(Em colaboração com Emanuela de Sousa)
Educação como ferramenta de reintegração social, uma forma de transformar a vida de pessoas que vivem privadas de liberdade, custodiadas do sistema prisional do Rio Grande do Norte. A penitenciária Mário Negócio foi palco nesta sexta-feira (31) de uma cerimônia de colação de grau de uma aluna do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). A estudante concluiu o curso de nível superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, do campus Natal-Zona Leste.
A cerimônia foi presidida pelo reitor José Arnóbio e contou com a presença de familiares e convidados. “Primeiro que são poucas as instituições públicas federais que atuam nessas ações de ressocialização no sistema carcerário. Então uma ação como essa hoje se materializando, eu, enquanto reitor da instituição podendo estar neste momento aqui me deixa muito feliz.”, explica José Arnóbio, reitor do IFRN. Ele não despreza a esperança de que um dia o sistema carcerário sequer existe, e de que as pessoas possam se formar dentro das salas de aula de uma instituição de ensino, como todas as outras: “Apesar de que o sonho é de que um dia a gente não tenha sistema carcerário, que as pessoas possam viver livremente e que a gente possa ter um país mais igual, mais humano, mais justo e fraterno para que as pessoas não precisem passar por uma situação como essa.”
Na Penitenciária Agrícola Dr. Mário Negócio, está custodiado parte dos alunos da educação superior do IFRN. Esta é a terceira colação de grau que acontece. A diretora do pavilhão feminino da penitenciária, Áquida Larissa, explica a importância da assistência à educação dentro do presídio. “Essa interna está concluindo o ensino superior pelo IFRN, inclusive, já está matriculada numa especialização. É uma data muito importante, e que a gente consiga avançar muito mais”.
“Nenhum cadeado ou grade pode tirar de nós o conhecimento, que possamos ter gosto em buscar esse conhecimento.” Essa frase é da agora formada em Tecnologia e Gestão Ambiental pelo IFRN, que tem muitos planos para o futuro e vê na educação uma chance de transpassar os muros da instalação de segurança máxima.
“Ela foi uma aluna excepcional ao longo dessa trajetória de três anos, e é uma conquista muito grande para o IFRN na promoção de sua política de inclusão social, de desenvolvimento social. E essa aluna representa pra gente um grande passo pra instituição, representa um grande passo pra sociedade, um exemplo de que nós podemos investir em educação para pessoas privadas de liberdade e que é possível dar a elas uma outra possibilidade, uma outra perspectiva de vida, tirando elas das referências que as trouxeram pra cá”, declara o professor Francisco Augusto.
A cerimônia, dedicada à concluinte do curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, contou com a presença da ouvidora da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap), Wilma Paixão. “Através da educação a gente percebe que a sociedade vai ter a Seap integrada não uma Ceap separada do todo. A educação possibilita essa visão de uma secretaria articulada com todas as outras secretarias, principalmente a Secretaria de Educação.”, declara a ouvidora.
No futuro, a ideia é ofertar outros cursos, dando a oportunidade para que a educação continue sendo o divisor de águas na vida de quem passa pelo sistema prisional.
“Nós temos hoje um número considerável de pessoas já cursando o nível superior não só no IF, como agora nós temos uma turma para pós-graduação. Então isso a gente vem colhendo, é devagar, não é imediato, não é instantâneo, como as pessoas querem nessas pressas de ter uma prova de que a educação é exitosa, mas nós temos colhido nesses últimos sete anos bons resultados e isso vem nos impactando na pena do preso porque a instrução vem trazendo uma modificação do espírito dessas pessoas no comportamento e também um alento pela redução da pena”, expressa a juíza da 3ª Vara Regional de Execuções Penais, Cinthia Sibele.
Quando cumprir toda a pena estabelecida, a agora gestora ambiental pretende seguir estudando e, quem sabe, repassar seu conhecimento adiante. Para o reitor do IFRN, a educação pode transformar as vidas das pessoas que são marginalizadas pela sociedade. “Paulo Freire já dizia que é educação sozinha não muda o mundo, mas sem ela a gente não tem possibilidade nenhuma de transformação, então eu acredito nisso, acredito que através da educação a gente possa mudar uma realidade social. Através da educação a gente pode fazer com que pessoas que vivem à margem da sociedade, elas possam fazer com que seus sonhos se transformem em realidade.”, conclui o reitor José Arnóbio.