O trabalho braçal faz parte da vida de Douglas Alves da Silva, 26 anos, desde muito cedo. Assim como os pais, ele nasceu e cresceu no Sítio “Sítio”, zona rural do município de Antônio Martins, interior do Rio Grande do Norte. Ele viu dona Luciene e seu Miguel tirarem o sustento da casa do arado da terra e da criação de animais.
São tantos anos dedicados ao ofício, que Douglas não se recorda ao certo com qual idade de fato começou a ajudar os pais na roça. Aprendeu de tudo um pouco, e quando se casou com Síria da Silva Lima, 27, há nove anos, mesmo vivendo de bicos e trabalhando “alugado” – como ele mesmo descreve, nunca abriu mão de fazer o que mais gostava: criar bodes e porcos em seu pedaço de terra.
Foi numa conversa com os amigos, cerca de seis anos atrás, que surgiu a ideia de investir em si mesmo. “Como sempre gostei de criar aqui no interior, eu fui criando. Aí meus amigos perguntaram: “Douglas, já que você cria, por que você não abate para vender isso?”. Aí eu comecei a abater a criação de bode toda semana. Eu matava um bode e vendia pro pessoal”, conta o produtor.
Apesar de muito jovem, os amigos conseguiram enxergar em Douglas algo que nem ele mesmo sabia que existia: o potencial de empreender. Em pouco tempo, só o abate de bodes não era mais suficiente e ele começou a abater porcos. A ideia de arriscar e abater animais maiores também veio do incentivo dos colegas. Com esforço, ele conseguiu o capital e deu início a criação de bois. Mas para que um negócio cresça, não basta apenas ter coragem e força de vontade, é preciso ter investimento.
A pecuária bovina exige mais dinheiro para ser mantida do que as demais, tanto no que diz respeito à ração para os bois, quanto ao abater e ao tratamento da carne que vai para o prato do cliente. Douglas começou a necessitar de mais dinheiro para manter a criação. Não tinha condições de sustentar a produção, ao mesmo tempo tinha a certeza que poderia crescer no ramo. Foi quando, pela terceira vez, os amigos fizeram a diferença na trajetória do pequeno empreendedor.
“Depois de um certo tempo com o comércio, eu precisava de mais dinheiro pois o boi é muito caro. Foi aí que um amigo me indicou a fazer o Crediamigo (uma linha de crédito do BNB). Ele falou que na hora que a gente fazia, trazia o dinheiro, ia pagando por mês e depois que eu fizesse o Crediamigo eu podia fazer o Agroamigo, e eu fui me interessei e assim eu entrei pela primeira vez no grupo” relembra Douglas Alves.
O PEQUENO PODE SER GRANDE
Até o dia que cruzou a porta do Banco do Nordeste pela primeira vez, Douglas nunca tinha ido numa agência bancária, não tinha conta, muito menos sabia como realizar movimentações no caixa eletrônico. O primeiro contato com o Crediamigo foi o início de uma relação que perdura até hoje.
Criado em 1998, o Crediamigo é um programa de microcrédito orientado que tem o objetivo de facilitar o acesso a financiamento para empreendedores de diversos segmentos, formais ou informais, sejam da indústria, do comércio ou de serviços. O programa acredita que o pequeno negócio pode ser grande, e contribuir de forma significativa para o desenvolvimento regional.
A adesão ao sistema pode ser feita em grupo ou de forma individual, como explica Jardeu Amorim, agente de crédito do programa: “As pessoas montam esse grupo, a gente explica a metodologia, todo mundo é avalista de todo mundo. Há todo um procedimento desde a visita de um coordenador, a visita de um segundo agente de microcrédito para consolidar esse grupo, pra ver se realmente essas pessoas têm essas atividades. Faz todo um preenchimento de uma tabela, para que possam ser levantados dados e aí sim a gente poder fazer os financiamentos”.
O primeiro empréstimo precisa ser realizado em grupo e tem um prazo de quatro meses para ser quitado. A partir de seu desempenho, os clientes ganham mais vantagens e podem renovar o crédito e aumentar o valor para investir em seus negócios. Foi em uma dessas renovações que Jardeu e Douglas se conheceram. O produtor faz parte dos mais de quatro mil clientes ativos na agência do BNB em Umarizal/RN, responsável por 14 cidades circunvizinhas. Jardeu e outros cinco agentes são encarregados de diminuir a distância e a burocracia de quem precisa ter acesso ao crédito.
“O objetivo é justamente dar uma facilidade ao pequeno empreendedor, aquele que pouquíssimas vezes teve chance de chegar numa agência bancária, numa grande empresa para conseguir financiamento. É trazer para aquela pessoa que quer investir, a linha de crédito destinada para ela”, explica Jardeu Amorim.
O OLHO DO DONO ENGORDA O BOI
Assim como na agricultura, o cultivo e a paciência fizeram a diferença no negócio de Douglas. Do Crediamigo em grupo, para o individual, até o Agroamigo, ele conseguiu montar o próprio frigorífico que hoje estampa seu nome.
A rotina é pesada, principalmente porque ele cuida sozinho da maior parte do comércio. Às 4h, antes mesmo do sol raiar, Douglas já está de pé. A manhã é dedicada aos cuidados com a criação, colocando água e comida, e também ao atendimento aos clientes. Cerca de 30 famílias moram no Sítio “Sítio”, típico lugar do interior onde todo mundo se conhece e se ajuda. Apesar da comunidade ser pequena, não faltam clientes para Douglas e às 6h já tem gente batendo palma na porta para comprar a carne que será feita no almoço.
