Com informações da Fapern
Com propriedades extremamente versáteis, a planta cannabis tem ganhado espaço em diferentes áreas, da medicina à indústria têxtil, passando pela cosmética e pela construção civil. No entanto, é na farmácia que essa versatilidade se expande para um leque quase infinito de possibilidades. “A cannabis será a nova penicilina”, prevê o professor de Farmácia Túlio Moura, que desenvolve uma pomada à base da substância para aliviar os efeitos colaterais da quimioterapia. A pesquisa conta com apoio da Fundação de Amparo e Promoção da Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio Grande do Norte (Fapern), por meio do edital nº 16/2022.
Com um laboratório em processo de montagem no prédio da Faculdade de Farmácia, o professor Túlio busca as condições necessárias para desenvolver uma formulação capaz de auxiliar no tratamento da síndrome mão-pé, uma reação adversa que pode ocorrer em pacientes durante a quimioterapia ou o uso de certos medicamentos-alvo. A condição causa dor intensa, dificuldades motoras, inchaço, úlceras e inflamação.

Segundo o professor, os pacientes em tratamento oncológico já enfrentam um grande desgaste físico e emocional, o que motivou o desenvolvimento do estudo. “Nosso objetivo maior é criar um creme ou gel que possa, ao mesmo tempo, diminuir o inchaço, hidratar a pele e combater a inflamação”, explica Túlio. “Já temos alguns protótipos prontos. Estamos avançando nos estudos reológicos agora, e nos testes para iniciar os experimentos em animais”, detalha.
Com uma visão de longo prazo, Túlio enxerga a pesquisa como o primeiro passo para um futuro em que a cannabis será reconhecida como matéria-prima essencial na medicina moderna. “Nosso laboratório será pioneiro na análise de micotoxinas, pesticidas, genoma e todo tipo de contaminantes e resíduos em amostras com cannabis. Ou seja, aqui nós vamos aferir e comprovar a qualidade do que está sendo produzido ou importado”, ressalta.
Com recursos de R$46 mil provenientes do edital nº 16/2022 da Fapern, o projeto pôde adquirir os equipamentos necessários para o início das pesquisas e o desenvolvimento das primeiras versões da pomada. “Conseguimos uma balança de precisão e um disruptor de células. São equipamentos fundamentais para produzir fórmulas com melhor absorção pela pele e, consequentemente, uma resposta terapêutica mais eficaz”, afirma.

Para o professor, é essencial que um projeto como esse seja desenvolvido com tecnologia própria e apoio estadual. “Isso envolve, futuramente, a agricultura familiar para o cultivo de espécies adequadas de cannabis. O estado pode se tornar pioneiro em uma unidade de produção de óleo”, aponta. “É uma oportunidade para o Rio Grande do Norte, associado ao PAX, crescer nessa área com ciência e desenvolvimento”.

Após a finalização da pomada, o projeto será enviado à comissão de ética responsável pela aprovação de testes em animais, com o objetivo de investigar seu mecanismo anti-inflamatório. “A partir disso, vamos preparar um projeto em parceria com a Liga Contra o Câncer para realizar estudos clínicos em pacientes”, conclui o professor.
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