Antônio Ribeiro de Souza, de 59 anos é pescador desde criança. Morador de Morro Pintado, em Areia Branca/RN, ele tira o sustento da casa do pescado. Assim como todos os dias, no último sábado (03), Antônio Ribeiro saiu de madrugada para pescar, mas não voltou no fim da tarde como de costume. Depois da embarcação virar, ele, juntamente com outro pescador, passaram mais de 24h à deriva no mar.
Antônio e o seu colega, Willame Jeisson Franco Evaristo, 35 anos, saíram para pescar por volta das 3h do dia 03 em uma jangada. O plano era passar o dia pescando e retornar para casa no fim da tarde. Mas por volta das 14h30, quando já estavam se preparando para voltar, uma ventania forte junto com a agitação da mare viraram a embarcação e jogaram os pescadores no mar.
Como os dois não tinham força suficiente para desvirar a jangada no mar agitado, eles subiram no casco, se amarram no barco e ficaram à deriva. Os pescadores foram levados pela correnteza durante toda a noite, e além do forte frio, Antônio e Willame sentiram muita fome, sede e câimbras na madrugada.
“Partiu pra noite ai nós não podíamos fazer mais nada. Só descendo, descendo, de água abaixo”, conta Antônio. “Quando amanheceu a gente ia olhando pra ver se vinha algum barco pra dar uma ajuda, mas não apareceu ninguém porque era domingo, no domingo fica difícil aparecer algum. A gente já ia no mar do Ceará”, completa Willame.
Na manhã do domingo (04) já nas praias do Ceará, nas proximidades de Ponta Grossa, com o mar mais calmo, os pescadores conseguiram desvirar o barco e iniciar a volta para Morro Pintado. “Foi uma batalha grande, mas conseguimos chegar”, lembra Williame.
Ainda na manhã do domingo a família de Antônio entrou em ação e contatou Capitania da Marinha de Areia Branca avisando do desaparecimento dos pescadores. As buscas foram iniciadas, mas nas primeiras horas de procura, não haviam notícias da embarcação. Bruna Cunha, enteada de Antônio, conta que ao longo desses anos o pescador já havia sofrido outros acidentes e naufragado no mar, mas dessa vez a angústia da família foi maior, por causa da idade dele.
“A gente passou o dia todo muito angustiados, a família muito aflita, mas infelizmente sem notícias. A gente temia muito porque ele já está mais velho, pesado, cansado… E a gente temia que ele não conseguisse resistir como das outras vezes. Foi um momento muito difícil, mas a gente tinha fé que ele ia voltar com vida”, diz Bruna Cunha.
Quando Antônio e Willame conseguiram chegar em Morro Pintado já passava das 16h do domingo. Ao avistar de longe a jangada, um popular avisou aos outros moradores da comunidade. Os pescadores foram recebidos pela família e amigos com muita emoção, com direito a aplausos e gritos de comemoração. “Nos apegamos com Deus. O que tínhamos a fazer era nos apegar com Jesus, foi ele que ajudou a gente. Quando chegamos no seco, tinha muita gente esperando a gente, a emoção foi grande, porque o que nós passamos…”, conta Antônio.
No vídeo que registra a chegada dos pescadores na praia, é possível ver Antônio chorando abraçado com a esposa, Terezinha Batista. Casados há mais de 30 anos, para a mulher o retorno do marido para casa foi um milagre. “Imagine você passar a noite à deriva no mar, na imensidão do mar, sem ver terra, sem ter onde se segurar em cima de um barco. Amanhecer o dia, está vivo, e ainda chegar em casa sã e salvo, ai sim é nascer de novo. É um milagre!”, diz Terezinha.
Além do desgaste emocional, os pescadores chegaram na costa cansados e com muita fome. A jangada teve alguns prejuízos por causa do acidente, e vai precisar de alguns reparos para poder voltar a ser usada. Apesar do susto, assim que o barco for concertado, os pescadores pretendem voltar para o mar. “Quando terminar de ajeitar a jangada ele volta. É o meio de vida dele, né? Ele não passa muito tempo sem ir pro mar, não. Eu acho que na outra encarnação ele era um tubarão”, brinca Terezinha Batista.
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