Dizer que a segunda divisão é uma palhaçada vai ofender a muitos dirigentes, treinadores e jogadores que vivem este sonho ainda que de forma precária. Mas certamente vai ofender ainda mais o meia-atacante do Baraúnas de Mossoró: o Palhaço.
O sonho de Richardson Brunno, que hoje tem 24 anos, de se tornar jogador vem de criança, mas o apelido e profissão de palhaço vêm de berço. Ele nasceu em Assu/RN em uma família que é sinônimo de circo no estado.
Richardson é neto de Manoel Morais fundador do Circo Rio Grande do Norte – um dos precursores da arte circense no Rio Grande do Norte.
“Desde pequeno sou dividido entre dois amores: a vida circense e a vida esportiva. Sempre treinando durante o dia, e a noite nos picadeiros. Isso era motivo de briga com meu pai porque eu chegava atrasado ao espetáculo”.
A vida no circo te leva para lugares diferentes a cada temporada, Então, Richardson acabou tendo dificuldade de passar por times de base. Mas o sonho pareceu ficar mais perto em 2020, quando foi contratado para defender o time do Assu – da cidade onde nasceu. E apesar do contrato de dois anos, uma briga com o clube que acabou na justiça atrapalhou a carreira.
Ele até conseguiu uma vaga no Confiança da Paraíba para disputar a segunda divisão do Paraibano, mas o entrave de contrato com o Assu fez o sonho perder a graça. O palhaço, que faz rir, chorou de frustração.
“tive minha carreira paralisada, fui prejudicado”.
O palco deste ano para o Palhaço vai ser outro, não mais a primeira divisão, mas a segundona do estadual. Ele foi aprovado numa peneira do Baraúnas e já está morando e treinando com os jogadores que disputam no fim do mês o acesso a elite.
“Tô largando tudo, sai de Martins, bem dizer com meu pai me condenando por tomar esta decisão mais uma vez. De largar tudo para tentar ser jogador. O apoio que tenho é da minha esposa, filha e da minha mãe”.
Mas por enquanto, Richardson continua trabalhando como palhaço no circo do ‘tio’ Babalu, que por coincidência está bem próximo da Toca do Leão. Ele sabe que um dia vai ter que largar os picadeiros pra se dedicar ao sonho dos gramados.
“São as duas coisas que mais amo na minha vida: ser palhaço e jogar. O futebol transmite uma energia muito massa para os torcedores. É paixão, é amor, é vida. E o circo passa para o público as mesmas coisas. É uma experiência parecida”.
O palhaço venceu a ação trabalhista contra o Assu na justiça que pedia apenas a liberação para um novo contrato. Mas o Poder Judiciário entendeu que ele tinha outros diretos não cumpridos, mas não encontrou nada no nome do clube para fazer a quitação dos débitos. A boa notícia é que palhaço vai poder mostrar sua arte pelo Baraúnas sem problema.
Ah e durante as partidas, Richardson ainda não sabe como o treinador e a diretoria vai chamá-lo, mas ele já tem uma preferência.
“A minha vontade é ser chamado de palhaço. É minha essência, minha raiz. É uma coisa que não posso esquecer: de onde venho”.
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