A enfermeira Sâmara Alves, 35 anos, foi aprovada no Mestrado em Saúde e Sociedade da UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Ela compartilhou a classificação com alegria nas redes sociais: “Sem Ti, Senhor, eu JAMAIS teria sido capaz de conquistar essa vitória tão especial e desejada”.
Mas, a comemoração foi substituída pela frustração de ser desclassificada no processo seletivo, após a Junta Multiprofissional indeferir a solicitação da vaga para Pessoa com Deficiência. A enfermeira, entrou com recurso para contestar a desclassificação na seleção de Mestrado, “Entrei com recurso administrativo, porém não me deram resposta. Me falaram apenas que não tinha prazo para me responderem, as aulas começam próxima quarta e eu fui excluída do certame”.
No ano de 2021, Sâmara Alves, descobriu aos 34 anos que possui Transtorno do Espectro Autismo – TEA, ao realizar um tratamento com a filha, de 6 anos, que também possui autismo. No edital que a enfermeira concorreu a vaga no Mestrado, garantia duas vagas para Pessoas com Deficiência. Mas, após passar pela Junta Multiprofissional, a banca julgou como improcedente a solicitação dela. Segundo Sâmara, a avaliação não aconteceu de maneira justa, contrariando a Lei Brasileira de Inclusão – LBI, de 2015.
“Questiono se eles tinham uma capacitação prévia de instrumentos de avaliação biopsicossocial. Conforme a LBI, em caso necessário, a verificação da deficiência deve ocorrer por meio de uma avaliação biopsicossocial. Essa avaliação é realizada através de um instrumento estruturado, com pessoas treinadas para aplicá-lo. Não foi o que aconteceu comigo”, afirmou .
Por meio de nota, a UERN informou que obedeceu todos os critérios necessários durante a avaliação da Junta Multiprofissional. “Em processos seletivos, para ocupação de vagas destinadas a pessoas com deficiência em cursos de graduação, pós-graduação e concursos, a Uern conta com o trabalho da Junta Multiprofissional que é composta por várias especialidades e realiza a avaliação biopsicossocial, considerando aspectos biológicos, sociais e psicológicos. Uma vez reconhecido pela Junta, inicia-se todo o acompanhamento sistemático por profissionais qualificados e especializados, considerando as especificações de cada discente com deficiência”.
A candidata de 35 anos, falou que possui seis laudos diferentes, confirmando a deficiência. “tenho quatro laudos de quatro psiquiatras diferentes, um laudo de uma psicóloga e um laudo de um fonoaudiólogo”, contou em entrevista ao TCM Notícia.
“Fui submetida a uma rápida entrevista, com perguntas desconexas, sem padrão e mesmo assim discorro sobre todos os aspectos da minha vida em que a minha deficiência me afeta, como por exemplo: não consigo socializar, não tenho vida social, não frequento ambientes sociais, não consigo ir a um supermercado sozinha, não consigo dirigir, sou evangélica, porém nem na igreja eu consigo ir”.
De acordo com ela, a própria relação com os filhos é afetada pela forma como autismo modifica a conduta dela. Se sentindo impedida de realizar passeios cotidianos, como ir a praça da rua com os filhos.
“Existe uma pracinha quase em frente a minha casa e eu nem consigo levar as minhas filhas para passear lá. Me sinto um elefante amarrado na perna de uma cadeira de plástico. Só eu sei o peso do meu autismo leve. Quando frequento ambientes com muitas pessoas, adoeço fisicamente quando chego em casa, fico completamente esgotada, sinto dores, tenho febre emocional. São tantas coisas que eu poderia passar o dia inteiro aqui te contando” finaliza.