Nas tardes o movimento é mais tranquilo e ele consegue cuidar da parte administrativa do frigorífico. O abate dos animais também é por conta do empreendedor, que às terças e sextas troca o balcão e a calculadora pelo avental e facas, e coloca a mão na massa. Apesar do acúmulo de funções, o cansaço é compensado pelo resultado. Acompanhar todo o processo do trabalho permite que Douglas garanta a qualidade do seu produto, algo que se orgulha bastante.
De boca em boca a fama da carne vendida pelo produtor saiu da zona rural, percorreu pouco mais de 7km e chegou à Antônio Martins. Com o crescimento das vendas, Douglas precisou não só de mais investimento, mas também de orientação para saber como expandir seu negócio. Novamente recorreu ao Banco do Nordeste e aos agentes de crédito, que juntos deram o suporte necessário.
“A diferença foi muito grande no meu negócio, porque o Banco do Nordeste está à disposição para ajudar nós que vivemos do comércio, que precisamos, e eles estão lá sem exceção. Para todo mundo. Depois que eu conheci o Banco do Nordeste meu comércio melhorou quase 100%”, diz Douglas Alves.
O acompanhamento que é feito mensalmente pelos agentes ajudou o produtor a reconhecer quais pontos precisavam ser melhorados por ele para que o comércio pudesse progredir. Para Jardeu Amorim, o diferencial do seu trabalho consiste na continuidade. Conhecer os clientes, ajudá-los a dar o pontapé inicial, mas principalmente, continuar ao lado deles para conseguir assistir a colheita dos frutos.
“Esse é um dos grandes diferenciais do Crediamigo, um acompanhamento que busca estar sempre atento ao cliente, ao que está acontecendo, como é que ele está. É algo mais humanitário do que simplesmente uma empresa financeira robótica. Há essa relação interpessoal. São pessoas reais, conversando, visitando o cliente, orientando ele a como investir, a como usar esse recurso para que ele possa ter um retorno financeiro lá na frente, melhorar suas vendas, melhorar a sua atividade comercial, e consequentemente manter essa parceria”, observa o agente de crédito.
O EXEMPLO QUE IMPULSIONA
Se o exemplo ajuda a ensinar, na casa de Douglas não foi diferente. Síria, a esposa dele, foi impulsionada a empreender. Os cuidados com o lar e com o primogênito do casal preenchiam os dias dela. Mas assistir a trajetória de dedicação do marido, despertou nela a vontade de construir algo. Síria decidiu que iria apostar no próprio negócio.
A afinidade com os cosméticos fez com que surgisse a ideia de vender produtos de beleza e autocuidado. Depois de abrir as portas da casa tantas vezes para receber os agentes que vinham para ver Douglas, foi a vez de Síria ser a pivô das visitas. Ela buscou o Crediamigo, conseguiu o financiamento e começou a tocar o seu negócio. Hoje, marido e mulher são beneficiados pela linha de crédito. Dividem a casa, os cuidados com os filhos e a experiência do comércio.
“Minha mulher foi vendo com o decorrer do tempo que o negócio foi progredindo e ela também se interessou pelo Crediamigo, e hoje tanto eu como ela somos clientes. Hoje o comércio da gente está muito bem, tanto meu como o dela. Nós estamos bem, mesmo diante de todas as dificuldades. Desde quando a gente começou para hoje, o nosso comércio cresceu bastante”, comemora o empreendedor.
Essa estabilidade foi mais do que importante quando a pandemia de Covid-19 chegou e atingiu a economia. Assim como milhões de outros pequenos empreendedores espalhados pelo Brasil, Douglas e Síria sentiram os impactos do isolamento social nas vendas. Só em 2020, primeiro ano de pandemia, o BNB liberou mais de 3,54 milhões de empréstimos – R$ 9,52 bilhões aplicados. Um investimento que ajudou o produtor a enfrentar as dificuldades nesse período. “O banco deu mais meses pra gente pagar e ele foi muito bem em cuidar dos seus clientes com a pandemia”, lembra Douglas Alves.
Com o isolamento, as reuniões entre os beneficiados pelo financiamento também deixaram de acontecer. A distância dos agentes, no entanto, fez os empreendedores se reinventarem. A saída foi se aproximar da tecnologia e começar a usar o aplicativo do banco. A adaptação ao uso da internet mudou não só a forma de Douglas acompanhar seus empréstimos, mas toda a sua relação com o dinheiro.
“No início, eu como sendo muito novo no banco, achei estranho. Mas hoje eu já estou bem acostumado. Tem o aplicativo que além de nos ajudar, tem o Pix que facilita receber os pagamentos na minha conta, me ajudando a movimentar o dinheiro sem problema nenhum. Isso tudo tem facilitado muito”, destaca.
Quase seis anos depois do dia em que abriu a única conta que tem até hoje, o Douglas de agora se sente um empreendedor muito mais confiante e experiente do que aquele que deu início à criação de animais. Diferente de muitos, o produtor não sonha com grandes saltos. Assim como o BNB, que enxerga nos pequenos empreendedores a força para o desenvolvimento regional, para Douglas, ter consolidado seu frigorífico como o maior da comunidade já é uma grande conquista. Uma história de trabalho e amizades que ele pretende contar para os filhos.
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