No futebol, o termo ‘cria da base’ normalmente representa a maturidade de um clube. Significa que ele reconheceu um talento ainda muito jovem, preparou aquele atleta, deu estrutura e teve paciência para o fazer estourar para o mundo do futebol.
No atual mercado da bola, dois nomes potiguares estão bem colocados para responder a pergunta do título: Neto Caraúbas e Lupércio Segundo. Um é agenciador novo no ramo que vive na região oeste do estado, e tem muitos atletas de futsal. Outro pode ser considerado o empresário de futebol mais bem sucedido da atualidade – descobriu e detém parte do passe do atacante Gabriel Veron.
Uma rápida olhada nas redes sociais da empresa de Neto Caraúbas mostra a diversidade de atletas. Tem jogador de futsal indo para o Rio Grande do Sul, Lituânia, Tailândia, entre outros. A lista é formada basicamente por jogadores de futsal, mas também tem atletas de futebol de campo.
“Hoje eu tenho 40 atletas empregados entre futebol de campo e futsal – jogando no sul do país e fora do país. Jogadores de Mossoró, Governador, Apodi, Messias Targino, Viçosa, e do sul do país”.
Quando perguntado se a categoria de base do estado está forte, o agente revela uma notícia boa e outra preocupante. “Hoje é muito mais fácil ser notado e receber uma chance de ser avaliado. A própria rede social ajuda nisso.[] E pela facilidade de hoje, esta geração de jovens garotos não parece estar disposta a sofrer para ter resultados. Talento não basta. Não é apanhar, é abrir mão de algo hoje para colher o fruto amanhã. É treinar forte hoje para melhorar amanhã.”
Neto deixou de jogar profissionalmente a pouco tempo, e abriu a empresa de agenciamento de jogadores, mas mesmo conhecendo os caminhos sente dificuldades. “Eu tenho um atleta em Portugal, quatro na Eslováquia… já está se abrindo para outros países lá. No campo é muito difícil por causa da desonestidade que existe”.
O Sucesso do Santa Cruz de Natal
Para o empresário Lupércio Segundo, dirigente do Santa Cruz, existe uma diferença grande que precisa ser entendida: clubes formadores e grande clubes de torcida. Para ele, mesmo em clubes como Potiguar de Mossoró e Baraúnas, a torcida atrapalha o investimento em jogadores da base.
“Clube que não tem tanto apelo de torcida deve apostar na base.[] Quando você não tem a renda de iniciativas privadas e públicas, a fonte de renda mais palpável é realmente através da negociações de atletas. Foi isso que visualizamos no Santa Cruz, e foi nisso que acreditamos desde o início. Agora… garantia de retorno não há, é o risco do futebol”.
E como será que um atleta é encontrado no atual modelo dos clubes potiguares? Da forma mais antiga possível, através da observação em campo. Mas claro que hoje, aspectos físicos e psicológicos tem uma importância maior do que somente a habilidade com a bola.
“A gente tem parceiros, donos de escolinhas que nos avisam quando tem um talento. Mas a gente também realiza peneirões, participa de torneio e fica atento aos jogadores. Quando tem um talento que chama nossa atenção, normalmente a gente chama ele para uma semana de avaliação aqui no clube. E ele indo bem a gente faz um planejamento para dar sequencia no clube. []É um investimento de médio a longo prazo”.
Maior desafio
As categorias de base no Rio Grande do Norte ainda são muito precárias. Nem de perto chegam a ofertar as oportunidades existentes nos estados do Ceará, Pernambuco e Bahia. Para Neto Caraúbas, faz falta investidores que apostem em novos talentos como existem no Sport Recife e no Retro de Pernambuco.
“[No Rio Grande do Norte] a base de futsal nem existe, depende de prefeituras. E no campo, uns sobrevivem, outro maiores investem aqui e ali. E por isso não tem retorno de atleta que sai da base, por que o clube não investe na base. Você tem que passar seis ou sete anos com o atleta sem saber se vai dar certo, e os clubes daqui não querem fazer isso”.
Destaques que surgiram nas bases do RN:
Ayrton Lucas
O jogador do Flamengo nasceu em Carnaúba dos Dantas. Hoje é considerado um dos destaques do time de maior torcida do Brasil. Antes teve passagem pelo Fluminense e Spartka Moscou (Rússia).
Ayrton começou nas escolinhas de Carnaúba até fazer parte de um peneirão em Caicó, e chamar atenção do ABC sendo chamado para as categorias de base do alvinegro. Ele mesmo explicou num vídeo nas redes sociais:
A vida nas bases teve as dificuldades de praticamente todos os jogadores: ficar longe da família muito cedo, ter que aprender a viver com a pressão, e a insegurança se daria certo viver de futebol.
Gabriel Veron
Ele hoje é uma estrela do futebol, considerado por muitos, um dos maiores potenciais do futebol brasileiro. Gabriel Veron teve passagem destacada e cheia de títulos pelo Palmeiras, e hoje defende a camisa de um dos maiores times do mundo, o Porto (Portugal).
Mas até chegar ai teve uma longa trajetória. O talento no futebol começou a ser revelado na escola durante as competições de futsal. Até conseguir uma chance no futebol teve que provar o valor. Você sabia que Veron já vestiu a camisa do Potiguar de Mossoró?
O jogador veio de Assu para Mossoró aos 13 anos, fazer um teste no time mossoroense, mas foi dispensado e teve que voltar para casa. Só numa segunda oportunidade, agora no Santa Cruz de Natal conseguiu uma vaga definitiva na base.
O time do Santa Cruz de Natal foca na formação de talentos. E isso tem rendido bons resultados: o time está na primeira divisão do Campeonato Estadual, tem jogadores de sucesso como Gabriel Veron, e facilitou o caminho de entrada para os jogadores do estado.
Rodriguinho
Rodrigo Eduardo Marinho, o Rodriguinho, ou Reidriguinho, hoje é o camisa 10 do Cuiabá, mas já foi ídolo do Corinthians, Grêmio, Cruzeiro, chegou a entrar em campo com a camisa da seleção brasileira.
O início foi até num clube potiguar: o ABC. Destaque na base do clube alvinegro estreou como profissional no clube, mas ainda jovem, acabou sendo liberado. A situação foi tão estranha que Rodriguinho chegou a ser dispensado e mandado para o futsal do clube, por não fazer parte dos planos do time. Daí foi pro Bragantino, América Mineiro, e o resto é história…
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