Marília Brandão, 12 anos, ganhou o primeiro celular de uma tia durante a pandemia. Mesmo antes de ter um aparelho próprio, ela já costumava navegar na internet pelo celular da mãe. Com as remotas, o tempo de uso da adolescente aumentou. “Eu já era apegada antes, após a pandemia comecei a usar bastante, tanto por questões escolares que precisou usar bastante, e também porque minha geração é apegada à rede social”, conta Marília.
Marília faz parte de 93% das crianças e adolescentes do Brasil, entre 9 e 17 anos, que são usuárias de internet. Essa porcentagem corresponde a cerca de 22,3 milhões de pessoas conectadas nessa faixa etária. O dado foi revelado pela pesquisa TIC Kids Online Brasil divulgada nesta semana.
De acordo com o estudo, houve um aumento no número de crianças e adolescentes com acesso à internet em 2021. O crescimento foi significativo na Região Nordeste: em 2019, 79% desse público tinha acesso à internet e esse número passou para 92% no ano passado. Também houve avanço nas áreas rurais, cujo acesso à internet passou de 75% para 90% nessa mesma comparação, e entre crianças de 9 a 10 anos, que saiu de 79% para 92%.
O celular é o dispositivo predominante entre as crianças e adolescentes para acesso à internet (93%), mas o estudo de 2021 também mostrou um crescimento significativo da televisão para essa utilidade (58%). Segundo o estudo, os celulares são a única ferramenta de conexão para 78% de crianças e adolescentes das classes D e E. Nas classes A e B, apenas 18% desse público faz uso exclusivo do celular para uso da internet.
As crianças e adolescentes dessa faixa etária são consideradas nativas digitais, pois já nasceram em meio as tecnologias e tendo acesso à internet. A psicóloga Mariana França explica que pelo fato de já crescerem imersas nessa realidade, essas crianças e adolescentes já lidam de forma mais natural com a internet, mas esse uso também pode causar um distanciamento dentro de casa.
“Eles se adaptaram de forma natural, foram crescendo junto com o avanço desses novos no meios de comunicação, né? […] A velocidade das informações, causa estranhamento. E causa essa esse distanciamento entre algumas gerações. Os pais e os avós acabam se sentindo muito mais distantes por causa dessa linguagem tecnológica das crianças de hoje em dia.”, explica Mariana França.
É o que acontece na casa de Marília. Eduarda Brandão, 19 anos, irmã da adolescente, diz que tanto ela quanto os pais se preocupam com o tempo que a caçula passa em frente às telas. Ela conta que o uso excessivo do celular pela irmã chegou a atrapalhar Marília na escola e em casa: “Uma coisa que a gente percebeu é que teve uma época que ela ficou de castigo e ficou sem celular, ela tinha começado a interagir muito mais com a gente de casa, a conversar mais, prestar mais atenção nas coisas que acontecia ao redor dela”, conta Eduarda.
A indicação dos especialistas é aprender a equilibrar o tempo do acesso, para estabelecer uma relação saudável com a internet e o com o celular e também aprender a selecionar melhor o conteúdo que é consumido. A psicóloga explica que essa responsabilidade cabe aos país das crianças e adolescentes, que precisam conversar sobre o limite do uso com os filhos.
“A comunicação entre os pais responsáveis e seus filhos menores de idade é fundamental para não só colocar uma imposição, mas sim conversar abertamente sobre porque que determinado conteúdo, por exemplo, para uma idade determinada não é recomendado. Aprenda a conversar com sua criança a respeito do porquê que ele não vai poder assistir determinado conteúdo, com a idade que tem. Isso é fundamental pra que isso seja aberto o diálogo entre a família”, explica Mariana França.