Para esta semana resgato esse escrito de anos atrás.
Na sala do meu apartamento há uma máquina de datilografar Olivetti. Dia desses o objeto já em desuso nos tempos de hoje despertou a atenção dos meus filhos. Da mais velha, pela curiosidade acerca do ofício de jornalista. Do mais novo, pelo formato mais rudimentar que difere dos modernos tablets e smartphones. Enquanto eu detalhava o funcionamento da velha Olivetti (onde o papel ficava, onde a fita com a tinta era encaixada), falava que as matérias eram escritas pelos repórteres naquele equipamento e que eu, na minha adolescência, fizera curso de datilografia, o caçula (após um silêncio reflexivo) fez o seu comentário: ‘painho, então isso aí é um computador sem tela que já vem com impressora’. Pronto. Estava simplificado.
Há mais uma década meu filho do meio, começava a desenvolver seu vocabulário. Como toda criança de três anos ele encontrava expressões para se fazer compreender. Lugar onde se almoça não era restaurante, era ‘almoçaria’. “Se onde come pizza é pizzaria, onde almoça é almoçaria, painho”, ponderava ele. Muito justo, inclusive.
Relendo esses dias o poeta Manoel de Barros, que brincava com as palavras com maestria e falava com simplicidade das coisas, lembrei de uma frase dele num dia nublado em Mossoró. Estávamos indo à escola de carro e quando começaram a cair os primeiros pingos ele de imediato me alertou: ‘painho, ligue o esfregador de chuva’. Num primeiro instante me perguntei o que danado era um esfregador de chuva, mas observando ele com o pequeno indicador em riste de um lado para o outro, logo captei a mensagem e acionei o limpador de para-brisa. Para as crianças não é difícil ser simples. Sejamos, pois.