Por Alexandre Fonseca
Com uma vida na agricultura iniciada logo na infância, Antônio Odinário, tem hoje, no cultivo de hortaliças naturais, sua fonte de renda. “A minha rotina de trabalho é levantar cedo todos os dias, tiro leite das minhas vacas, depois venho para a produção das hortaliças. Não possuo um padrão alto de vida, mas estou satisfeito”, conta. O agricultor está no ramo das hortaliças há 13 anos. “Meu pai era agricultor, não tive muita oportunidade de estudar e minha vida é a agricultura”, finaliza Antônio.
Antônio Odinário é apenas um dos associados que trabalham no cultivo de hortaliças naturais, na Fazenda HortVida, localizada na Comunidade Lagoa de Pau. São 18 quilômetros de distância percorridos da Zona Urbana de Mossoró, até chegar ao espaço predominantemente verde da plantação. Uma área de dois hectares, dividida para o desenvolvimento de diversas atividades.
A fabricação de alimento saudável sem uso de produtos químicos, assim como de empreendimentos que passaram a trabalhar com a agricultura sustentável, é crescente no Nordeste, desde 2021. Dados divulgados pelo Ministério da Agricultura, Pesca e Agropecuária (MAPA), indicam mais de 500 agricultores envolvidos no cultivo de orgânicos, só no Rio Grande do Norte. E além do Antônio, o engenheiro agrônomo Rodrigo Benjamim, também faz parte do quadro de produtores do Estado.
Rodrigo descobriu ainda na faculdade, a sua vocação para atuar na agricultura. “Logo nos primeiros dias de aula, percebi que meu potencial era pra produzir, eu só não sabia o quê. Participei de um curso sobre produção orgânica de hortaliças, durante três dias, aprendi o básico do início do processo de cultivo e foi aí que tomei a decisão de começar”, relembra o engenheiro.
Rodrigo e Antônio na plantação. | Imagem: Thiago Roberto.
Etapas da produção, manejo e da colheita
Rodrigo hoje é proprietário da Fazenda HortVida. No local, está estruturado vários espaços que comportam as etapas de produção das hortaliças. A nossa equipe de jornalismo dispôs da oportunidade de conhecer cada uma delas.
Logo de início, tivemos acesso ao viveiro de produção de mudas. São geradas por semana, cerca de 16 mil mudas de culturas diferentes. Rúcula, salsinha, hortelã, manjericão, coentro, cebolinha, couve-flor, alface crespa, roxa e americana são as trabalhadas no território. Tendo em vista que todo o sistema de produção é inteiramente orgânico, os fertilizantes também são produzidos na fazenda, como, por exemplo, o húmus de minhoca. Após 21 dias semeando no viveiro, as mudas são levadas ao campo. Com a utilização do substrato na reprodução das mudas, é hora da plantação.
Em sua estrutura, grande parte da área de plantação está protegida por uma tela, que serve para minimizar o impacto das chuvas fortes nas folhas das hortaliças e ainda, impedir a intensidade da luz solar nos alimentos. E planta precisa de água para germinar, claro. Sendo assim, a irrigação é feita em horários determinados do dia, sempre alternando de 15 em 15 minutos entre as culturas.
A cada 55 metros, um tipo hortaliça é plantada e cuidada, até chegar ao momento da colheita. Algumas precisam de um espaçamento maior, com o canteiro podendo ocupar 110 metros de solo. Em média são 1200 plantas por canteiro. E é necessário que a terra tenha em uma sua composição, areia, argila e uma boa drenagem de água. O lugar em seguida é adubado, regado e por fim, as mudas são organizadas uma por uma.
Lidando com as pragas
Infelizmente, pela decisão de não usar nenhum tipo de agrotóxico no cultivo das hortaliças, os agricultores precisam lidar com algumas pragas ou insetos, que costumam migrar de outros lugares. “Na horticultura, é frequente a presença de pragas e de doenças. Quando você tem um ambiente em equilíbrio, adubado da forma correta, a planta não terá excesso de nutrientes, pois, é o excesso que causa a infestação de pragas”, explica Rodrigo.
Quando o equilíbrio é rompido em razão de uma alguma eventualidade da natureza (fortes chuvas, grandes secas ou ação humana), a história é outra! Na área de plantação do agrônomo, é muito comum encontrar percevejos do tipo nezara viridula, que a gente conhece popularmente como fede-fede. É corriqueiro que na estação das queimadas, eles fujam dos lugares em que o ser humano costuma tocar fogo, em busca de abrigo para reprodução.
A alternativa dos agricultores para combatê-los, é aplicar os extratos naturais, um deles a base de alho, com o objetivo apenas de afastá-los, sem danos maiores. “A ideia é repelir e não exterminar”, acrescenta. Na hora da colheita de uma alface, encontramos um inseto resistente na planta, porém, nem todos são nocivos ao alimento. E de fato, é a comprovação do produto ser 100% natural, fabricado sem nenhum tipo de inseticida químico. “Cabe ao consumidor, lavar bem a verdura comprada, antes de ingerir. É melhor um inseto inofensivo na planta, do que um alimento cheio de agrotóxico, que pode deixar sequelas para a vida toda”, reforça.
Produção em grande escala
O trabalho executado por Antônio, que citamos lá no início da matéria e por Rodrigo, é em grande escala. Ultrapassando a ideia de produção de hortaliças apenas em terras de agricultura familiar. Comercialmente, tudo o que é produzido pelos agricultores da Fazenda HortVida, abastece redes de supermercados de Mossoró e região. São colhidos três vezes por semana, em torno de 4 mil maços das variedades presentes na horta.
É importante lembrar que o produto só pode ser vendido, com a aprovação de uma empresa certificada, parceira e credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pesca e Agropecuária (MAPA). A Organização Internacional Agropecuária (OIA) é a responsável pela certificação dos alimentos gerados na plantação do agrônomo. É um mercado em crescimento e a oportunidade perfeita para quem está pensando em trabalhar com estas culturas. Já para aqueles que estão no ramo e enfrentando algum tipo de dificuldade, guardem a dica a seguir: “Eu aconselho que quem esteja trabalhando na área, continue, estude, melhore, se adapte as condições climáticas da nossa região e nunca desista”, incentiva Rodrigo.
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