Por Alexandre Fonseca
Manifestação cultural, arte marcial, dança, música, são apenas algumas das formas de denominar a capoeira. Titulada também como expressão artística, faz parte de um movimento que surgiu com a resistência dos povos negros escravizados contra a opressão.
Ao longo dos anos, vem sendo desmistificada e trabalhada em diversos aspectos, como na educação, nos valores, princípios e na regionalidade. A capoeira é uma arte sensível e inclusiva, que permite ser aplicada em vários ambientes.
Grupo “Nova Geração Ginga de Capoeira”. Fotos: Alexandre Fonseca.
Prova disso, é que em Mossoró (RN), está sendo base para um projeto social que tem transformado a vida de jovens do Bairro Barrocas. De segunda a sexta, a partir das 19h, a Escola Municipal Professor Antônio da Graça Machado, abre suas portas e se torna o palco para crianças, adolescentes, homens e mulheres, aprenderem sobre uma luta que representa não só a defesa pessoal, como reflete a resiliência, o respeito pelo próximo e o crescimento espiritual.
“Nós fazemos aqui, o projeto da capoeira com grupo ‘Nova Geração Ginga de Capoeira’. Contamos com uma média de 35 alunos. Um projeto que já acontecia aqui e dei continuidade em 2015, quando o antigo professor precisou se mudar para outra cidade”, explica Weslley Lima, Mestre denominado Graduado Abel.
Antônio Guilherme, 12 anos, praticava a arte marcial antes mesmo de ingressar no grupo. Através de um amigo, assistiu uma aula, gostou e ficou de vez. A capoeira promoveu modificações na sua rotina e no comportamento. “Eu vivia na rua, ficava de castigo por desobedecer a minha mãe, quando comecei a fazer a capoeira, fiquei mais obediente. Eu acho muito bonito os movimentos, o respeito que temos um ao outro”, descreve.
José Wilson, 18 anos, é membro da iniciativa desde outubro de 2023, indicado por um amigo. “Com a capoeira, treinamos os movimentos, temos o momento da diversão, das brincadeiras, de fazer amizade, a cantar, tocar instrumentos…”, disse. Wilson relatou ainda, um pouco da sua evolução pessoal. “Eu tinha muita dificuldade em fazer amizades, de conversar, ficava mais no meu canto. Sinto que melhorei, fisicamente, converso mais, tenho mais conhecimento sobre a arte”, declara.
Representação feminina
Adnna Jackelyne, 28 anos, é uma das figuras femininas presente na equipe. Teve o primeiro contato com a capoeira ainda criança, aos 8 anos de idade. Passou por várias atividades sociais até chegar no grupo “Nova Geração Ginga de Capoeira” e vem aprimorando suas técnicas com a modalidade, a partir dos ensinamentos que exercita no projeto.
Por ser mulher, Jackelyne expõe que diariamente vence tabus e prejulgamento. “Tem pessoas que acham que a gente faz capoeira para brigar, eu a utilizo como minha defesa, em caso de necessidade. Tenho a consciência de que não posso usar a nossa dança pro mal. Já passei por várias situações de resistência e preconceito, mas, não me afeta. A capoeira é algo que todo gênero pode fazer, é uma dança, um jogo, uma arte”, esclarece.
“Tem que ter a disciplina, o respeito, tem que ter tudo. É uma coisa contagiante, que toca na alma. A capoeira para mim, é uma terapia”, constata.
EduCap (Educação na Capoeira)
Além da prática da capoeira, Graduado Abel também aplica nos seus alunos, ensinamentos essenciais de educação. O projeto tem um momento em que os capoeiristas sentam um ao lado do outro, montam uma roda, param e aprimoram suas leituras: o EduCap.
Projeto “EduCap”. Fotos: Alexandre Fonseca.
“O intuito é tirar as crianças da rua, ensinar um pouco a brincadeira e, ao mesmo tempo, a importância da leitura. Temos o nosso momento de oração, independentemente de qualquer religiosidade, a gente agradece pela vida. Fazemos algumas dinâmicas coletivas, sobre oferecer ajuda a quem precisa. Aqui eles se divertem, porém, desenvolvem o respeito, a solidariedade e o cognitivo”, explica o professor.
Adson Bernardo, 10 anos, conheceu a capoeira no início de 2024, incentivado pelo primo. Após ter começado a fazer parte do projeto, nota mudanças no seu desenvolvimento. “O professor me coloca pra ler e ele diz que é pra aprender a falar melhor em público. Estou melhorando minha leitura e perdendo a vergonha”, conta.
Davi Miguel, 12 anos, também teve seu primeiro contato com a arte marcial no início do semestre. Foi por meio da capoeira que ele progrediu socialmente. Aprendeu a interagir, ser mais extrovertido, tinha medo de conversar com os graduados e hoje, a realidade é outra. Sua evolução também está ligada ao EduCap. “Eu já sabia ler, mas, gosto de participar. No EduCap, a gente ler coisas relacionadas a história da capoeira e aprendo muito com isso. A capoeira, esse projeto, é uma chance de fazer algo bom. O professor nos ensina a respeitar, a ser educado, a não procurar briga, não ter intolerância religiosa, o que importa é chegar, respeitar todo mundo, não só aqui, como fora! Faça capoeira, vai te ajudar muito”, incentiva.
“Tenho orgulho do que esses jovens estão se torando. Entram no projeto agitados e com o tempo, vão aprendendo a esperar a sua vez de falar, a ficar em filas, a respeitar… A capoeira para mim hoje é minha vida, a minha família são essas crianças aqui, minha alegria maior do mundo unir minha família de casa e eles, são uma só. Capoeira é minha paixão”, conclui o Mestre.
Grupo praticando capoeira. Fotos: Alexandre Fonseca.
Conheça mais sobre a “Nova Geração Ginga de Capoeira”, visitando o Instagram @nggcmossoro.
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