Vez por outra nosso estado de espírito nos permite ser arrebatados pela arte. Por um descuido eu fui. É maravilhoso quando acontece. Sábado passado, seguia pela estrada e ouvia canções do disco “O Grande Encontro” – show que fez sucesso no final da década de 1990 e reuniu nomes expressivos da música nordestina brasileira.
Os versos cantados de Geraldo Azevedo e Zé Ramalho me capturaram e de repente lá estava eu em estado de poesia, como diria Chico César. Todas as canções desse disco são memoráveis. Mas algumas me fazem mergulhar numa imersão pessoal e me reencontrar comigo em diferentes fases da minha vida. Gosto disso. Dos reencontros.
Ouviria em looping todas as faixas. Uma delas (que devo ter ouvido ao menos cinco vezes nesse dia) me transportou para a pena dos compositores e me fez voar como o passarinho da faixa Canta Coração.
Ouço as canções desse disco e transito entre momentos de reflexão sobre a letra e a contemplação. Me pergunto “o que o autor sentia quando compôs?”. A latitude da emoção carregada em cada frase das estrofes. Noutros momentos saltito pelo dedilhado dos acordes escorregando na escala em Ré maior e me pendurando nos baixos marcados na viola de Geraldinho.
Por fim, canto alto “meu alegre coração é triste como um camelo, é frágil que nem brinquedo, é forte como um leão. É todo zelo, é todo amor, é desmantelo. É querubim, é cão de fogo. É Jesus Cristo, é Lampião. Passarinho, eu vou voar”.
Não temos habilidade para traduzir o que a alma sente. Mas que bom que podemos sentir.