Está faltando poesia. No mundo. Nos meus dias. Poderia começar uma rima e emendar um verso, mas a prosa armou uma rede no alpendre da minha mente e estendeu sua colcha de retalhos no chão do meu coração.
As nuvens parecem acelerar o passo e cruzar o sol numa velocidade em que muitas vezes não dá tempo para a arte. Acordo na segunda-feira e num piscar de olhos já é domingo à noite. E tá tudo bem. A vida também é feita desses dias.
Escrever é um alento. Uma fuga dos ponteiros. São 19h15. O expediente já terminou, mas o texto pede passagem. Inquieta o pensamento e enquanto não se faz verbo não me deixa ir embora.
É como se eu precisasse subir à superfície para respirar um pouco do intangível. Nos centésimos de segundo entre uma palavra e outra, vou buscando na memória os instantes em que o poema se mostrava no meio da correria insana, que muitos de nós precisamos enfrentar. Mas ela está lá. Nas bandeirinhas coloridas, nas batidas da zabumba como o pulsar do coração, ou no sopro do fole que espalha os acordes da canção.
Nem dá tempo de ver direito,
de sentir no peito,
de limpar a vista na imensidão.
É tanto aperreio, dilema e problema.
Que a alma sofre e que a gente pena.
Mas na prosa desse calendário,
não pretendo marcar horário.
Quero cumprir meus compromissos,
sem que precise perder pra isso.
Se a poesia não nascer,
se a arte se esconder,
vou voltar desse mergulho,
vou jogar fora o orgulho
e procurar emoção.
Porque a prosa veste terno, segue regras, tem patrão.
Mas a arte é bicho solto, não tem relógio no braço,
só amor no coração.