O Teatro Municipal Dix-huit Rosado e o Teatro Lauro Monte Filho não estão agendando programação de pautas. Com isso, a cidade atualmente não dispõe de um equipamento para receber eventos culturais e peças teatrais.
O Teatro Municipal Dix-huit Rosado foi fechado após incêndio ocorrido no foyer no dia 25 de fevereiro. O equipamento, que já havia passado por reforma geral, registrou o incidente após curto-circuito no sistema de ar-condicionado. A informação da causa do incêndio foi confirmada, à época, pela Prefeitura de Mossoró. Com isso, desde então o teatro não agendava eventos como peças teatrais e outros de cunho cultural.
“Na próxima semana devemos receber a visita da equipe técnica do Corpo de Bombeiros que vem analisar a estrutura e situações de acessibilidade como rampas, acessos e saídas de emergência”, explica Chico Window, diretor do Teatro Municipal.
De acordo com ele, o Teatro Municipal Dix-huit Rosado pode retomar programação a partir da segunda quinzena de maio, com a finalização de reparos e serviços de limpeza que estão sendo executados para que o equipamento possa ser reaberto.
Já o Teatro Lauro Monte Filho vai passar por obras de revitalização para abrigar o Centro Cultural Banco do Nordeste. O termo de cessão foi assinado pelo Governo do Rio Grande do Norte e os trabalhos de adaptação do prédio devem iniciar ainda em 2024. “As programações estão canceladas e desde o mês de março não estão sendo agendadas pautas. Isso ocorre em função da reforma interna que vai acontecer”, informa Enedina, responsável pelo setor de pautas do Lauro Monte. A previsão é de cerca de cinco meses sem a realização de eventos para as obras de adaptação.
Artistas lamentam situação
Apesar da previsão, artistas e produtores culturais lamentam a suspensão da programação teatral na cidade. “Nós estamos com os dois teatros fechados. Estamos sem opções de teatro na cidade de Mossoró. Uma cidade com quase 300 mil habitantes, que caso apareça alguma peça teatral de renome nacional, algum musical, algum festival, a gente tem que dizer não. Para mim, enquanto produtora cultural, é extremamente frustrante. Acho que a palavra que eu uso mais ultimamente é frustração, porque eu fui uma que cancelei várias peças, várias produções que eu tinha no Dix-huit Rosado, porque por conta dessa questão dele está fechado e sem previsão de retorno”, afirma Katharina Gurgel, produtora cultural.
O impacto da ausência de teatros em Mossoró afeta diretamente os atores de companhias locais. Mônica Danuta é da Cia Pão Doce e ela diz que isso demonstra a estrutura local voltada à cultura. “Mossoró tem em seu histórico cultural diversos teatros. E em sua maioria, todos fechados por abandono e descaso. É triste e preocupante ver Mossoró fora dos roteiros culturais de grandes produções de teatro, dança, música a nível regional e nacional por falta de estrutura e incentivo. É preciso ter um olhar mais atencioso para esses equipamentos, para que eles voltem a funcionar de forma potente e com ações culturais de fato”, lamenta.
A atriz Luíza Gurgel diz que a situação, mesmo provisória, evidencia a ausência de políticas destinadas à cultura. “Eu acho que a falta de teatro provisoriamente em Mossoró respinga num buraco muito mais profundo: o não entendimento da cultura como pauta prioritária. E falar sobre isso não significa ir de encontro ao Município, ao Governo Estadual ou ao Governo Federal, ou até mesmo às classes empresarial, religiosa etc, necessariamente, mas, sim, incide sobre todos e todas nós, enquanto cidadãs e cidadãos, e não colocar a cultura como prioridade numa gestão, independentemente de que instância e gênero for, diz muito sobre o que se quer para aquela administração pública e, sobretudo, para a população à qual se vive”.
A artista cita que Mossoró tinha mais outros teatros, como o Alfredo Simonetti, localizado por trás da Igreja do Alto de São Manoel, e o Teatro Kiko Santos, da Escola Estadual Jerônimo Rosado, ambos abandonados. Tem ainda o Teatro Epílogo de Campos, localizado na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, que é hoje almoxarifado. “O Teatro Municipal Dix-huit Rosado não se tornou abandonado pelo princípio de incêndio que aconteceu há alguns meses. Ele já vinha abandonado faz tempo. Teatro é para se receber teatro, música, cinema, dança, artesanato, artes visuais, cultura popular, arte em sua essência mais pura; e não eventos institucionais. O Teatro Dix-huit Rosado virou palanque político e segue sendo desrespeitado vergonhosamente. Já não tínhamos tanta esperança de uma retomada de si com relação ao Dix-huit, e com o incêndio do final de fevereiro, sem dúvida, isso será adiado por mais tempo. E, por fim, o Teatro Lauro Monte Filho que, para mim, segue sendo a única esperança de continuarmos fazendo arte na cidade de Mossoró pelos equipamentos públicos. Eu espero que a pausa desse Teatro seja rápida e em prol de um bem maior, de fato, que é o que está sendo prometido por meio do Banco do Nordeste”, finaliza.