Um dos objetivos do Censo Demográfico é ir à casa de toda população do Brasil. Mas no lar de Jupiara Tavares de Souza, 59 anos, o Censo chegou há 22 anos e não saiu mais. Com três operações censitárias (Censo 2000, Contagem da População 2007 e Censo 2010) na bagagem, a engenheira florestal está na sua quarta jornada como recenseadora. Dessa vez, a filha Annabela Souza, de 21 anos, virou colega de trabalho. As duas são recenseadoras em Parnamirim/RN.
“Comecei no Censo feito no papel. No final de agosto de 2000, descobri que estava grávida e ainda era o primeiro setor”, contou Jupiara. Depois de 22 anos, a história quase se repetiu. Annabela fez a prova de seleção para o Censo 2022 ainda grávida. “Se fosse pra ter um trabalho, eu teria que ter um que intercalasse casa e trabalho pra poder ficar com ela [a filha]”, pontuou Annabela. Hoje, ela divide o seu tempo entre o preenchimento de questionários da pesquisa com os cuidados de mãe com sua bebê Jade.
Naturais do Rio de Janeiro, Jupiara e Annabela chegaram ao Rio Grande do Norte em 2004. Há cerca de 3 meses ganharam a companhia de Jade em casa. Jupiara usou a flexibilidade de horário como o principal argumento para convencer a filha a concorrer uma vaga de recenseadora. O IBGE orienta o recenseador a trabalhar, pelo menos, 25 horas numa semana. Os ganhos são por produção.
Censo
Com formação superior em Biologia e Engenharia Florestal, Jupiara considera o fator humano o grande desafio da maior operação civil do Estado brasileiro. Os recenseadores encontram pessoas com experiências, idades, culturas, origens, histórias, valores e problemas diversos.
Ela passou por casas nas quais moradores se recusam a responder de cara, uma realidade em 1,5% dos domicílios visitados no Rio Grande do Norte até o final setembro. “Em um determinado momento, eu passo por você e você vai dar uma segunda olhada pra mim, se quiser, e vai me chamar pra conversar. Ou eu mesmo chego e dou um bom dia, porque não tá no coração. Aí, faço uma amizade”, ensinou.
Outros até respondem, mas aproveitam também para desabafar – agressivamente ou não. Essa é outra face marcante do Censo 2022, o primeiro depois de um longo período de isolamento social. “O recenseador tem que entender também que, como seres humanos, tem dia que você tá virado e tem dia que você tá alegrinho”, pontuou.
A voz, o olhar e os gestos de Jupiara não deixam dúvida do orgulho de ser uma das pintoras do retrato da população brasileira há mais de 20 anos. “Uma coisa é ficar assistindo no Youtube que a humanidade tá mudando, outra coisa é você presenciar. Não é ficar olhando na televisão o que está acontecendo, é você fazer parte do que está acontecendo”, comentou.
Identificação
Os casos de assaltos, ameaças e agressões verbais contra recenseadores ganham repercussão na sociedade. No entanto, pessoas como o morador de Parnamirim Jordy Alisson dos Santos, de 27 anos, ainda são maioria.
“É super importante, porque vocês vão tá vendo quem está mais embaixo, precisando de ajuda. Se não forem feitas essas entrevistas, ninguém vai ficar sabendo, não vai ter como se tomar uma atitude sobre isso”, analisou a importância da pesquisa.
Ele respondeu o Censo na porta de casa em alguns minutos. Para Jordy, a insegurança pode levar pessoas a maltratar os profissionais do censo, embora reconheça não seja motivo justificável.
Qualquer pessoa pode telefonar para a Central de Atendimento do Censo (CAC), pelo 0800 721 8181, e confirmar se o recenseador trabalhas mesmo no Censo 2022. Também é possível verificar se o recenseador realmente trabalha para o IBGE ao escrever o número da carteira de identidade, CPF ou matrícula do recenseador na primeira janela aberta na página inicial do portal do IBGE na internet.
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