Percussão, fantasia e animação, assim são os desfiles dos ursos, tradição de Carnaval de Mossoró. Mesmo sem grandes festas carnavalescas na cidade, a presença dos ursos nas ruas mossoroenses anuncia a chegada da festa e mantém fortalecida a cultura dessas figuras folclóricas.
Em sua grande maioria, os desfiles dos ursos consistem em pessoas fantasiadas dançando ao som de percussão, com tambores e taróis. Não se sabe ao certo quando a tradição de fato começou em Mossoró, mas a inspiração, de acordo com o historiador Geraldo Maia, vem do carnaval pernambucano.
“Quem fez, com certeza se inspirou numa das brincadeiras mais estimadas do carnaval do Recife que é a La Ursa; o urso do carnaval cujas origens encontra-se nos ciganos da Europa que percorriam a cidade com seus animais presos numa corrente, que dançavam de porta em porta em troca de algumas moedas, ao som da ordem: “dança la ursa!”, explicou Geraldo em um artigo publicado no jornal O Mossoroense.
A cultura dos ursos faz parte da vida de Márcio de Aquino desde quando ele ainda era pequeno. A família que sempre foi envolvida nos festejos carnavalescos, vestia as crianças com as fantasias para desfilar todos os anos durante a época do carnaval, no Bairro Santo Antônio.
“Somos uma família carnavalesca e desde pequeno venho levando essa tradição dos ursos para a cidade de Mossoró e para toda a comunidade. Na minha família, os meninos e as meninas todos participavam. Há alguns anos fomos um um dos melhores ursos e todo ano ganhávamos o concurso promovido pela Prefeitura de Mossoró”, conta Márcio.
O carnavalesco já participou de diversos grupos. Atualmente ele é presidente da Escola de Samba Portela Mossoroense, e carnavalesco dos blocos de frevo Explosão Potiguar e Mocidade do Frevo, e dos ursos Futurístico e do Meu canarinho, de Mossoró. Com o crescimento dos grupos, a Escola passou a desenvolver um trabalho social. A partir de oficinas ofertadas para as comunidades dos Bairros Santo Antônio e Bom Jardim, pessoas de diversas idades aprendem a tocar percussão, a confeccionar adereços, a pintar e dançar.
“A gente abre inscrições para toda a comunidade, para que os meninos possam participar do projeto dos ursos. A gente ensina como vestir a roupa, como tocar os instrumentos. A gente sai pelas ruas, todos padronizados, todo mundo arrumadinho. A gente tem as oficinas de percussão dia de terça e quinta, e a gente marca também as apresentações. Já andando pelas ruas, a gente se reúne e conversa com os meninos porque uma parte estuda, outros trabalham, mas aqueles que podem a gente sai, principalmente nos finais de semana”, explica Márcio de Aquino.
São mais de 40 integrantes que participam o grupo, de crianças à idosos com 78 anos. As fantasias são confeccionadas, em sua maioria, pelos próprios participantes, mas algumas precisam de uma forcinha de costureiras.
Alguns ursos saem às ruas e durante os desfiles costumam pedir dinheiro de porta em porta. O carnavalesco explica que não costuma incentivar os grupos que fazem parte da Escola Portela, já que o intuito principal é envolvimento cultural com a manifestação folclórica.
“Eu nunca gostei que a gente saísse às ruas para pedir dinheiro. A gente sai por gostar, pra mostrar nossa cultura. Mas também tem alguns momentos que meninos pedem autorização para arrecadar o dinheiro, e eu deixo. Eles ganham o dinheiro deles, eu recolho, e quando é para fazer a divisão, eles mesmos dividem entre eles. Alguns são pessoas da periferia, que a gente busca ajudar, que a gente dá apoio e incentivo”, fala o carnavalesco.
Para o Márcio, o trabalho que é desenvolvido não só em fevereiro, mas durante todo o ano, vai muito além da brincadeira. É uma forma de transformar a vida de crianças e adolescentes, e de manter viva a tradição mossoroense, passando para outras gerações.
“Esse tipo de trabalho mantém a cultura, não só para mim, mas para toda a comunidade. Eu quero manter essa tradição dos ursos no Carnaval de Mossoró e mostrar meu trabalho na avenida, mostrando a irreverência, o entretenimento para as futuras gerações e trazer esses jovens para o nosso barracão. Trazer esses jovens, para que eles ocupem suas mentes, para não se perderem do caminho do bem”, diz Márcio de Aquino.