Na parede da sala de informática do pavilhão modelo da Penitenciária Agrícola Mário Negócio (PAMN), em Mossoró/RN, uma frase se destaca ao lado de uma ilustração: “Acredite no poder libertador da educação”. Crer na máxima de que a educação transforma não é lição fácil de seguir para quem está atrás das grades. Mas para um detento em particular, os ensinamentos dos livros fizeram todo o sentido e ele voltou a sorrir.
J.M., 32 anos, está preso há oito pelos crimes de assassinato e tráfico de drogas. O jovem, que já foi líder de uma facção criminosa, não se orgulha do passado sombrio, mas se alegra com o futuro iluminado pelos livros e construído com muitas horas de estudo. O detento viu a vida ser transformada dentro do cárcere. Dois pilares sustentam o recomeço dele. A religião e a educação. “Eu não acreditava que isso seria possível, mas hoje sei que Jesus me guia e que a educação me traz esperança”.
J. ainda tem oito anos de pena a cumprir e não quer desperdiçar tempo atrás das grades. Recentemente concluiu a graduação de Tecnólogo em Empreendedorismo e já sonha em cursar uma nova faculdade. Diariamente se dedica na biblioteca com foco nas provas do ENEM 2024. “Foi lendo que eu vi que poderia retomar os estudos, vi que esse sonho não era tão distante. Me esforcei, consegui aprovação no Enem e fiz faculdade. Continuo me preparando para as provas que vão acontecer em dezembro. Cursar Direito é meu maior sonho”, revela.
Assim como J.M. outros detentos da PAMN têm acesso à biblioteca e à sala de informática dentro de projetos de qualificação e ressocialização. Iniciativas como essas são impulsionadas por ações de parceiros que acreditam na mudança da comunidade carcerária por meio da leitura. É o caso do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN).
Com o objetivo de construir um futuro melhor, a Instituição promove a campanha “Doe livros, transforme vidas”. Por acreditar no poder transformador da leitura, a entidade convida os integrantes do Ministério Público no Estado a doarem livros que são destinados às unidades prisionais do RN.
Nos prédios do MP, cartazes e bancas de coleta são espalhados para a arrecadação de obras dos mais diferentes gêneros. Literatura, biografias, autoajuda e técnicos. Revistas e histórias em quadrinhos também são recebidas.
De acordo com a cientista social Natália Viana, da Universidade Católica do Rio Grande do Norte (Unicatólica/RN), a ressocialização das pessoas privadas de liberdade não se dá apenas dentro das unidades prisionais. O Estado e seus atores precisam fazer o seu papel por meio de ações efetivas voltadas para esse objetivo.
Segundo a cientista, iniciativas como a do MPRN contribuem com esse propósito e fazem com que pessoas comuns também participem indiretamente nessa mudança. “Acredito que a ressocialização é um processo coletivo, onde cada ação, por menor que pareça, tem o potencial de transformar vidas e fortalecer o tecido social, promovendo um futuro mais justo e inclusivo para todos”, concluiu.
Você precisa fazer login para comentar.