Na véspera de dia das crianças, mossoroense Viviane Clementino trouxe a filha Maria Alice pra escolheu seu presente. O principal desafio da mãe é conseguir economizar.
“Um sofrimento, né? Ela quer levar tudo. Eu só posso levar um, mas ela quer levar todos os brinquedos. Eu pesquiso tudo, olho onde é que tem os melhores brinquedos, os melhores preços”.
Se para Viviane a data é desafiadora, para o comércio é uma das mais aguardadas. O Dia das Crianças é um dos períodos mais lucrativos do calendário comercial, e só neste ano a estimativa era movimentar mais de R$ 340 milhões em todo o Estado. Esse número é da Pesquisa de Intenção de Compras realizada pelo Instituto da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (IFC).
O estudo desenvolvido pelo IFC traz informações que ajudam a nortear o mercado. É o que explica Michelson Frota, presidente do Sindilojas Mossoró.
“O IFC vem balizando todos os empresários que trabalham principalmente no ramo de vestuário, brinquedos, no varejo, através dessa pesquisa do Dia das Crianças. O diferencial dessa pesquisa, que a gente notou é que, 70% dessas pessoas vão deixar para comprar de última hora. E a gente, como líder empresarial, oriento as pessoas que tenham um atendimento melhor, porque quem vai de última hora realmente já pesquisou e aí você tendo o produto e tendo um bom atendimento, consequentemente você vai captar esse cliente”.
O estudo do Dia das Crianças é só um dos exemplos do trabalho realizado pelo Instituto Fecomércio. A entidade desenvolve diversas pesquisas econômicas, para fornecer informações referentes ao comportamento do consumidor potiguar aos segmentos do comércio, serviços e turismo. Para entender a dimensão da atuação do IFC, nós precisamos voltar um pouquinho no tempo.
Diretor de Inovação e Competitividade da Fecomércio, Luciano Kleiber relembra quando o Instituto foi criado, lá em 2009: “Ele surgiu basicamente para fazer uma única coisa. Naquela época a CNC, que é a Confederação Nacional de Comércio a qual a Fecomércio RN é filiada, realizava uma pesquisa de como tinham sido as vendas no comércio varejista. Naquela época a gente já tinha a PMC, que é a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, mas a CNC mantinha essa pesquisa nacionalmente e estimulava cada Federação a recolher seus dados de como tinham sido as vendas mensais. Então até o dia 10, mais ou menos, no mês seguinte, a gente juntava esses dados, tabulava e enviava para a CNC”.
Por volta de 2014, a pesquisa da CNC deixou de existir, mas conhecimento é poder, e a Fecomércio sabe disso. Na época decidiu manter as pesquisas, mas desta vez com foco nos consumidores e em datas importantes para vendas, como Páscoa, Dia das Mães, Namorados, Dia dos Pais, das Crianças e Natal.
“Aí não era mais uma pesquisa de como as vendas tinha se comportado, não era uma pesquisa pós-data, era uma pesquisa pré-data. Ou seja, a gente ouvia os empresários para saber qual era a expectativa de venda deles e também os consumidores qual era a expectativa de consumo”, explica Luciano.
Em 2019 a entidade passou a se chamar oficialmente Instituto Fecomércio. As pesquisas apresentadas por ele são como uma bússola para o comércio potiguar, e as informações coletadas ajudam a definir a direção do mercado.
Para este dia das crianças, por exemplo, o IFC identificou que ofertas e promoções seriam os principais fatores para determinar a escolha do presente. Foi justamente nisso que Fernanda Rodrigues, gerente de loja de brinquedos, apostou.
“É uma pesquisa importante para a gente poder saber o que o nosso cliente está em busca de comprar nesse período. Até para a gente poder se estruturar como loja e ter o produto que o cliente está procurando e para a gente poder acompanhar a intenção de compra deles. A gente também disponibilizou várias promoções, que promoção sempre atrai os olhos do cliente. E varia mais ou menos aí uma média de R$ 100 ou R$ 150 o produto”, fala.
