Em colaboração com Pedro Ítalo
O setor pesqueiro do Rio Grande do Norte pode enfrentar grandes desafios com o aumento das tarifas sobre produtos brasileiros anunciado pelos Estados Unidos. Neste cenário, embarcações de pesca do Estado podem deixar de operar a partir do mês de agosto.
Anualmente, são exportados cerca de 50 milhões de dólares em produtos pesqueiros para os Estados Unidos, mas graças ao anúncio do aumento das tarifas, essa relação comercial está ameaçada.
“Os barcos de atum são pescados muitos na lua cheia, a maior produção. Então hoje estamos retirando os últimos barcos, hoje vai ser a última exportação, e a gente vai aguardar. Muitas empresas estão parando, outras vão dar férias coletivas, e também está num período de entre safra da gente. Então algumas embarcações estão indo para manutenção e a gente tem que aguardar uma decisão política.”, explica Arimar França, presidente do Sindpesca (Sindicato da Indústria da Pesca do Estado do Rio Grande do Norte). “Mais de 70% da nossa produção e 100% da nossa exportação é destinada ao mercado americano. E a gente não tem outra alternativa para escoar essa produção desse produto e o mercado interno não consegue absorver.
Medidas como as citadas por Arimar também estão sendo adotadas por indústrias em outros estados do Brasil. De janeiro a junho de 2025, o estado já exportou mais de 11 milhões de dólares em peixes frescos e refrigerados para os Estados Unidos, segundo dados do Observatório da Indústria Mais RN. Além do setor pesqueiro, o RN tem na produção de óleos de petróleo e produtos de origem animal outros setores de destaque na balança comercial.
Devido ao tarifaço, há uma preocupação com a possibilidade de paralisação total da pesca de atum no estado, já que pode acontecer uma grande queda na margem de lucro nessas condições. Caso essa situação se confirme, cerca de mil empregos diretos e cinco mil indiretos serão afetados.
“Vai chegar um ponto que as empresas não vão ter outra alternativa. Estamos tentando agora um acordo com a delegacia regional do trabalho, visando afastar eles por um período de tempo semelhante ao que aconteceu na pandemia, mas posteriormente a isso a gente não tem muito o que fazer.”, conclui Arimar.
“O Rio Grande do Norte é o maior exportador de atum fresco do Brasil, existem vários empregos que estão atrelados a essa atividade produtiva e a gente está na expectativa muito forte que as negociações feitas pelo governo federal através do governo do presidente Lula, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento Econômico, Geraldo Alckimin, que está à frente disso, dialogando junto com Itamaraty, e que se encontre uma solução para evitar essa questão. Eu acredito que o Brasil consiga reverter numa negociação com o governo americano, já há sinais disso, porque o que nós exportamos são principalmente a questão do agronegócio. A gente está exportando alimento, que obviamente isso impacta diretamente na vida dos americanos com uma sobretaxa dessa de 50%.”, conta Guilherme Saldanha, secretário de agricultura e pesca do RN.
Governadores do Consórcio Nordeste se reunirão com Lula na próxima terça (5) e quarta-feira (6) da próxima semana após o prazo dado pelo governo estadunidense para impor a taxação de 50% sobre todas as exportações brasileiras, na sexta-feira (1).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em entrevista ao jornal New York Times publicada na madrugada desta quarta-feira (30), que tem tentado contato com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas “ninguém quer conversar” sobre o tarifaço.