Os produtores de melão do Rio Grande do Norte vem enfrentando dificuldades para exportar a produção do Estado. Além das chuvas e a falta de transportes outra dificuldade tem preocupado os produtores: o anúncio de encerramento das atividades da maior empresa de transporte de contêiners no Porto de Natal. A solução encontrada seria escoar a totalidade das cargas de frutas pelo Ceará. Atualmente metade da produção de frutas já é exportada pelo estado vizinho.
De acordo com o sócio-fundador da Agrícola Famosa, Luiz Roberto Barcelos e diretor institucional da Associação Brasileira dos Exportadores de Frutas (Abrafrutas), parte da carga passou a ser transportada em fretamento próprio de navio pelo Ceará. A vantagem, segundo ele, é que, com isso, se consegue escoar a produção sem atrasos como ocorriam nos navios de contêiner partindo de Natal.
“Se ocorrer a saída da empresa, vai ficar praticamente sem ninguém para operar no Porto de Natal e teremos que buscar outras operadoras, mas no momento não sei de nenhuma. As frutas continuarão sendo produzidas, mas serão exportadas pelo Ceará em vez de sair pelo Rio Grande do Norte”, disse ele.
Para o presidente do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (COEX), Fábio Queiroga, disse que apesar do desejo de fortalecer o Porto de Natal, o terminal não atende à demanda em sua plenitude, o que torna o problema ainda mais complexo. “Temos enfrentado problemas com as empresas que terceirizam os contêiners vazios devido a demora do Porto de Natal, superando a do porto de Fortaleza que está mais próximo das fazendas de melão de Mossoró”, disse o presidente do Coex.
As limitações também passam pela profundidade adequada para o calado de navios maiores. Fábio Queiroga relata que há uma pressão dos órgãos internacionais para que os navios que transportam contêiners transoceânicos sejam de grande porte, de modo a maximizar a eficiência energética, mas os que atracam em Natal são pequenos.
“São três limitações do porto para navios de grande calado: a profundidade por ter um acesso raso no rio; a altura, por causa da ponte; e as defensas que não existem. Por isso, os navios só podem transcorrer entre o porto e o oceano no período diurno e as companhias reclamam que os navios que terminam o carregamento no final do dia, só podem seguir viagem no dia seguinte, gerando um custo operacional maior”, relatou Fábio Queiroga.
Entidades buscam soluções
A Codern está dialogando com as federações que representam o setor produtivo, a fim de encontrar soluções para compensar a perda que a saída da empresa de contêiner deve ocasionar para as operações e transporte de cargas no Porto de Natal. “Estamos em contato com as federações, sindicatos e produtores colocando para eles essa situação, trocando ideias no sentido de que buscarmos alternativas. Às cooperativas de pequenos produtores, sugerimos que se unam, façam pool de carga, porque se cada um produz um pouco, quando somados geram sinergia e aí, procurem um operador para exportar esse material”, sugere o brigadeiro Carlos Eduardo da Costa Almeida, diretor-presidente da Codern.
De acordo com o presidente da Faern, José Vieira, a entidade, juntamente com a Federação do Comércio (Fecomércio), da indústria (Fiern) e do transporte (Fetrans) integram um grupo de trabalho juntamente com a Codern para fazer o levantamento da demanda, do potencial do porto, volume de exportação em contato com algumas empresas de logística marinha. Ele acredita que outras empresas se interessarão em em atuar no porto de Natal, entre elas, a Intermarítima Portos e Logística/SA, que opera no Terminal Salineiro de Areia Branca. A estimativa é de que o porto atenda as necessidades em até 800 contêiners por semana durante a safra que deve seguir até o mês de abril.
“Estamos conversando com a Intermaritima que tem todo o interesse de trabalhar no Porto de Natal, desde que tenha demanda. Esperamos que tão logo a gente consiga dar tranqüilidade a todos os exportadores, principalmente de fruta, que sai pelo porto do Rio Grande do Norte”, prevê. Além disso, ressaltou que a Faern está trabalhando para que o Porto de Natal não deixe de ser viável. “Estamos conversando com toda a cadeia produtiva do setor, principalmente da fruticultura, não só do Rio Grande do Norte, mas de outros estados, que também fazem exportação pelo Porto de Natal”, enfatiza José Vieira.
O melão representa, atualmente, o segundo item na pauta de exportações potiguar, com 63 mil toneladas enviadas para outros países no primeiro semestre de 2022.