Quem nunca pensou como seria ser um personagem de desenho animado quando era criança? Já imaginou poder ser o Salsicha ou o Timão? O dublador Fernando Mendonça, natural de Areia Branca, dá vida e voz a todos eles. No mais novo filme da Pixar, “Divertida Mente 2”, ele dará voz à Vergonha, uma das novas emoções de Riley, que agora é adolescente.
Na dublagem, ele é conhecido por dar voz a diversos personagens icônicos, incluindo Timão em “Timão e Pumba e a Guarda do Leão”, Cebola em “Steven Universo”, Jayce em “Arcane”, Salsicha em “Scooby! O Filme”, Double Trouble em “She-Ra”, Limão Grab, Marshall Lee e Cake em “Hora de Aventura”, Jean Pierre Polnareff em “Jojo Bizarre Adventures – Stardust Crusaders”, Desejo em “Sandman”, Mordo em “X-Men ’97”, e atualmente é a voz do ator Oscar Isaac em “Cavaleiro da Lua”.
Fernando Mendonça teve sua paixão pela dublagem despertada ainda na infância, aos sete anos, quando assistia a desenhos animados e tentava imitar a voz dos personagens. Ele ensaiava para a sua futura profissão sem saber, vivendo sua infância nas cidades de Natal e Areia Branca, sua cidade de origem. Aos 13 anos, mudou-se para Mossoró, onde viveu até os 20 anos. Em Mossoró, Fernando criou e interpretou o Salsicha em uma peça chamada “Scooby-doo e o Monstro do Rio Mossoró”, que chegou a lotar o Teatro Municipal Dix-Huit Rosado.
Aos 20 anos, Fernando decidiu deixar o Nordeste e foi morar no Rio de Janeiro em busca de mais oportunidades. Foi lá que ele começou sua carreira como dublador iniciante. Enfrentando muitos desafios, ele teve que batalhar intensamente e dar o seu melhor para não falhar e voltar para sua cidade natal. Sua dedicação e talento o levaram a se tornar um dublador renomado, dando voz a diversos personagens icônicos e conquistando um lugar de destaque na indústria da dublagem.
O maior desafio, para ele, foi deixar a família e amigos e ainda ter que se adaptar à indústria, onde ele não podia demonstrar o próprio sotaque nordestino. A partir disso, precisou mudar seu sotaque. Hoje, Fernando conseguiu subverter as coisas e se utilizar da própria cultura em seus trabalhos, como colocar vaia cearense em dublagens e até utilizar gírias regionais. Há três anos, Fernando mora em São Paulo.
Para Divertida Mente 2, seu papel surgiu como uma surpresa. “Quando eu cheguei eu já tava gravando a Vergonha, sem vergonha nenhuma”, brincou. Ele descreve seu papel neste filme, que está o tempo inteiro se escondendo, como um personagem fofo. “Você vê uma pessoa com vergonha e você acha ela fofa”, complementou.
Fernando fala como é o processo de dublagem de um filme: “Cada dublador grava separado no estúdio, então a gente não grava todos os divertidamentes juntos, primeiro vai num horário, depois outro, depois outro, mas no meio do processo a gente acaba esbarrando com alguns ‘star talents’.”
Fernando prepara a expectativa para o filme: “É muito divertido de fazer, no final, quando eu terminei de gravar, eu fiquei triste por ter terminado. Eu acho que essa sensação vai ficar em quem assistir o filme também. Sabe aquele gostinho de quero mais?”, brinca.
A dublagem é um trabalho desafiador e gratificante, especialmente para Fernando, um dublador experiente. Ele explica que alguns personagens são mais difíceis de dublar, especialmente aqueles que requerem rápidas mudanças no tom de voz em um curto período. Apesar dessa dificuldade, ele admite que esses são os personagens que mais gosta de interpretar.
Fernando enfatiza que a dublagem não é um trabalho solitário. Ele trabalha em colaboração com o diretor e o técnico de som, que ajusta a fala para sincronizar perfeitamente com os movimentos labiais do personagem. Essa interação com a equipe é crucial, e ele valoriza a troca de ideias e energias para garantir um bom desempenho.
Para ser um bom dublador, Fernando acredita que é essencial ser um ator observador. Ele menciona a importância de captar referências de pessoas próximas, como familiares, para criar personagens mais autênticos e realistas. Além disso, ele se inspira em grandes nomes da dublagem, como Guilherme Briggs, conhecido por suas interpretações de personagens icônicos como Buzz Lightyear e Mickey Mouse.
A maior satisfação de Fernando na dublagem, especialmente em animações, é a capacidade de se transformar em qualquer personagem, independentemente do seu biotipo. Ele valoriza a liberdade criativa que a dublagem proporciona, permitindo-lhe interpretar desde animais até seres fantásticos, o que torna o trabalho extremamente valioso e divertido.
Fernando compartilha suas maiores inspirações na dublagem, destacando Mário Monjardim e Orlando Drummond. Monjardim, famoso por dar voz a personagens icônicos como Salsicha e Pernalonga, foi um mestre para Fernando. Orlando Drummond, conhecido por suas interpretações de Scooby-Doo e Alfie, também deixou uma marca significativa. Fernando lembra com carinho do momento em que Monjardim o incentivou a continuar seu legado, autorizando-o a usar seus bordões característicos, algo que ele considera um dos momentos mais importantes de sua carreira.
Fernando destaca a importância da perseverança, paciência e humildade para quem deseja ingressar na carreira de dublador, afirmando que o mercado é vasto e sempre em busca de novas vozes. Ele aconselha os iniciantes a manterem um emprego paralelo no início, pois os trabalhos de dublagem podem ser esporádicos e pequenos. Além disso, Fernando enfatiza que a técnica de dublagem é complexa e demanda tempo para ser dominada, tornando essencial a capacidade de observação e referência.
Ele também compartilha a importância de trocar conhecimentos e dicas com outros profissionais, algo que ele faz frequentemente no estúdio. Isso porque ele mesmo recebeu apoio e orientação de outros dubladores experientes no início de sua carreira. Para Fernando, a dublagem é uma profissão linda, que vale a pena ser investida.
Apesar dos desafios e das descrenças de alguns, Fernando perseverou e se destacou na dublagem, o que ele atribui também às suas raízes no Rio Grande do Norte, que lhe proporcionaram um diferencial nas suas referências.
Ele expressa preocupação com o futuro da dublagem no Brasil, especialmente em relação à regulamentação da inteligência artificial. Fernando destaca a necessidade de regulamentar o uso da IA para proteger a autoria dos artistas e evitar que suas vozes sejam usadas sem autorização. Ele cita exemplos de como a IA já está sendo utilizada para substituir vozes humanas em documentários, o que ameaça o trabalho de muitos profissionais.
Fernando acredita que o teatro deveria ser uma matéria escolar, pois ensina a trabalhar em equipe e a se expressar melhor. Além de sua carreira na dublagem, Fernando expressa o desejo de participar de produções live-action.
Além da dublagem, Fernando é multifacetado: canta (inclusive o tema de Moana da Disney), é animador, diretor de animação, locutor e ilustrador. Ele brinca que só não dança, mas está disposto a aprender.
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