Você já teve dificuldades para dormir? Já precisou usar medicamento para ter uma noite de sono? Já ouviu falar em Stilnox ou Patz? Se as respostas forem não, a verdade é que pessoas como você são cada vez mais raras.
Estes medicamentos são os mais famosos entre os que tem como princípio ativo o ‘hemitartarato de zolpidem’. O zolpidem é um medicamento de curta duração, que atua no sistema nervoso central e é utilizado para tratamento de insônia. O zolpidem também muitas vezes, é utilizado para ajudar no tratamento de transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade.
“Realmente o consumo do Zoopiden que é uma medicação usada para induzir o sono normalmente tem aumentado. Essas alterações do sono, geralmente podem ser um sintoma secundário, algum outro transtorno, um quadro depressivo, quadripolar além de maus hábitos, como o uso de tela, consumo de termogênico, cafeína ou Coca-Cola”, explica Geilne Queiroz, psiquiatra.
Segundo a profissional a pandemia também contribuiu para um aumento da ansiedade, o que consequentemente pode causar uma piora do sono e o imediatismo. “As pessoas são muito imediatistas. No lugar delas corrigirem os hábitos, aumentam o consumo de medicações tarja preta como por exemplo Clonavepam, Alprazolan, Diazepam muito usadas porque tem o efeito rápido elas”, destaca.
A segurança para o paciente fez ele se tornar um dos mais receitados para estes casos, mas a coisa parece que saiu do controle. Entre 2014 (ano da Copa do Mundo no país) e 2021 (auge da pandemia de Covid no Brasil), apenas no Rio Grande do Norte, houve aumento de 675%.
Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em 2014, entre janeiro e novembro, foram 18.473 frascos e caixas do medicamento vendidos no Estado, contra 143.199 apresentações dos mesmos princípios ativos no mesmo período de 2021.
Alerta ligado
O uso desenfreado da medicação despertou preocupação até mesmo das farmácias que vendem os produtos. Uma das maiores redes do país, a Pague Menos, chegou a realizar reunião com gerentes para tentar entender o aumento repentino da venda de medicamentos durante a pandemia aqui no Rio Grande do Norte.
A procura é tanta que não é difícil, encontrar as farmácias desabastecidas de Zolpidem. “Às vezes, chegam pessoas no balcão pedindo oito caixas. Então tem sempre gente que liga para confirmar se temos no estoque”, afirmou uma atendente de uma farmácia de Mossoró.
Outro fato que tem incomodado as farmácias são as quantidades pedidas nas receitas – consideradas altas. Em conversas informais no balcão, as atendentes costumam escutar relatos de pessoas que não dormem sem o medicamento, e que precisam de 3 ou 4 doses para dormir.
De acordo com a psiquiatra o maior problema é que às vezes as pessoas fazem uso de forma abusiva. Confira a fala completa de Geilne Queiroz no áudio:
Relatos de efeitos colaterais
Na internet, o medicamento é relatado como responsável por diversas gafes e ‘memes’. Nos relatos nas redes sociais, não é difícil encontrar relatos de pessoas que acordam após tomar o remédio e que não lembram das ligações que fez, ou mesmo de compras feitas pelo celular.
Dois dos efeitos famosos nas redes sociais estão descritos em bula: o sonambulismo e a chamada amnésia anterógrada, o famoso “apagão”. A pessoa pode conversar, fazer compras, falar ao telefone, e não se lembrar de nada. Mas é importante destacar que os efeitos nem sempre vão aparecer nos pacientes.
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O remédio ficou famoso nas redes sociais ao ser associado a alucinações e a perda de memória. Recentemente, até discussão política teve a medicação como alvo. O ex-presidente Jair Bolsonaro alegou em depoimento que postou coisas sob o efeito da medicação.
Dados em risco
Os dados até novembro de 2021 são os mais recentes. O Governo Federal decidiu suspender no fim de 2021, o prazo para transmissão destes dados ao sistema. Mas as informações sobre vendas ainda precisam ser guardadas pelas farmácias. Uma portaria da Anvisa também determinou que a partir de dezembro de 2022, estas informações seriam repassadas de forma voluntárias.
O Zolpidem pode ser receitado por médicos (CRM), odontólogos (CRO), médicos veterinários (CRMV) e também por médicos estrangeiros com Registro Ministério da Saúde (RMS).
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