O atendimento hospitalar no sistema público de saúde requer muita resiliência dos pacientes e familiares. Imagina percorrer 195 quilômetros para conseguir um leito de UTI. Essa foi a distância que a família de Jéssica Oliveira precisou percorrer. O esposo dela sofreu um acidente na cidade de São Miguel, mas a vaga para tratamento estava em Mossoró.
“Meu marido precisou de um cirurgião bucomaxilo facial e só tinha em Mossoró. Ele passou três dias internado em Pau dos Ferros até ser transferido. Ainda não sei quando ele volta para São Miguel, por que tem vários procedimentos ainda”, afirmou Jessica.
Se engana quem acha que a história de Jéssica é uma exceção. Na verdade, esta é a coisa mais comum de acontecer. É o que apontam os dados do Painel de Deslocamentos e Gastos Hospitalares dos municípios brasileiros, elaborado do Tesouro Nacional.
No RN, em 2021, foram realizadas 24.298 internações hospitalares – mas apenas em 31,3% os pacientes estavam na mesma cidade em que moravam. Isso quer dizer que sete em cada 10 pacientes precisaram ser internados fora dos domicílios.
Às vezes as cidades são vizinhas, mas não é incomum deslocamentos que passam dos 100 quilômetros. Alguns pacientes potiguares por exemplo precisaram de atendimento no Rio Grande do Sul e São Paulo. Sabe por que isso acontece? Por causa da própria estruturação da rede de saúde.
83 cidades do Rio Grande do Norte registraram todas as internações dos seus moradores em outro município. Apenas 12 cidades – recebem mais pacientes do que enviam para outros lugares.
Mossoró
Na segunda maior cidade do estado, Mossoró, 54% das internações são de pacientes de outros municípios. Em Pau dos Ferros, 81,5% são pacientes de outras cidades.
A “Capital do Oeste” recebeu 1.317 pacientes de outras cidades em 2021, e realizou 1.097 procedimentos de internação no SUS de pacientes da própria cidade. Apenas 143 mossoroenses foram fazer tratamentos em outras cidades.
Rede Suporte
Uma das instituições que ajudam as famílias durante estes tratamentos longe de casa é o Albergue de Mossoró, o Albem. Desde o início do funcionamento, a casa já recebeu 4.400 pessoas.
“Estas pessoas de outras cidades geralmente são caminhoneiros que sofrem algum tipo de acidente, famílias em trânsito que sofrem acidente e parentes de potiguares que moram fora e precisam voltar para ajudar o parente no tratamento”, diz Edson Oliveira, diretor do Albem.
O albergue já recebeu até mesmo pessoas que moram em todos países. “Recebemos uma pessoa de Cambridge na Inglaterra, um filho que morava lá há 20 anos e voltou para cuidar da mãe”, conta.
O Albem já deu suporte a pacientes de 124 cidade do RN (74% das cidades do estado), de outras 92 cidades de 17 estados do Brasil. Já tiveram pessoas acolhidas de Porto Alegre (RS), Manaus (AM) e Ji-Paraná (RO).