Quando começou a auxiliar uma parteira na década de 40, aos 17 anos, Maria Correia não sabia o significado da palavra sororidade, mas já o colocava em prática.
Desde muito jovem, a mossoroense começou a se dedicar ao ofício. Na sua residência, no Bairro Barrocas, havia um cômodo com diversas camas distribuídas, onde as mulheres grávidas eram acolhidas. Lá, Maria Correia realizava os partos de forma voluntária e só deixava as mulheres irem embora após estarem bem e prontas para seguir com o puerpério.
Não se sabe ao certo quantas crianças Maria Correia ajudou a trazer ao mundo, mas os conhecimentos e experiências adquiridos por ela, fizeram com que a mossoroense se tornasse uma referência de parteira na cidade. O trabalho dela era voltado, principalmente, à mulheres pobres.
“O trabalho que ela desenvolvia era de atender aquelas mulheres que estavam desassistidas pelo Estado, quando ela começou não existia o SUS, portanto o acesso ao serviço de saúde era bastante limitado e acabava excluindo a maioria da população. Principalmente aquelas pessoas mais desfavorecidas”, conta Lara Beatriz Ventura, bisneta de Maria Correia.
Maria Correia teve como missão de vida cuidar de mulheres quando ninguém mais o fazia. A parteira morreu em 2007, aos 69 anos, mas sua história foi eternizada. Isso porque o Hospital Regional da Mulher de Mossoró, inaugurado em dezembro do ano passado, carrega o nome dela, como forma de reconhecer o importante trabalho desenvolvido pela parteira. Motivo de orgulho para as mulheres que carregam o sangue de Maria.
“O fato do hospital da mulher carregar o nome dela é um motivo de orgulho para mim e para minha família, pois além do nome, entendemos que é uma repercussão do legado dela, como um símbolo na assistência para aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade”, diz Lara Ventura.
UM LEGADO QUE TRANSCEDE
A parteira Maria Correia teve cinco filhos, entre eles o avô materno de Lara Ventura. A estudante conviveu com a avó até os 6 anos de idade, mas quando as lembranças se mostraram insuficientes, os relatos das pessoas ao redor se fizeram importantes. Lara cresceu ouvindo as histórias do trabalho desenvolvido pela bisavó. A admiração despertou a curiosidade dela para saber mais sobre partos e sobre saúde da mulher.
“Sempre gostei de ler sobre. A partir disso entendi essa curiosidade como uma motivação pra escolher uma profissão que fosse voltada pra área da saúde”.
Foi assim que Lara Ventura decidiu cursar enfermagem. Hoje, aos 22 anos, está no 6º período do curso na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Através da parceria do Governo do RN com a Universidade, os estudantes da UERN realizam atendimentos no unidade. Isso permitiu que parte da formação de Lara seja nos corredores dos Hospital que carrega o legado da sua família.
“Com a faculdade tive a oportunidade de participar da elaboração do caderno de boas práticas do Hospital. Também desenvolvemos atividades educativas e temos atendimento no ambulatório da faculdade”, conta a estudante de enfermagem.
A meta de Lara é terminar o curso e fazer uma especialização na área de saúde da mulher. Ela pretende, assim como sua bisa, dedicar sua vida à união, companheirismo e empatia feminina. Ser uma mulher que cuida de mulheres.
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