Começo meu texto de hoje com um pensamento que tem me acompanhado nesta semana inspirado pelo poeta Manoel de Barros, na obra “Livro sobre nada”. Andando devagar eu atraso o final do dia. Com a cortina dos olhos aberta, estática, tomei ao menos três cafés matutando sobre essa frase. Quando me dei conta de que quase não piscava, interrompi meu devaneio estático para tornar verbo o pensamento.
Hoje cedo, conferindo a data do jornal percebi que já estamos pertinho de concluir janeiro. E cá estou eu falando do tempo novamente. É curioso. Intrigante. O mês aparentemente passa ligeiro. Mas os dias demoram a cumprir seu curso. Este janeiro então, alguns dias foram intermináveis.
Mas vivemos. Vencemos. E venceremos.
Mas sonhar não é custoso. Vai que andando devagar a gente consiga adiar o fim do dia (quando assim desejarmos) e aproveitar mais os melhores instantes de cada volta do universo. A hora de acordar. Os primeiros minutos na cama ainda quentinha ouvindo a cantiga ritmada do bem-te-vi. O café da manhã sem pressa degustando cada palavra. Os momentos felizes de cada uma das 24 horas disponíveis. Vivê-los de novo e de novo uma, duas, três vezes… até pedir a música favorita no Fantástico e esticar o domingo até aonde o coração mandar.
O poeta entendia da vida. Seria mesmo incrível atrasar o final dos nossos dias memoráveis e carimbar nossa existência com o que há de mais genuíno em nós. O sentimento.