Tenho o hábito de assistir trechos de programas de TV em que pessoas apresentam suas expressões artísticas. Aqueles em que os candidatos ficam em frente a três (ou mais) jurados. Admito que tenho um olhar crítico algumas vezes, mas meu objetivo principal é ser capturado pela arte. Apesar de toda minha praticidade no dia a dia, sou um sujeito sensível (eu diria até chorão). Isso foi agravado depois da paternidade anos atrás. Minhas perspectivas mudaram muito. E gosto disso.
Esses dias fui tocado pela sublime interpretação de um jovem cantor lírico de apenas 13 anos de idade, chamado Malakai Bayoh. Nessas zapeadas pelo feed me deparei com Malakai num programa da TV britânica. Ele interpretou a canção Pie Jesu (Jesus Piedoso).
Confira o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=0lYs7oOonFU
Em segundos me desconectei de quaisquer aspectos técnicos, estéticos, televisivos e aportei noutra dimensão. Fui arrebatado pela voz daquele adolescente e as lágrimas eram apenas minha alma transbordando a sensação genuína de ser envolvido no abraço da arte.
Isso já me aconteceu tantas vezes. Com o canto, o talento dos instrumentistas, a dança, o teatro. Cada vez que me desconecto do mundo físico e mergulho em mim mesmo, me recordo de uma leitura feita há mais de uma década. Uma fala da escritora, poetisa e professora Adélia Prado extraída do artigo O Poder Humanizador da Poesia. Adélia (no meu modesto entendimento) é quem melhor consegue traduzir o que é arte e como ela dialoga conosco.
Trago aqui um recorte desse texto (fruto de uma aula magna em Minas Gerais) que me representa integralmente:
“A arte consola, conforta, é pão espiritual. Há uma fome em nós que nenhuma prosperidade material, que nenhum sucesso material pode saciar. Você continua faminto, faminto de transcendência, algo que me diga: você é mais que seu corpo, você é mais do que suas necessidades básicas, você é mais do que essa coisa quantitativa, você é aquilo que está presente no seu desejo, no seu sentimento e na sua alma. Arte é para o sentimento, é para a sensibilidade, é para a inteligência do coração e não para a nossa inteligência lógica” (Adélia Prado, 2008)
Vivemos tempos tão absurdamente tecnicistas, com as mais diversas possibilidades de inteligências artificiais, necessidades mercadológicas, emergências corporativas que esquecemos de viver o estado da arte. Todos somos seres subjetivos. Nossa essência é movida pela emoção. As memórias que dormem em nosso coração não são feitas da força do aço e do poder dos números, mas forjadas pela sutileza do sentimento, pelo instante mágico em que somos tocados pelo amor, pela arte, pela poesia.
Confira o artigo: https://nossabrasilidade.com.br/adelia-prado-aula-magna-o-poder-humanizador-da-poesia/#:~:text=Arte%20%C3%A9%20para%20o%20sentimento,E%20a%20arte%20revela.