Por Alexandre Fonseca
Um asmático precisa ter atenção constante a sua condição de saúde e ao estado em que se encontra durante todo o dia. Independentemente do nível da asma, é necessário proceder com medicação diária.
Um remédio comum utilizado na estabilização do sistema respiratório é chamado Alenia, disponível no mercado nas doses 6/200 mcg e 12/400 mcg. O Alenia faz parte do quadro de medicamentos entregues pelo Sistema Único de Saúde. Em Mossoró/RN quem faz essa distribuição é a Segunda Unidade Regional de Saúde Pública (II Ursap). O remédio é entregue mediante a comprovação da doença pulmonar, através do exame de espirometria e cadastro no SUS.
O Jornalismo TCM apurou que na II Ursap são mais de 4 meses sem distribuição regular para os usuários. Atualmente, o Alenia está à venda no mercado com uma média de preço na casa dos R$ 120,00, R$ 150,00. Para quem precisa tomá-lo todos os dias e não consegue lidar com os custos da compra a situação é preocupante.
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Vitor Diniz com uma caixa de Alenia em mãos. Foto: Alexandre Fonseca.
É o caso do lavador Vitor Diniz (33 anos), que tenta buscar o medicamento na Regional, desde setembro de 2024 e tem recebido resposta negativa do órgão. “Desde setembro de 2024 que não está vindo, minha tia liga pra lá, dizem que vai chegar, quando vou, não tem. O rapaz disse que nem tinha previsão. Tem muita gente que não pode comprar, aqui está de R$ 150,00, sem desconto”, conta.
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Acompanhamento de paciente sobre distribuição do medicmento. Foto cedida: Vitor Diniz.
O lavador explicou à nossa reportagem que cada caixa de Alenia vem com um total de 60 cápsulas. Elas duram exatamente 30 dias, pois ele ingere uma pela manhã e outra à noite. “É um tratamento. Um mês certinho. Na minha opinião, não é um medicamento caro para o Governo. É caro pra quem não tem condições. Chegou medicamento pra diabetes e outras doenças, menos pra asma. Dizem pra gente que de 15 em 15 dias, chega, a gente liga, quando resolvem atender, falam que não tem”, completa Diniz.
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Dona Luzia Eliza fazendo nebulização em uma crise de asma. Fotos: Alexandre Fonseca.
Fomos até a casa de Dona Luzia Eliza (75 anos). Ao chegar à sua residência, nos deparamos com a aposentada fazendo nebulização. Estava em uma crise asmática. Eliza nos informou que também teve acesso ao Alenia em setembro do ano passado. A situação se torna ainda mais complicada pelo fato dela precisar de um segundo medicamento, chamado Spiriva. No mercado, o brometo de tiotrópio custa uma média de R$ 300,00 e não é disponibilizado de forma gratuita pelo SUS.
“O Alenia eu tô comprando, mesmo com o dinheiro pouco, ainda gasto uns R$ 400,00 com o Spiriva. Quando morava em Fortaleza, recebia os dois normalmente, depois que cheguei aqui em Mossoró, não recebo mais. Quando o dinheiro sai, a primeira coisa que faço é comprar a medicação, o que sobra vou gastando com a comida. Sem o remédio não vivo”, revela.
Dona Luzia também faz uso do Alenia duas vezes ao dia. “Tomo um sete horas da manhã e outro sete horas da noite. O Alenia todo dia, o Spiriva não. Eu gripei esses dias e tô cansando (tendo crise de asma) direto, aí tenho que usar”, relata.
“Eu espero que o Governo coloque a mão na consciência. Eu, graças a Deus, tô trabalhando e consigo comprar o medicamento, mas, quem não trabalha e depende da medicação? Como fica?”, indaga Diniz.
“Eu queria que o Governo tivesse consciência e visse a necessidade das pessoas pobres que precisam dessa medicação e não podem passar sem ela”, conclui Eliza.
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Caixa de Fumarato de Formoterol Di-Hidratado (Alenia). Foto: Alexandre Fonseca.
Posicionamento da Secretaria da Saúde Pública (Sesap)
Em nota ao Jornalismo TCM, a Secretaria de Estado da Saúde Pública e a direção da Unicat informaram que “seguem trabalhando em regime de força-tarefa, com enfoque das áreas técnicas nos processos de compra de insumos para toda a rede, incluindo os medicamentos do Componente Especializado de Assistência Farmacêutica. Entre os entraves, destacam-se a dificuldade das empresas em atenderem aos pedidos e até participarem dos processos de compra abertos pela Secretaria ao longo do ano, o que compromete a formação de estoque da Unicat, bem como a dificuldade financeira do Governo do Estado evidenciada ao longo do ano com a queda significativa na arrecadação do ICMS, gerando impacto direto em áreas prioritárias como a saúde”, esclareceu.
Ainda tivemos um contato com um funcionário da Unicat, que nos deu a seguinte resposta: sem previsão de chegada do Alenia, não temos uma data. Sugiro que os usuários do SUS, acionem o Ministério Público.
Decisão judicial
Em decisão da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Mossoró, foi determinada a disponibilização da lista dos medicamentos contemplados no Programa de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde. A sentença, do dia 29 de janeiro de 2025, estabelece o prazo de 30 dias para listar as medicações. A determinação é da juíza Kátia Cristina Guedes Dias, direcionada ao diretor da Unicat, após ação movida pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte.
Como o prazo estabelecido pela Justiça ainda não foi concluído, o Jornalismo TCM acompanha a liberação da lista das medicações disponíveis na Unicat.
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