A missionária potiguar Ednaria Holanda Ferreira, natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte, compartilhou sua experiência em meio à transição política na Síria e à reconstrução do país após o terremoto que devastou a região em 2023. Ednaria, que atua como consagrada do Movimento dos Focolares, chegou ao país logo após a tragédia, encontrando um povo marcado por 13 anos de guerra civil e, mais recentemente, pela queda do regime de Bashar al-Assad.
O Movimento dos Focolares, também conhecido como Obra de Maria, é um movimento leigo da Igreja Católica que tem como objetivo a unidade entre as pessoas, como pedido por Jesus na Bíblia, “para que todos sejam um”.
Em relato, Ednaria descreveu a difícil realidade local, marcada por escassez de eletricidade, água e alimentos, além de sanções econômicas que agravaram a situação do país. “No início, parecia impossível viver com duas horas de eletricidade por dia, mas o povo sírio se adapta com muita fé e simplicidade”, contou Ednaria. Ela destacou o uso de painéis solares e baterias para garantir o mínimo de energia, além da necessidade de lanternas para caminhar pelas ruas durante a noite.
Sobre a cultura local, a missionária observou a força espiritual dos sírios, que descrevem seus familiares mortos em combate como “mártires”, em uma demonstração de fé e resiliência. “As igrejas aqui estão sempre cheias, mesmo após tanta dor”, acrescentou.
Ednaria também relatou os momentos de tensão durante a ofensiva rebelde que culminou com a queda do regime Assad. “Estávamos em um dia normal de trabalho quando começamos a ouvir explosões. Em poucas horas, a vida mudou para todos”, disse. Apesar das incertezas, a missionária destaca a tentativa de retorno à normalidade, com jovens visitando idosos e retomada gradual das atividades sociais e religiosas.
Com o fim da dinastia Assad, que durou mais de 50 anos, a Síria vive um período de transição. O grupo rebelde Hayat-i-Hashan, responsável pela tomada de Damasco e pela saída de Assad, traz esperanças cautelosas para o futuro político do país, enquanto a ONU monitora o cenário.
Ednaria não pretende deixar a Síria em definitivo no momento, mas deseja vir para o Brasil para celebrar os 90 anos de seu pai, João Holanda. Porém, no momento, está impossibilitada de sair do país pois as fronteiras estão fechadas.
Apesar das situações as quais teve que se adaptar, a mossoroense reforça a importância de viver com o básico, com o essencial: “Faltam tantas coisas aqui, mas aprendi que o mais importante é o momento presente, o amor, a proximidade com o outro e a simplicidade de viver.”
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