Semana que passou recebi de volta um de meus livros que estava cumprindo seu papel nas mãos de amigos: ser lido. Mas gosto mais assim, quando eles vão e voltam. Apesar de todos terem um carimbo com o nome do proprietário, muitos seguem cumprindo sua missão e nunca mais apareceram (risos).
Pois bem, no livro em questão (Uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari) há um trecho bastante robusto que trata da “Revolução Cognitiva”. Um período da história humana, há cerca de 70 mil anos, em que os Homo Sapiens começaram a formar estruturas mais elaboradas de comunicação e relacionamentos chamadas de culturas. Esta Revolução Cognitiva foi uma das três (tivemos ainda a Revolução Agrícola e Revolução Científica) que definiram o curso da história.
Esse arrodeio todo é para dizer que a Revolução Cognitiva revelou a nós, homo sapiens, a capacidade de falar sobre tipos, entidades, seres nunca vistos, tocados, etc. “Lendas, mitos, deuses e religiões apareceram pela primeira vez com a Revolução Cognitiva” (Harari, 2018).
Essa particularidade de falar sobre o que não se vê é uma característica apenas nossa. Convivemos com o imaginário o tempo inteiro. E esse imaginário nos conduz em muitos e importantes momentos da nossa caminhada. Cada um a seu modo. Cada um com suas crenças. Cada um com suas referências e fundamentos para embasar as próprias convicções.
Lembro que já escrevi sobre o imaginário certa vez nessa coluna. A frase de Nietzsche – O mundo real é muito menor que o mundo da imaginação, é um pensamento que nunca cai em desuso. E hoje volto a falar sobre esse tema a partir da compreensão de Harari.
As sociedades se moldaram com base em modelos imaginários. Relatos criativos. Crenças. Subjetividades que nos sustentam. É curioso e intrigante pensar sobre isso. Em como todos somos frutos do imaginário. Dos pequenos roteiros do cotidiano aos fatos que interferem no rumo das civilizações.
Sei que minha divagação hoje está muito impalpável, mas esse é o assunto que vem me intrigando hoje. Como seria se tivéssemos tomado decisões com base apenas no real? Onde estaríamos? Aquele julgamento precipitado, aquela negativa, aquela viagem que não foi feita, a história que não foi vivida. Saindo no pessoal indo para o contexto mundial penso que muitas vidas poderiam ter sido poupadas pelo temor de supostas agressões, armadilhas, golpes, invasões.
Enfim, distante de todas as minhas crenças tenho pensado sobre isso. Como ser humano (que convive com o imaginário) e como jornalista (que deve por ofício se ater apenas aos fatos, ao real, ao tangível). Nessa dicotomia existencial me conforta ter a obrigação de transitar pelos dois caminhos. Experimentar a metafórica sensação do imaginário e dissecar as ásperas camadas da realidade.
Boa semana!
(moises@tcm10.com.br)