Olá, queridas e queridos leitores!
Hoje pela manhã entrei na Redação e um assunto dominava a discussão. O aborto. Uma pauta, aliás, que tem prevalecido em rodas de conversa, redes sociais e noticiários por todo o Brasil na última semana. Antes de qualquer torcida de nariz ou julgamento precipitado, registre-se que não tenho o chamado ‘lugar de fala’ sobre o assunto. E nem quero aqui tratar de algo que não tenho de fato propriedade para opinar. Daqui da minha cadeira (protegido pela minha condição biológica, sociológica, antropológica e estrutural) só posso dizer que defendo o direito de as mulheres gerenciarem todas as suas escolhas conforme seu próprio entendimento e suas crenças.
Dito isso, percebo que na discussão jurídica, jornalística, religiosa, política, econômica, científica, sanitária, conservadora, liberal… sobram apontamentos. Julgamentos. Achincalhes. Crueldade. Essa é a pauta do nosso texto de hoje. A impressionante capacidade do ser humano de espetacularizar a dor do outro. A incrível habilidade de dilacerar a vida das pessoas sem qualquer empatia.
Nos últimos dias, dois casos foram exaustivamente explorados na grande mídia e, sobretudo, na sarjeta dos perfis especializados na vida não mais privada de famosos e de gente comum.
O caso de uma garota de 11 anos – que teve questionado por uma magistrada o direto a fazer um aborto após um estupro; e o caso de uma atriz de 21 anos – também vítima de estupro, que deu à luz a uma criança e a entregou para adoção após uma sequência de violências (é prudente destacar que ambos os casos têm respaldo na Lei Brasileira).
O que me chamou a atenção foi a quantidade de juízes da vida alheia que emergiram do esgoto da pseudomoralidade. Gente sem qualquer sensibilidade. Sem qualquer humanidade. O fato é que essas duas pessoas (uma menina e uma jovem mulher) foram atropeladas pelo que há de pior na nossa sociedade. Milhões de dedos apontados. Sentenças aos milhares. Os dois episódios só reforçam o imenso abismo que nos separa da civilidade, do respeito e da compaixão pela dor do próximo.
Essa distância é maior em progressão geométrica quando falamos das mulheres. O quão impiedoso é o tribunal das redes sociais, das colunas de fofocas, dos bastidores do poder, dos grupos de whatsapp. Certamente ainda estou anos luz de alcançar a grandeza e a força que inunda a alma das mulheres. Um caminho ainda infinito para compreender o desafio do que é ser uma mulher nos tempos atuais e/ou em qualquer tempo. Mas entendo que já passou da hora de tentarmos aprender sobre respeito. Sobre silenciar quando não tiver algo de bom a dizer.
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