Desde a infância, a mossoroense Marina Araújo se destacou nos estudos. Movida por uma paixão genuína pela aprendizagem, sua dedicação, além de render boas notas, também acendeu o desejo em continuar progredindo na vida escolar.
Os bons frutos nesta jornada começaram cedo. Aos 16 anos a jovem estava decidida que iria ingressar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), na cidade paulista de São José dos Campos. “No terceiro ano eu descobri o ITA. Depois consegui uma bolsa de estudos em Fortaleza e fui estudar lá; quando eu terminei o terceiro ano, continuei estudando. Fiz cursinho durante três anos. Já ano passado estudei em São José dos Campos. Tudo isso para realizar meu sonho”, diz Marina.
Para a jovem, era uma rotina de estudos cansativa com níveis altíssimos e atividades que exigiam paciência e foco. “Tem que correr muito atrás e estudar bastante. Não é uma rotina fácil; é muito difícil manter a autoestima e manter a esperança de que um dia vai dar certo, porque é só um dia no final do ano que você tem que mostrar tudo que você aprendeu”, comenta.
Depois de tentar quatro vezes, o sonho continuava ali – radiante. “É muito difícil receber a notícia que você não passou e pensar o que você vai fazer no outro ano: se você vai para outra faculdade ou se você vai continuar insistindo nisso. Mesmo com as dúvidas, o sonho persiste”, conta Marina.
Na quinta tentativa, veio a tão esperada ligação anunciando a aprovação. Marina foi uma das oito mulheres aprovadas no curso de Engenharia Aeronáutica. “É uma coisa que eu não tinha sentido antes, um reconhecimento. Foi para mim uma prova de que meu estudo estava valendo a pena”, complementa.
Marina recebeu a ligação anunciando sua aprovação no dia 19 de dezembro. A mãe, Elvira Fernandes, comenta que a sensação foi de orgulho e muita emoção. “Eu saí gritando para todo mundo: ‘Marina passou no ITA, Marina passou no ITA!'”.
A mãe da jovem diz não conseguir descrever a emoção que sentiu em ver o sonho de Marina ganhando os primeiros passos. Ela relembra os momentos difíceis e os anos que Marina ficou longe de casa. “Nesses cinco anos desde que ela foi embora, eu não sei descrever o que senti. No início tive medo. Mas depois de saber do resultado, fiquei em estado de êxtase de felicidade, orgulho”, conta.
Elvira comenta que está mais tranquila. “Ver ela seguir o sonho dela é lindo, porque eu sei que é muito bom seguir o sonho da gente. Nossos sonhos são valiosos”.
LIDANDO COM A SAUDADE
Mesmo longe, a saudade da família era presente. Diariamente Marina lidava com estudos, mas também com a falta da mãe, especialmente. Nessas horas, ligações se tornavam comuns a quem estava vivendo uma distância imposta pela realização de um sonho. Elvira Fernandes, mãe da jovem, relembra alguns momentos.
“É um processo de partilhamento no dia a dia. De alegria, de sofrimento, de saudade, de ausência, de apoio “, diz.
Elvira comenta que desde a decisão de Marina ir para Fortaleza, a primeira palavra que veio foi medo de tudo que poderia vir, mas apoiou a filha. “O sonho dela era o nosso sonho também. Então sempre tivemos esse discurso de que o que fosse escolhido, o que fosse definido por ela e pelos nossos filhos seria encaminhado, seria apoiado. Esse foi o nosso percurso”, completa.
A mãe conta que os momentos mais difíceis eram quando a filha estava doente – que precisa daquele apoio diante da distância. Dias sem dormir, preocupada, dona Elvira sempre buscava manter diálogos. “Os momentos mais difíceis eram quando ela adoecia ou eu adoecia; a gente ficava mais fragilizado em termos de sentimentos. Essa falta se fazia maior. Mesmo assim, eu buscava formas de não demonstrar essa saudade” completa.
Como uma forma de não fragilizar nos momentos difíceis, o afeto era demonstrado em perguntas sobre a rotina de Marina e partilhar o cotidiano da filha no cursinho e da mãe no emprego.
Assim, os dias passavam, e a saudade continuava presente. A mãe passou a acreditar na filha servindo como um suporte importante nas jornadas de estudos – o amor de mãe foi o alicerce e a proteção para os momentos de dificuldades.
“Eu estava sempre acreditando nela, no potencial que ela tem. A gente vai dizendo, ‘vai em frente, eu acredito em você e vai dar tudo certo. E não desista porque o seu sonho é possível de ser realizado’. Eu sentia isso pelo esforço, caminhada e dedicação que ela tinha”, completa a mãe.
UMA JORNADA GUIADA PELA EDUCAÇÃO
Marina Araújo nasceu num seio familiar guiado pela educação. Sempre estudou em escola particular e reconhece o privilégio. “Eu tive o privilégio de sempre estudar em escola particular e de conseguir sempre ter a minha vida voltada aos estudos”.
Já a mãe, Elvira Fernandes, teve uma infância difícil. Precisou sair de casa aos oito anos para seguir o sonho de estudar. Morou na residência de outra parte da família. “Eu via as letras nos livros e queria ler. Precisei sair do interior do Ceará para estudar e realizar meu sonho”.
Mãe de três, incluindo Marina, ela comenta que sempre incentivou os filhos a seguir os caminhos da educação. Movida por isso, desde cedo reconheceu que os sonhos e realização profissional seriam possíveis pela educação e curiosidade em aprender
“Tenho três filhos maravilhosos. A história que eles têm, como a minha, vem nesse legado muito bonito de educação. A educação é tudo. Ela move nossos sonhos. Hoje me sinto realizada, pelos meus filhos e pelo que a educação me levou. Estou quase concluindo meu doutorado e agora Marina aprovada”, finaliza.
Sonhos podem se tornar realidade. Podem sair do papel e alçar voos significantes.
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