Devido os últimos acontecimentos envolvendo escolas, a violência no espaço escolar entrou em pauta. Sociedade, entidades públicas, profissionais da saúde, políticos têm se debruçado sobre a temática no sentido de encontrar uma solução. É uma ação enérgica muito necessária diante do negligenciamento até então observado.
A violência nas escolas não teve início há alguns meses, como a mídia aparenta mostrar. Ela existe há anos. Vou situá-los melhor sobre o assunto. A Escola pode ser compreendida como uma amostra da sociedade, o que acontece fora dos muros influencia e interfere dentro das escolas. Enquanto instituição, ela está inserida num contexto social, econômico, político e cultural, muitas vezes, num ambiente de vulnerabilidade social.
Por não estar isolada, a Escola deve estar em constante diálogo com a comunidade e com entidades sociais locais, recebendo suporte para lidar com questões que estão para além do processo ensino-aprendizagem.
Dentro e fora das escolas, antes e hoje, a violência se apresenta de várias formas. Ela está no bullying, no cancelamento virtual, na propagação de fake news, no cerceamento de direitos, no preconceito, no constrangimento físico ou moral, na discriminação, nas rotulações, no desrespeito às diferenças, na falta de empatia, no descaso com a vida e a dignidade humana.
Além desses fatores estressores supracitados, acrescento ainda o momento pós-pandemia. Estudos apontam que os efeitos da pandemia da Covid-19 ainda serão enfrentados por anos nos mais diversos públicos, principalmente afetando a saúde mental.
O retrato que observamos hoje é resultado do impacto desses fenômenos. São jovens angustiados, ansiosos, frustrados, mais conectados no mundo virtual e menos presentes no real, sem perspectiva de futuro, com problemas de imagem corporal, baixa autoestima e que veem na violência autoprovocada uma maneira de minimizar todo o sofrimento mental vivenciado.
À esta altura eu pergunto: qual a nossa responsabilidade, enquanto adultos, para com as crianças e a juventude? Nós temos a obrigação de fazer alguma coisa, pois as crianças e adolescentes precisam da nossa ajuda. Somos nós, os adultos, os responsáveis por escutar, acolher, orientar, educar e guiá-los pelo caminho do discernimento, da ponderação e no propósito de vida.
E como podemos fazer isso? Proponho a discussão sob três frentes – Estado, Escolas e Família, que juntas podem realmente fazer um diferencial, mudar essa realidade e retomar o sentimento de esperança de um futuro melhor:
- Estado – Investir em políticas públicas de promoção à saúde mental e de prevenção a curto, médio e longo prazo; aprovar e colocar em vigência a Lei nº 13.935/2019, que prevê o serviço de Psicologia e Serviço Social na rede pública de Educação Básica.
- Escolas – Trabalhar no espaço escolar de maneira permanente, com campanhas ou projetos, as competências socioemocionais propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em vigor desde 2018 – autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável; oferecer mais suporte de saúde mental como capacitações aos professores para que eles saibam lidar e consigam manejar melhor as demandas surgidas no meio escolar.
- Família – Os pais e cuidadores precisam fazer seu papel de educar, orientar, acompanhar o desenvolvimento das suas crianças e adolescentes, sem transferir essa responsabilidade para as escolas. Esse trabalho deve ser feito de maneira mais próxima, constante e presente.
Leilane Andrade
Psicóloga e Jornalista
CRP 17/6253
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