Temo fechar os olhos e cem anos terem se passado. Os dias, por vezes, duram apenas os centésimos do abrir e fechar das pálpebras. Você já teve essa sensação? Não me agrada essa percepção, mas sei que, vez por outra, essa variável quantitativa denominada “tempo” vira as costas para algum de nós. Como tomasse emprestadas as sandálias de Hermes, e voasse sem olhar para trás.
Mas do mesmo modo que nos perdemos do tempo, um sopro de Eólo é o suficiente para dominarmos o andar das nuvens e aterrissarmos exatamente no ponteiro do relógio no instante em que desejamos estar.
Bom seria se a mitologia abraçasse o mundo real e os deuses nos permitissem domar o espreguiçar do sol sobre as águas e árvores. Mas asas nos pés, o poder de invocar raios e trovões não pertencem aos mortais. A nós, apenas a prosa do dia-a-dia. E como disse meu poeta preferido, “o tempo só anda de ida”. Manoel de Barros nos banha com sua simplicidade e nos dá as lições mais genuínas de sabedoria.
Ora, se não somos o próprio Cronos, como querer voltar a fita do tempo para refazer os caminhos ou reviver os segundos? Como desejar viajar para o futuro e nos encontrar com o por vir? Impossível.
Sejamos tolerantes com nós mesmos. Indulgentes com nossas falhas e otimistas com o amanhã. E sem esquecer: não controlamos o balé das ondas no mar. Mas é possível dar o melhor de si em cada novo amanhecer. Para a filosofia hinduísta em si, a vida é neutra. Nós a fazemos bela, nós a fazemos feia. A vida é a energia que trazemos a ela. A felicidade é o que você é, não o que você tem.
Aproveitemos bem o nosso tempo. Ele não volta. Não nos espera. Só anda de ida.