*Produção: Pedro Ítalo
Antônio Denilson de Aquino treinou muito e se esforçou para ter uma chance no disputado funil do futebol. Mas como a maioria, aos 20 anos de idade decidiu abandonar o sonho de ser profissional. Mas de alguma forma, não é que Denilson hoje vive até mais intensamente a paixão pelo esporte. É que hoje, ele é presidente e dirigente do Filóis Futebol Clube.
Nunca ouviu falar? O time foi fundado em 2012, e teve origem num bloco de carnaval. No primeiro ano de existência, os atletas do time chegaram perto da glória. O Filóis chegou à final do ‘Xerenzão’. Nesta época, Denilson do Filóis era jogador e nem imaginava as loucuras que faria pelo time.
“Nos últimos quatro anos, a gente chegou entre os quatro primeiros. Ficamos em quarto e terceiro”, afirmou um orgulhoso Denilson.
‘Xerenzão’
O Xerenzão é um dos maiores e mais disputados campeonatos de futebol amador do Estado. O campeonato traz o melhor do futebol de várzea: comunidade envolvida, jogadores competitivos, arbitragem pressionada, provocações e um belo campo de terra batida.
Numa disputa deste campeonato, você pode encontrar de tudo. Gente que leva a sério e gente que está brincando. Tem jogador de talento e tem o esforçado. E não é raro ter jogadores que já foram profissionais, ou aqueles que estão sem oportunidade nos clubes.
O campeonato tem este nome por ter nascido e ser disputado no bairro Alto do Xerém, em Mossoró. Ser campeão é o grande objetivo, mas o vencedor ainda leva R$ 5 mil, e o vice do torneio R$ 3 mil.
Temporada 2022
Aquele ano, em que passaram tão perto do título, fez o grupo de amigos se profissionalizar. Em 2022, para celebrar os 10 anos de história, o time investiu pesado com o objetivo de vencer o torneio. No decorrer dos anos eles foram ganhando ‘status’ de time profissional: treinador, patrocinadores, reforços para a fase final do torneio…
Este ano, a cada anúncio da escalação do Filóis Futebol Clube, qualquer apaixonado por futebol de Mossoró poderia sonhar alto. O time estava recheado de jogadores que jogaram os últimos campeonatos estaduais. A escalação tinha nomes como o de Cristian Vinicius que já atuou no Potiguar, Baraúnas e Mossoró Esporte Clube.
Talvez a maior referência do time na temporada até a final foi o meia Jozicley. Ele é ídolo do Baraúnas com passagem pelo Potiguar, ABC, Globo, Assu, Corintians de Caicó entre tantos outros clubes da região.
A Final
Este ano, a final do Xerenzão era tratada como reparação histórica após tantas batidas na trave. Além da disputa pelo título no primeiro ano, o time já parou algumas vezes na semifinal. E para não restar dúvidas, foi contratada a cereja do bolo. A final contra o ‘Atlético 7’ teria a presença do maior ídolo da atualidade do futebol mossoroense: Márcio Mossoró.
Márcio decidiu ajudar o time no jogo final por ter nascido na mesma área que o Filóis representa do bairro. Márcio estudou no mesmo colégio de Denilson, a escola Raimundo Gurgel que fica no Alto do Xerém, e foi moldado no mesmo campo da final.
A ideia era simples, o meio campo que brilhou no Paulista de Jundiaí, ajudou o Internacional de Porto Alegre a ser campeão da Libertadores em 2006, o Braga ser campeão da Taça da Liga de Portugal em 2012, e ficou no Basaksehir da Turquia entre 2014 e 2020. Mole certo?
Mas ai… Uma falha da zaga no início do jogo fez os adversários abrirem o placar. O Filóis precisou suar a camisa, lançou mão da super arma, Márcio Mossoró para conseguir empatar a partida no segundo tempo. Não deu tempo virar, ficou no 1 a 1. A disputa foi pros pênaltis, aí vira loteria até para quem tem Márcio Mossoró no time.
O Filóis perdeu uma cobrança, e o jogo acabou em 5 a 3 para os adversários. Mas se engana quem acha que isso abalou o time. “Pelo contrario, estamos pensando em dar um salto a mais e levar o nosso time a participar do campeonato do Nogueirão, a Taça Mossoró em 2023”, afirma o dirigente Denilson.
Excentricidades
Um torneio de várzea sem figuras marcantes é praticamente impossível. Denilson já foi jogador, treinador, e agora é dirigente de clube. Mas desde que saiu das quatro linhas resolveu adotar um visual diferente para cada temporada.
As “fantasias” já proporcionaram momentos inusitados como roupa de frio as 3 da tarde de Mossoró num campo de terra batida. Já teve homem de ferro, pagodeiro, traje de banho, camisa social longa, gravata com bermuda, mas nada pode ser comparado ao traje da final deste ano. Denilson entrou em campo de terno preto e gravata borboleta.
“Aluguei, pois eu tinha que ir vestido a caráter nessa final de gala. A ideia do terno veio do [estilo] jogador Daniel Alves, lateral da seleção brasileira”, justificou.
Uma das melhores cenas do Xerenzão 2022, certamente é a comemoração de Denilson após o gol de empate:
Fãs da várzea
Você sabia que existe uma galera fã de futebol de várzea? Fenômenos como Luva de Pedreiro, ou o nosso luva de borracheiro, residem um pouco nesta cultura do futebol de campo de terra batida e nenhum glamour.
Um dos divulgadores mais importantes desta cultura no estado atende pelo nome de ‘JP Silva’. Até o ano passado a coisa era muito amadora. “Este foi o segundo ano que transmiti o Xerenzão. No primeiro ano era bem simples… minha bateria era muito fraca, descarregava logo. Mas eu gravava o jogador, voltava para casa e postava o jogo”, comentou JP.
Simples ne!? Mas esta divulgação atraiu um público importante nas comunidades. O início foi no bairro dos Teimosos, onde vive JP, mas caiu no gosto de toda a região. Ele contou com o apoio de jogadores como Márcio Mossoró e do assuense Garbiel Veron.
“Eu troco uma ideia com Gabriel Veron. Inclusive ele disse que quando vier de férias, vem pra Mossoró fazer um jogo aqui, e quer que eu vá fazer a transmissão.”
Qualquer campeonato de bairro, de futsal, x1 ou x2 podem parar nas redes sociais de JP. Lá, ele se descreve como criador de conteúdo digital – “a voz da várzea”. São mais de 12 mil seguidores em uma única rede social.
“O que dá mais visualização não é o jogo em si. É o personagem diferente, é a provocação entre jogadores. A onde vou tem um personagem interessante”, analisa JP Silva.
Hoje JP vive exclusivamente do trabalho de criador de conteúdo. O menino sem muitas oportunidades encontrou com um celular na mão como melhorar de vida. “Hoje eu tenho três parceiros que me apoiam. Graças a Deus vivo disso, só das redes sociais.”
E um diferencial é estar em cima do lance, bem de pertinho… bem de pertinho mesmo. A transmissão acaba mostrando a pressão feita pela torcida nos jogadores – sem qualquer distância gerada pela arquibancada. Não escapa ninguém, nem campeão da libertadores:
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