O dia 18 de maio é dedicado à Luta Antimanicomial. A data marca o início do movimento no Brasil na década de 1970, que foi capitaneado por profissionais da saúde, integrantes de movimentos sociais e sindicados e de pessoas e familiares que passaram por internações psiquiátricas.
De lá pra cá, houve alguns atos e avanços em prol dessa causa como o fechamento de alguns manicômios, a criação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), a aberturas dos serviços substitutivos como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e o movimento das Conferências de Saúde Mental. O 18 de maio busca provocar a reflexão, sobretudo, por que os manicômios ainda existem? Quais as alternativas e as possibilidades que a minha cidade oferece para o cuidado em saúde mental?
O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer quando se trata do cuidado em saúde mental e um dos maiores desafios é a educação da população sobre essa temática. Você já parou para observar como conceitos ultrapassados e deturpados sobre a loucura permeiam o discurso coletivo? Por exemplo, o uso do termo “louco” em tom pejorativo para definir determinado comportamento de um colega ou empregar diagnósticos e normalizar nomes de medicações em piadas nos posts das redes sociais.
Diante de um cenário tão vasto de conceitos distorcidos é possível pensar de maneira crítica no impacto que tantos paradigmas infiltrados nos discursos da população podem causar no respeito e acolhimento das pessoas com algum transtorno mental? Percebe que estamos diante de um fenômeno tão insistente que busca a todo custo maquiar a loucura sem respeitar o diferente e sem uma perspectiva empática à dor do outro?
O sujeito que hoje é identificado e definido como “louco” fica em muitas circunstâncias a mercê da própria sorte. Nos diversos contextos ele é visto como alguém que perdeu a credibilidade em seu discurso e o respeito da condição humana, é apontado na rua e visto pelas autoridades como um problema social.
Os manicômios ainda existem porque a visão limitada dos ditos “normais” não permite questionar sobre as possibilidades e potencialidades desse sujeito. A loucura desafia todos a pensar, forçando-os a sair da zona de conforto, gerando provocações sobre o que está posto como certo ou errado, rompendo com padrões preestabelecidos e fazendo com que todo um sistema dominante e opressor se veja obrigado a pensar estratégias que possibilitem a aceitação do que foge do convencional.
O dia da Luta Antimonicomial deve ser uma data, especialmente, dedicada a desconstruir o manicômio que existe em cada um de nós, falas e conceitos equivocados sobre a loucura que além de não agregar em nada estimulam o estigma social dos que sofrem com essa condição.
Ao ler esse texto sintam-se convidados a pensarem sobre a ideia de disponibilidade afetiva, uma proposta que pode ser um caminho possível para a sociedade conviver melhor com a loucura, adotando uma conduta acolhedora e empática dentro de suas possibilidades, descobrindo as potencialidades que o dito “louco” tem dentro si.
A disponibilidade afetiva preceitua deixar de lado ideias e conceitos de normalidade prefixados pelo sistema vigente, além de proporcionar a construção de pontes aos que sofrem com algum transtorno mental para que estes possam ter seus direitos restabelecidos. E, acima de tudo, é imprescindível compreender que o cuidado em saúde mental não se faz sozinho, ele precisa ser compartilhado com uma rede fortalecida, aberta a acolher, e a sociedade como um todo deve ser corresponsabilizada.
*Esse texto teve a colaboração da psicóloga Rafaela Costa, referência técnica da política regional de saúde mental da II URSAP
Leilane Andrade
Psicóloga e Jornalista
CRP 17/6253
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