Na coluna anterior falamos, entre outras coisas, sobre as conveniências do imediatismo. Não me desprendi desse tema (ainda). No fluxo das mudanças, na velocidade alucinada dos ponteiros, não tenho repousado o tanto que gostaria nos braços do divino, na leveza celestial, nem tampouco nos devaneios da alma. O pragmatismo sentou-se no banco do carona e parece não querer ceder o lugar. É preciso, por vezes, pegar essa corrida. Mas com destino certo para esse dileto passageiro.
Neste espaço em que a tela aceita tudo o que meu teclado entrega, passo apenas por minha própria edição. Aqui, ao menos, sou eu quem decido. Decidir tem permeado minha escrita nos últimos dias. Penso que são muitos os momentos da nossa caminhada em que há sempre alguém pedindo por nossa decisão. Pequenas escolhas do dia a dia. Um prato num restaurante. Qual gravata usar. A cor de uma camiseta. Café com ou sem açúcar. É curioso perceber como somos requisitados.
Mas não é sempre assim. E tenho vivenciado bem esse entendimento. O escritor alemão Bert Hellinger disse certa vez: ‘as grandes decisões são sempre solitárias’. Essa frase já correu o mundo nas citações de outros autores. Faço uso também. Afinal, não há nada tão deserto quanto o momento das definições que podem mudar o curso do caminho. Quase ninguém está lá para arbitrar.
É uma experiência singular. Um verbo conjugado na primeira pessoa. Perceber-se só nesses instantes não é um problema. É sinal de que a jornada segue em direção a uma autonomia amadurecida. Somos desafiados a confrontar nossos próprios anseios, valores e convicções. As grandes decisões, aquelas que delineiam o rumo da nossa existência, exigem uma introspecção profunda.
Ao compreender que a solidão é parte integrante do processo, percebemos que não estamos verdadeiramente sozinhos. Somos acompanhados pelo eco das nossas escolhas, pela reverberação das decisões que moldam o caminho que percorremos. Assim, a jornada continua, e cada passo é uma oportunidade de afirmar quem somos e quem desejamos nos tornar.