Há cerca de um mês o amigo jornalista Marcelo Benévolo, com quem trabalhei anos atrás, me mandou uma mensagem.
– Chefe, tudo bem? Você ainda coleciona câmeras antigas?
– Opa, meu amigo Benévolo! Coleciono sim.
– Olhe só o que tenho pra você.
Nem acreditei quando vi.
A frase vinha acompanhada de fotos de câmeras antigas (uma das minhas paixões). Nos registros, uma JVC VHS, uma Pentax com lente 50mm, uma Yashica 75mm, uma pequena e rara Oympus Pen, três lentes teleobjetivas e uma grande angular. Pois bem, hoje essa encomenda generosa chegou em minhas mãos. Vão trazer novas histórias para minha singela coleção. A velha Yashica, já soube, registrou muitos momentos no Recife Antigo, pelo olhar do patriarca da família Benévolo.
A fotografia e as câmeras me fascinam desde muito cedo. Em um dos meus exemplares, um modelo Canon CanoDate (que assinalava a data no negativo), há o seguinte registro: day 20 | month 11 | year 1988. Nunca mexi nesses marcadores. Fixo os olhos no infinito e imagino o que fora capturado naquele novembro no final da década de oitenta. Isso me toma um agradável tempo de silêncio imagético. Quem fora o alvo dessa fotografia? O que aconteceu naquele dia?
Penso (com meu jeito otimista) que foi um dia feliz. Como um jornalista curioso, claro que já pesquisei a data e sei que se trata de um domingo. Na minha construção, creio que foi uma linda manhã de outono e, quem sabe, meus personagens contemplavam o nascer do sol em alguma praia após chegarem lá de motocicleta. Aquelas big trails com um banco confortável e motor robusto. Uma viagem embalada pelo vento da madrugada. No assento do garupa ela o apertava com força para tentar esquentar o corpo.
Olho para todas as minhas câmeras e viajo nesses devaneios. As lentes alcançam até o limite da emoção do fotógrafo. A sensibilidade é que faz a captura. Depois do disparo, o instante é aprisionado no tempo e jamais estará lá novamente. Não adianta. Não é possível repetir uma foto.
Às vezes, nessa minha veia nostálgica, revejo algumas fotografias e imagino se pudéssemos nos transportar àquele momento. Seria incrível se tivéssemos esse poder. Reviver as sensações de verdade nos segundos capturados pelas câmeras.
Há fotos que carregam consigo tanto sentido, tanta vida, tanta alegria, tanta arte, tanto sentimento que são um convite a uma visita demorada. Se no campo da imaginação elas já fazem bem, que dirá se tivéssemos a chance de viver de novo os instantes aprisionados. Não desperdice as chances. Nem as fotos.