Por Alexandre Fonseca
Você sabe o que é meliponicultura? É uma prática derivada da apicultura, que consiste na criação de abelhas de forma bem específica, pois, não possuem ferrão. A atividade está em desenvolvimento em Mossoró e crescente em todo o Rio Grande do Norte.
A princípio pode parecer exótica, mas, a meliponicultura é responsável por muitos benefícios humanos e ambientais, e tem se espalhado para além da zona rural da Capital do Oeste Potiguar, existente nos espaços urbanos, como em casas e até apartamentos.

Temos como exemplo, o agrônomo Victor Hugo Dias, que atua com criação de abelhas sem ferrão há 18 anos. Tem vasta experiência no assunto, tanta que em 2019 passou a ser um meliponicultor empreendedor, através da sua empresa familiar chamada Mangangá. No início, ser criador de abelhas era apenas uma ação que ajudaria a preservar os animais e com o tempo, se tornou uma fonte de renda. Do trabalho executado pela Mangangá são fabricados produtos como o mel da jandaíra (em média 1 litro por ano), própolis (substância com poder regenerativo para lesões) e derivados.
Dias cria dentro do seu apartamento, inúmeras abelhas sem ferrão, que moram em 3 colmeias muito bem estruturadas, duas em moldes de casinhas e uma outra em formato de baú.


“Eu decidi montar um meliponário em que ele tivesse um chamado especial para o olhar dos nossos visitantes. Sempre costumo chamar pessoas pra tomar um café e ver as casinhas. Algumas acham que são casinhas de bonecas e quando percebem, notam que é de abelhas”, revela.
Das 14 espécies catalogadas no Rio Grande do Norte, o meliponicultor trabalha com a jandaíra, a abelha amarela, a canudo e a plebleia. No total, com a ajuda da esposa e da filha, cultiva 200 colônias de abelhas, distribuídas por Mossoró.
E a prática não para nas mãos do meliponicultor, já que é uma realidade em expansão na cena mossoroense, como mostra o agrônomo, por meio da sua pesquisa de caracterização e planejamento da criação de abelhas sem ferrão, realizada também em 2019, como parte da sua especialização para o Departamento de Engenharia e Ciências Ambientais da Ufersa.

De acordo com os resultados, no ano em questão, Mossoró possuía 84 meliponários (como são definidos os espaços de criações) e 81 meliponicultores somente na zona urbana. A atividade se concentrava mais nos bairros Abolições e Planalto Treze de Maio.
E no Rio Grande do Norte esse caminho de crescimento não é diferente! Mossoró é sim considerada um dos principais polos do mel da abelha nativa jandaíra, entretanto, o município de Jandaíra, desempenha também um forte papel como polo fomentador do cenário econômico alavancado pelo mel. Inclusive, é do nome da cidade que foi extraído a denominação dos meliprodutos gerados através da meliponicultura.
Um projeto chamado “Rota do Mel da Jandaíra”, pretende criar uma conexão entre onze municípios do Estado, para impulsionar o mercado do mel e garantir uma maior rotatividade de produtos. Conversamos com Francisco Melo, coordenador do projeto e consultor do Sebrae na área, sobre como a iniciativa pode impactar no futuro da criação de abelhas sem ferrão.
“Esse é um projeto que foi pensado para aprimorar e consolidar a cadeia produtiva da meliponicultura no Rio Grande do Norte. Buscamos junto ao Ministério da Integração, a formação do primeiro polo de mel de abelhas nativas do Brasil”, explica.

Para somar com o projeto, em 26 de agosto de 2021, foi instituída por decreto da governadora Fátima Bezerra e publicada no Diário Oficial do Estado, a regulamentação da lei do mel (10.476-2019), estabelecendo requisitos sanitários de produção, processamento, além de determinar os padrões de identidade e qualidade do mel produzido e comercializado. Um comitê liderado pelo Sebrae com auxílio de outras instituições, ajudou no processo de decisão das normas que envolvem a prática da meliponicultura.
“A criação de animais silvestres (abelhas) necessita de regulamentação específica. O Conselho Nacional do Meio Ambiente nos dava direito a ter apenas 49 colônias em casa, o que é inviável economicamente explorar 49 colônias. Agora a gente tem que buscar os selos de produção e de qualificação e precisamos do apoio das Prefeituras, do Governo do Estado, para podermos ter estruturas de processamento da atividade”, relata Dias.
Mesmo diante das conquistas para o setor, os meliponicultores estão preocupados com uma situação em especial. Não adianta diretrizes e iniciativas que impulsionem a produção do mel, se o avanço da atividade for atrasado por outros procedimentos. E eles alegam que uma medida tomada para combater as arboviroses pode ser prejudicial para a apicultura.

O uso do carro fumacê com o objetivo de eliminar o Aedes Aegypti, é capaz também de matar as abelhas, já que o veneno aplicado não é seletivo. Entramos em contato com a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), que está ciente das reclamações dos meliponicultores. Valter Santos, coordenador do Controle Vetorial das Arboviroses, em declaração, reforça que o equipamento é utilizado quando a cidade apresenta índices elevados de infestação, justamente para combater a proliferação dos mosquitos transmissores de doenças. Ressaltou ainda, que existe um cronograma de atuação, já dialogado com os criadores, para não prejudicar os animais.
“O Estado é bem criterioso na aplicação do inseticida e as últimas vezes que nós aplicamos em Mossoró, avisamos aos criadores de abelhas, quando e em que horário ia passar o carro fumacê no endereço de cada um deles. E orientamos que prendessem as abelhas. A gente fez com que a passagem fosse sempre na parte da tarde ou noite e no outro dia poderia soltar as abelhas normalmente”, declarou.


Seja fora ou dentro de Mossoró, a criação de abelhas sem ferrão favorece não só o mercado do mel ou da medicina, com seus produtos terapêuticos. A meliponicultura é capaz de transformar ambientes, pela capacidade da abelha de aperfeiçoar a natureza com a polinização. É por esse motivo, que o agrônomo Victor Hugo Dias, decidiu vender colmeias, incentivando o surgimento de novos criadores. Com o suporte da família, leva conhecimento ministrando palestras para alunos da Rede de Ensino do município e acredita, que a nova geração vai fazer a diferença no fortalecimento da atividade.
“A abelha é um elo entre o desenvolvimento humano e ambiental, a gente trabalha com seres que trazem a mensagem de que é possível um mundo harmônico e é necessário que haja essa interligação entre nós”, finaliza Dias esperançoso.
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