Foi a decisão de uma família que ajudou a mudar a vida de Larissa Anielle Vale, 44 anos. Desde 2007, quando precisou fazer uma cirurgia bariátrica, a advogada dedica uma atenção especial à saúde. Na época do procedimento, os médicos identificaram no pós-cirúrgico uma mancha no rim de Larissa, mas disseram que não era motivo de preocupação no momento.
Contudo em 2018, através de exames de rotina, a advogada soube que a alteração no rim evoluiu a ponto de precisar de um transplante. “Eu procurei uma médica particular e assim que entrei na sala, ela já disse que meu caso era pra transplante. Em abril de 2018 eu comecei a fazer hemodiálise e com dois anos e meio que eu estava na fila de transplante, consegui uma doação”, conta Larissa Anielle.
O transplante de rim aconteceu em setembro de 2020. A maior parte do tratamento de Larissa foi feita através do plano de saúde, mas somente no Sistema Único de Saúde, foram possíveis alguns exames e medicações, e o órgão foi transplantado.
O Rio Grande do Norte, por exemplo, é o 5º estado do Nordeste com maior número de doações. Em 2022, foram realizados 335 transplantes, sendo 129 de córneas, 162 de medula óssea, 39 de rins, dois de coração e três de pele. Já este ano, foram 84 procedimentos de córnea, 29 de rins e três de coração.
A Sesap regula a captação de órgãos, prioritariamente, em duas unidades da rede estadual, o Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), em Mossoró, e Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG), em Natal.
Para receber um órgão, a pessoa precisa ser inserida no Serviço Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde. O paciente passa a fazer parte de uma lista única de espera, e a posição é definida por critérios técnicos, como tempo de espera e urgência do procedimento, compatibilidade sanguínea e genética entre doador e receptor. Em alguns casos, a região do país onde a pessoa está pode influenciar, já que os órgãos tem um tempo limite após a captação.
Hoje, quase três após receber um novo rim, Larissa Anielle conta que leva uma vida normal, mas com cuidados tanto com a alimentação, como com medicações. “Minha vida hoje é normal. Eu posso comer tudo, eu posso fazer tudo, mas preciso ter cuidados. Hoje eu faço mensalmente os exames para verificar a saúde como um todo”, conta.
Como alguém que já foi beneficiada pelo transplante, hoje a advogada fala da importância de conversar com a família sobre o desejo de ser um doador. “Quando você está ali naquela situação que a sua família quem precisa decidir, é essencial que ela saiba. No meu caso, foi a família que tomou a decisão de doar. Então importante não só a conscientização individual, mas principalmente a conscientização da família. De você informar a sua família, que caso aconteça alguma coisa, doe os seus órgãos”, afirma Larissa.
Mais de 900 potiguares estão aguardando na lista por um transplante de órgão. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN (Sesap), são 592 pessoas na espera por córneas, 327 por rins, 19 aguardando por medula óssea e apenas uma pessoa esperando por um coração.
Além de outros fatores, a redução desses números depende das famílias de possíveis doadores, que a partir da autorização, conseguem ajudar a salvar vidas. “Mudar esse cenário depende da doação de órgãos, possível apenas a partir da aceitação e autorização dos familiares. É importante cada um ter a consciência da importância de doar e comunicar esse desejo à sua família. Ser um doador é um gesto de amor fraterno e respeito à vida”, destaca a coordenadora da Central de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), Rogéria Medeiros.
SAIBA COMO DOAR
Para ser doador de órgãos basta expressar em vida aos seus familiares esse desejo, não sendo necessário nenhum documento oficial.
As famílias de possíveis doadores são assistidas por equipes especializadas que orientam como proceder para permitir a doação de órgãos. Esse processo ocorre da seguinte forma: quando é fechado o protocolo de morte encefálica, detectando a morte do paciente, a equipe especializada do hospital procura sua família para comunicar o acontecimento e conversar sobre a possibilidade da doação de órgãos, indagando sobre o desejo e a permissão de doar. Em seguida, a família assina um documento, dando a permissão para que a doação aconteça.
Logo após essas etapas, uma equipe captadora, composta por cirurgiões, irá avaliar o paciente e proceder com a captação dos órgãos. Esses órgãos são encaminhados para o Serviço Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde, no qual são inseridos em uma lista para classificar quem receberá os órgãos doados.
Quanto a essa lista, após avaliação pelo médico especialista credenciado no SNT, o paciente é inserido em uma lista única de espera, e fica no aguardo para a indicação de realização do procedimento. Ao ser inscrito, o paciente recebe um número, chamado Registro Geral da Central de Transplantes (RGCT), com o qual pode consultar sua posição na lista de espera, por meio do site: https://snt.saude.gov.br/.
Trata-se de um processo complexo, do qual participam três diferentes equipes de profissionais: aquela encarregada de realizar o diagnóstico de morte encefálica, a equipe de captação e a de transplante, garantindo assim a imparcialidade dos procedimentos.
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