga e Jornalista
CRP 17/6253
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