Quando foi resgatada com outros 20 cachorros, Chica não imaginava o quanto sua vida poderia mudar em um ano. Há oito meses, a cadelinha, que hoje tem um ano, ganhou um novo lar.
A cachorra foi um dos animais resgatados no caso Abolição, que aconteceu em 23 de março de 2022. Após denúncia anônima de que uma mulher havia abandonado o filho e seus cachorros em casa no Bairro Abolição II, em Mossoró/RN, a Guarda Municipal foi até o local.
Lá foram encontrados um adolescente de 14 anos acompanhado de 21 cães, confinados em situações insalubres, sem higiene e sem acesso à alimentação. Vídeos divulgados nas redes sociais mostravam o grande acúmulo de lixo em todos os cômodos da casa, além de fezes e urinas dos animais.
Os 21 cachorros encontrados foram resgatados por ONGs de voluntários de proteção e causa animal de Mossoró – Abrigo Mossoró, Instituto Ampara e Instituto Renata Praxedes. Gleice Carle Barbosa, presidente do Abrigo Mossoró, conta que na época eles acolheram sete animais. Assim que foram resgatados, os cachorros passaram por avaliação médica.
“A gente levou pra uma clínica veterinária e foram feitas consultas. Fizemos hemograma em todos eles, foi feito teste de calazar e também teste de cinomose. Três dos sete ficaram internados. Quatro foram liberados para fazer tratamento na Instituição. Desses sete animais um deles tinha calazar e veio a óbito. Todos estavam subnutridos, todos estavam com anemia”, relembra Gleice Barbosa.
No Abrigo, todos os animais foram bem cuidados. Receberam vacinas, castração, e, é claro, um nome provisório: Soneca, Mestre, Zangada, Dengosa, Branca de neve e Feliz. A instituição fez diversas campanhas para conseguir arrecadar dinheiro para custear os gastos com os cachorros. Entre os doadores, estava a gestora de marketing, Bárbara Fonseca.
“Eu acompanhei todas as notícias e o resgate, ajudei financeiramente os abrigos e me pus à disposição para as caronas solidárias”, conta Bárbara.
A gestora, que já tinha cinco gatos, sempre teve vontade de adotar um cão. Quando o Abrigo postou nas redes sociais que Branca de Neve estava pronta para ser adotada, Bárbara não pensou duas vezes: “Quando vi o post do abrigo, me apaixonei, tinha que ser ela, foi feita pra mim! Fiz todos os trâmites para adoção e deu tudo certo”.
No novo lar, a cachorrinha recebeu então o nome de Chica. O amor foi tanto, que a tutora resolveu marcar na pele a sua história com a cadela. “A nossa convivência é perfeita, Chica é muito carinhosa. A gente se diverte muito juntas, passeamos todos os dias e a levo para todos os locais que eu vou. Estamos sempre juntas. Eu digo que a escolhi, mas ela que me escolheu e me tornou uma pessoa muito melhor”, afirma Bárbara Fonseca.
Assim como Chica, os outros cinco cachorros resgatados também foram adotados. A última filhotinha a ganhar uma nova família na semana passada. “Todos foram adotados, a última foi adotada essa semana. Até então todas adoções foram bem sucedidas, a gente não teve nenhum caso devolução por enquanto, e nenhum caso que a gente precisasse ir lá retirar o animal. Estão todos bem e que continuaram bem, felizmente”, fala Gleice.
Um ano após o resgate, a sensação é de alegria ao ver o caminho que os animais seguiram. Ainda assim, para a presidente do Abrigo, a lembrança do caso ainda é uma alerta para a necessidade de políticas públicas mais sólidas em relação à causa animal.
“O que fica para gente em um ano dessa história é que a sociedade precisa evoluir muito ainda. Não teve justiça do caso, a pessoa não não cumpre nenhuma pena, não paga nenhuma multa, nem as despesas. As instituições ficaram com o problema e com as dívidas. E a gente precisa evoluir também na legislação. Precisamos passar a encarar os animais como seres conscientes, que sentem dor, fome, emoções, e parar de tratá-los como um objetos, que podem ou não ser devolvidos para aquela situação horrorosa que eles saíram”, finaliza Gleice Barbosa.
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