Uma iniciativa vem transformando a vida de dezenas de pessoas no oeste potiguar. Hoje são 25 idosos, mas tudo começou com quatro, há mais de 20 anos. “Na época eu era diretora do Hospital Regional de Caraúbas, e tinha uma idosa chamada Leci, ela era muito inteligente, eu a amava muito e queria cuidar dela como um dia meu avô foi cuidado”, conta a médica Veluzia Gurgel, 61 anos.
Leci Batista, era uma idosa autista, cuidava da igreja da cidade, segundo a médica, uma mulher muito inteligente, mas “era totalmente abandonada pela família. Ela quem me inspirou a alugar uma casa e cuidar dos primeiros quatro idosos. Leci tinha uma memória invejável e um carisma contagiante”, lembra. A amiga faleceu em 15 de maio de 2016, mas o legado inspiracional continua.
“Esses idosos se internavam no hospital e quando recebiam alta inventavam uma nova doença, porque não queriam voltar para casa. Muitas vezes, vítimas de maus tratos. Então, eu aluguei uma casa e coloquei os quatro idosos lá”, conta emocionada ao relembrar o início de um sonho.
O Gente que Faz dessa semana conta mais uma história de amor e encorajamento, dessa vez na cidade de Caraúbas, a cerca de 75 km de Mossoró. No local foi criado, no dia 25 de junho de 2002, a Associação de Proteção ao Idoso Jorge Gurgel Fernandes do Amaral, ou Lar Mestres da Vida, bem como o Papa João Paulo II se referia aos mais experientes.
“Eu não imaginava que o local iria se tornar tão grande. Quatro meses depois que abrimos, uma promotora visitou o Lar e falou que não poderia continuar funcionando daquela forma; seria necessário regularizar.”
Hoje, o Lar conta com 25 pacientes, sendo 10 homens e 15 mulheres. “Inicialmente, a gente não tinha como pagar o salário das pessoas, então era um trabalho voluntário. Atualmente nos organizamos e conseguimos manter 15 funcionários ativamente”.
Durante todo esse tempo, muitas pessoas com mais idade passaram pelo local, algumas em situação de vulnerabilidade. “A gente recebeu pessoas de vários lugares com históricos muito tristes. Um dia recebemos uma senhora da cidade de Campo Grande que vivia no esgoto, não vestia nenhuma roupa”, recorda com tristeza da situação.
Segundo ela, “a maior dificuldade é a falta de financiamento, espaço físico inadequado e a inexistência de profissionais especialistas em enfermagem, terapia ocupacional, fisioterapia, educador físico etc. Além da dificuldade de apoio público”.
“O Lar carrega histórias interessantes, como o músico Divanildo que fez parte da banda de Roberto Carlos e o garimpeiro Amauri que gostava de contar que no garimpo uma de suas diversões era queimar dinheiro. Quase todos os idosos chegam ao lar com histórias de sofrimento e dor. Eles se tornam especiais e na maioria das vezes não querem voltar para a família porque o cuidado e o carinho são aspectos marcantes da instituição” finaliza.
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