Em 2012, o Instituto realizava 12 pesquisas ao ano, hoje o número supera a marca dos 70. São 50 pesquisadores e 10 coordenadores de campo envolvidos coletando dados que ajudam a ilustrar o cenário da economia potiguar. Um trabalho analisado cuidadosamente pelo estatístico Tiago Chacon.
“Geralmente as pesquisas são feitas em pontos de fluxo, pontos de movimentação, onde está a população economicamente ativa, os consumidores. Geralmente a gente aplica esses questionários em shoppings, em comércio de rua, em locais de grande circulação. E aí como é uma amostra, a gente não tem como fazer um censo, pesquisar todo mundo, nem todos conseguem participar”.
Com o tempo a Fecomércio viu a necessidade de ampliar o trabalho do IFC para levantar dados sobre um outro catalisador da economia do RN: o setor de eventos. Foi assim que festas como o Carnaval de Apodi, a Festa de Santa Rita de Cássia em Santa Cruz, a Festa de Santana em Caicó, o São João de Assú e o Mossoró Cidade Junina mostraram seu valor cultural também em números.
As pesquisas ouvem comerciantes e público, que analisam todos os aspectos dos eventos. Com os dados é possível identificar o que está dando certo, e o que precisa ser melhorado. São informações que influenciam no planejamento das festas.
“Através dessas pesquisas, você consegue, sim, saber de onde vem mais turista, o que é que eles estão mais comprando, qual é o maior gargalo de receber várias pessoas. Isso não vai nortear só o município, ele vai nortear um novo negócio, uma nova cadeia que pode se explorar na cidade, que até então não é explorada ou melhorada. Muito do Cidade Junina e muito do que estamos fazendo é fruto, sim, do que essa pesquisa tem dito”, afirma Pedro Fernandes, secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Mossoró.
Para Laumir Barreto, diretor executivo da Fecomércio, no caso dos eventos, os estudos foram fortes aliados para mostrar a potência que eles têm em movimentar a economia regional e impulsionar o turismo potiguar.
“Até muito pouco tempo se tinha questionamentos se valeria ou não a pena investir na realização de grandes eventos, principalmente quando a gente fala de eventos realizados por entes públicos, como prefeituras e Governo do Estado. A base desse estudo tem sido utilizado exatamente para mostrar a sociedade, para mostrar aos entes de fiscalização, o quão importante é investir em eventos principalmente pelo retorno que dá”.
Com o vasto conhecimento adquirido, o IFC se tornou referência em estudos estatísticos no RN. O diferencial está em não só coletar dados, mas analisá-los. Seja no comércio, nos serviços ou no turismo, o Instituto é capaz de orientar desde investimentos à abertura de novos negócios. É guiar quem faz a economia do Estado à luz do conhecimento.
“Para qualquer tomada de decisão de um empresário, ele precisa essencialmente de dados, seja onde instalar esse empreendimento, que tipo de produto e serviço ele vai colocar à disposição, e mais ainda, se esse empreendimento é ou não viável. A contribuição que a Fecomércio vem dado, não só traz informações, traz subsídios suficientes para uma tomada de decisão, e prova que investimentos estão sendo feitos de forma adequada”, fala Laumir Barreto.
Em 2024 a Fecomércio celebra 75 anos, destes, 15 com o Instituto. Apesar de jovem, ele prova a cada dia como o trabalho realizado é essencial dentro do universo da Federação. Mais do que números, o IFC ajuda a construir o caminho rumo ao desenvolvimento econômico do Estado.
“Com esse conjunto de informações a gente mostra à sociedade a relevância socioeconômica dos seguimentos que a gente representa, e nós só conseguimos fazer isso com base nos dados assertivos que o Instituto levanta”, finaliza Luciano Kleiber.
OUÇA A REPORTAGEM ESPECIAL: