Foi enaltecendo o protagonismo feminino na construção da história do Brasil, que Letícia Maria Morais se tornou, aos 14 anos, uma das vencedores do concurso nacional de poesia. Estudante da Escola Estadual 26 de Março, localizada no município do Paraná/RN, Letícia terá seus versos publicados em livros didáticos de todo o país.
O concurso realizado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), tinha como tema “Brasil 200 Anos de Independência: Lendo nossa história, escrevendo nosso futuro” e selecionava entre as redes municipais e estaduais de ensino de todo o Brasil, as melhores produções literárias.
A estudante que conta que só tinha costume de escrever poesias na escola, e foi através do incentivo de um professor que ela resolveu participar da competição. “A gestão da escola viu sobre o concurso e meu professor de português, Carlos Alves, decidiu por a ideia em prática na turma do 9° ano. Ele apresentou a ideia do concurso e temas que daria bons textos. Depois do meu primeiro rascunho decidi escrever sobre a participação das mulheres, não só na independência, mas na história do Brasil como um todo”, diz Letícia Maria.
Apesar da pouca idade, a estudante sentiu a necessidade de dar visibilidade à mulheres que fizeram do Brasil o país que é hoje. Maria Quitéria, Irmã Joana de Jesus e Maria Felipa foram algumas das histórias citadas por Letícia no texto “Mulheres da História, Espelhos do Futuro”. “Quis mostrar que elas também tiveram importância, já que, infelizmente, elas mal aparecem nos livros didáticos e quando aparecem é um pequeno trecho. A poesia ficou voltada para o estilo do cordel que faz parte da nossa cultura nordestina. Eu tive ajuda do professor Carlos, que foi meu orientador”, conta.
O texto foi analisado por uma comissão avaliadora que levou em conta cinco critérios para selecionar as melhores poesias de cada região: criatividade, contextualização, harmonia estética (ritmo, rima, métrica), autenticidade e expressividade. O resultado preliminar saiu em novembro, foi quando Letícia soube que sua nota havia sido a maior do nordeste e a segunda maior do Brasil. Uma alegria partilhada por ela, pela família e por toda a escola.
“Todos aqui de casa pularam de alegria, assim como o pessoal da gestão da escola e o professor. Desde então nós estávamos esperando o resultado oficial e na semana passada encontramos uma publicação que oficializava o resultado e que comprovou o resultado preliminar. O Paraná, meu pequeno município que tem cerca de 5 mil habitantes, ficou muito alegre por esta conquista”, diz a estudante.
Em breve Letícia vai viajar para Brasília para receber a premiação terão e sua poesia será impressa nas quartas capas dos livros didáticos do PNLD 2024. Mesmo escrevendo textos apenas para os trabalhos da escola, ela pretende daqui pra frente se dedicar mais à escrita, e sabe que terá o incentivo da família e professores. Assim como as mulheres que fizeram parte dos versos do cordel dela, Letícia pretende crescer e protagonizar sua própria história.
“Eu fiquei muito feliz, muito mesmo, está sendo esplendido ter conquistado isso e é simplesmente incrível. Eu pretendo continuar estudando e fazer uma boa faculdade para me formar e ter um futuro melhor. Acredito que todos nós podemos alcançar nossos objetivos através dos estudos”, finaliza Letícia.
CONFIRA A POESIA FEITA PELA ESTUDANTE NA ÍNTEGRA
MULHERES DA HISTÓRIA, ESPELHOS DO FUTURO
Caros alunos brasileiros,
Venho aqui lhes contar
A história destas mulheres
Que defenderam seu lar.
Moças que foram à luta
Em versos vou apresentar.
Maria Leopoldina,
Esposa do imperador,
Pressionou seu marido
A ser cooperador
Na relação entre Brasil
E Portugal divisor.
Conhecem Maria Quitéria?
Forte e independente!
Entrou nas forças armadas,
Vestindo-se de homem valente,
Soldado Medeiros se fez
Conhecida assim do tenente.
Primeira mulher brasileira
Na força armada a entrar,
Fiel heroína da pátria ,
Antes, a seu pai foi desafiar,
Para sem medo ingressar na luta,
E seu país ajudar.
Teve também na Bahia
Que o cargo de abadessa exerceu
Irmã Joana de Jesus
O convento da lapa, ela defendeu
Impedindo que os soldados entrassem lá
E por isso ela morreu.
Maria Felipa, marisqueira…
Pescou os portugueses sedentos
Escrava de corpo,
Mas não de mente
Liderou um grande grupo
Por uma Bahia independente.
Bela negra, capoeirista
De Itaparica, nação.
Seduzia os portugueses
E Surrava-os de cansanção.
Queimou o que Portugal tinha
Ali de embarcação.
A luz que em outrora brilhou
Das ativistas aqui lembradas
Resplandeceu no Brasil República
Em muitas mulheres arretadas
Que da mesma sina sofreram
De sangue, nas lutas eternizadas.
São tantas almas sedentas
Que buscam por mais justiça
Não deixam a morte vencer
Sem cavalos, gritam: é vida!
Mulheres inspiradoras
Que morrem por outras vidas.
Bebiam os camponeses
O amargo mel da cana
Sem direito e liberdade
Contra isso sem engano
Lutou, morreu Margarida Alves
Uma flor paraibana.
Da mesma má sorte e sina
No céu verde cintilava
Irmã Dorothy, uma estrela
Que na terra brilhava
Defendeu os sem-terra
E a reforma agrária.
Dando continuidade Na busca de igualdade
Doutora Zilda apostou
Numa nova sociedade
Salvou da fome crianças
Na Pastoral Caridade.
É ironia dizer
Que foi justo no Haiti
Vítima de um terremoto
Que veio lhe atingir,
Mas vivas estão as mulheres
Que ela ajudou a parir.
São incontáveis mulheres
Que merecem nos livros um lugar
Nunca desanimaram
Nem deixaram de sonhar
Por um Brasil independente
E no futuro pra sempre,
Em berço esplêndido
Seu filho repousar.